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Comportamento, saúde e obesidade

Opinião|Os vícios funcionam como amortecedores das dores emocionais

Não há nenhum meio de se curar que não seja encarando os próprios sentimentos

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Foto do author Luciana  Kotaka
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Talvez você já tenha lido algo sobre esse assunto, mas quando não estamos vivendo a situação é comum não darmos credibilidade a esse tipo de informação. Muitas vezes optamos pela praticidade, achamos explicação e solução para tudo, reproduzimos frases que ouvimos por aí e elas se perpetuam como crenças. E quando o assunto é obesidade, por exemplo, não faltam receitas mágicas. Fechar a boca é uma das soluções mais comuns que ouvimos por aí como se o processo de ganho de peso dependesse somente de uma escolha, e não de um conjunto de fatores que levam ao descontrole alimentar.

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Se pensarmos no álcool, no cigarro, no excesso de trabalho e de exercício físico caímos no mesmo problema, porém acabamos normalizando hábitos e comportamentos. Muitos colegas de trabalho costumam sair no final do dia para o famoso happy hour, sentam-se para conversarem e se livrarem do estresse bebendo e comendo. O foco não é sair para conversar e dar risadas,  e sim no relaxamento que a cerveja, a comida ou o cigarro irão proporcionar, o prazer distorcido como veículo de amortecimento do cansaço e estresse.

Infelizmente a nossa cultura não trabalha a nosso favor, somos constantemente bombardeados de opções que prometem alegria e bem-estar, mas claramente não são saídas eficientes. Podemos nos perder nos vícios, é só olharmos as contas acumuladas e empréstimos feitos por pessoas consumistas, que não conseguem parar de comprar. Quando realizam a compra sentem bem-estar e alívio, quando a mercadoria chega sentem prazer, mas isso passa na sequência e a compulsão por comprar algo melhor, outra cor ou marca volta a atormentar e causar angústia. A mesma sensação irá ocorrer com outros vícios, pois eles funcionam momentaneamente e logo a angústia e ansiedade batem à porta de novo.

Mas que angústia é essa que nos tira do equilíbrio e nos faz entrar em círculo vicioso? Um aperto no peito, uma inquietude, mal-estar, vamos ficando agitados, ou deprimidos, e na verdade não sabemos como resolver isso, então recorremos a muletas que estão a nossa mão. Mas por que é tão desafiador falar do que sentimos, em buscar ajuda? Muitas pessoas não conseguem aprofundar em seus sentimentos, sentem medo de explorar essa área tão sensível e desconhecida. Quando não somos estimulados a falar do que sentimos desde pequenos muitas vezes nos fechamos. O medo de ser julgado, ou mesmo de ser criticado pode ser um dos sentimentos presentes, sendo um grande impeditivo para mostrar o que passa dentro de nós.

Muitas vezes ao nos manifestarmos somos invalidados, primeiro pela família, cuidadores, professores, e até amigos. Muitas pessoas não sabem como ajudar e preferem achar que somos manhosos, fracos, sobrando somente nos fechar na tentativa de nos preservar, mas independentemente do que outras pessoas possam achar, falar propicia a cura, sendo a terapia um lugar de acolhimento, de respeito, e, sobretudo, preparado para auxiliar quem sofre e não sabe lidar com a dor.

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É preciso tirar os amortecedores emocionais e olhar com verdade para o que incomoda, fique com a dor, sinta, olhe para o que ela significa, ao que te reporta. Somente o autoconhecimento irá libertar, e esse é um caminho sem volta, retiramos os véus que nos tapam os olhos para enxergar a realidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Opinião por Luciana Kotaka
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