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Males crônicos - crônicas sobre neuroses contemporâneas

Opinião|Feliz Ano Novo sem retrospectivas, revisões e avaliações

Feliz Ano Novo e boa ceia, aproveite a bebedeira, esqueça o balanço do passado

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Foto do author  Renato Essenfelder
 

arte: renato essenfelder/sd

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»Feliz Ano Novo.

Mais um ano passa, tudo escorre para o passado, por entre os dedos, antes que consigamos capturar a essência das coisas, fazer sentido da falta de sentido destes últimos anos. Mal acontecem, os acontecimentos escapam. O que foi este ano, qual seu balanço, sua medida? Foi bom, foi mau? Fomos felizes?

Feliz Ano Novo. Não pense demais, não pense nessas coisas todas em que as pessoas andam a pensar. Só por hoje, só por hoje não faça balanços nem avaliações, não revisite sótãos nem porões. A gente já passa o ano inteiro pesando e avaliando cada passo, questionando cada escolha, então hoje não: que o dia, e a noite, sejam feitas só de instantes presentes, irrefletidos, desavergonhados.

Feliz Ano Novo e boa ceia, aproveite a bebedeira, esqueça o balanço do passado. Considere por um instante a louca possibilidade de que tudo esteja no lugar certo e no tempo certo, como quis Deus, como devia ser, como o universo conspirou para fazer.

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Adie a faxina, a sertralina e a introspecção. Haverá tempo para pensar e para sofrer (e limpar, e varrer). Tempo para cronometrar a expiração. Hoje apenas viva o Ano Novo como um momento único, uma passagem suspensa no ar, sem ansiedade nem depressão, sem memória e sem consequências que valham a pena ponderar. Apenas o que é.

Feliz Ano Novo: dois passinhos para cá, dois passinhos para lá. Braços giram no ar. O horizonte é cheio de prédios ou mato ou estrelas ou mar, de que importa? Estamos vivos. Feliz Ano Novo com o que tem e o que é: não importa, só por hoje, o que foi e o que será.

Feliz Ano Novo.

Não peça licença antes de entrar, apenas vá.«

 

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Opinião por Renato Essenfelder

Escritor e professor universitário, com um pé no Brasil e outro em Portugal. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de Febre (2013), As Moiras (2014) e Ninguém Mais Diz Adeus (2020). Docente e pesquisador nas áreas de storytelling e escrita criativa, escreve crônicas de cultura e comportamento no Estadão desde 2013.

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