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Produção artística que vive à margem da indústria cultural

Sobre livros, leituras e literatura pelos saraus

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Por Arnaldo Afonso
Atualização:

Li numa entrevista da diretora de tv Amora Mautner, que seu pai, o grande compositor Jorge, usava das mais torpes técnicas e chantagens para obrigá-la a ler quando criança. E que ela resistia teimosamente, inventando resumos a partir da orelha dos livros, evitando lê-los. Ao perceber a manobra, ele, sábio, disparou: “Filha... O mundo se divide em dois grupos incomunicáveis e você vai decidir agora de qual deles você vai fazer parte: dos idiotas que não leem... ou dos idiotas que leem?” Dizem que em nossa era digital os bebês já nascem sabendo e que a informação está em todo canto, ao dispor de todos. Mas não é bem assim. Há muita má informação e faz-se necessário peneirar, confrontar, escolher. Pra fazer isso bem, é preciso ler. Amora leu, claro. ‘Quem lê tanta notícia?’, cantava (antevendo a problemática) o genial Caetano na famosa canção dos anos 1960. Hoje, o dilema se ampliou e novas questões se colocam. Que textos um jovem deve ler? Os clássicos, sim, claro. Mas a jovem poeta de Taboão da Serra, Thayaneddy Alves, por exemplo, diz que só se encontrou com a poesia ao ouvir as rimas das poetas dos saraus da periferia (Débora Garcia, Jenyffer Nascimento ou Elizandra Souza), pois elas comentavam a realidade que lhe interessava: a que ela vivia. É natural para esses jovens se sentirem mais representados por Mano Brown do que por Drummond. Literatura + identificação = jovens que estão ensinando aos secretários de educação e coordenadores do ensino fundamental (com seus modelos tacanhos e superados) o significado da palavra bibliodiversidade. Que nós saibamos ler esse presente para poder escrever um futuro melhor.


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SOBRE LER E PENSAR

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Leio menos do que deveria, mas gosto muito de ler. Quando jovem, achava chato. 'É preciso ler', me diziam. Ok, aceitei. E me esforcei pra gostar de ler. Li gibi, jornal, livro, manual, enciclopédia, sites, blogs e quetais. Não sei dizer ao certo em que momento a chama pegou, mas há tempos que não passo bem sem meus livrinhos e leituras várias. Não me acho melhor pessoa por isso, mas, parafraseando Jorge Mautner, gosto de pertencer ao grupo dos 'idiotas que leem'. Idealista, sempre desejei influir, mudar o mundo, melhorar as coisas. E pra opinar, penso, é preciso ler.

Eu trabalho num jornal. Quase ninguém mais lê jornal. Não me consta que os ex-leitores migraram pra outras mídias, mais simples ou complexas. Mas jornal, por 'n' motivos, já era, dizem as pesquisas. E na net, as matérias mais lidas, ou são fofocas sobre supostas celebridades ou textos curtos e ilustrados, de preferência com animação e algum brinquedinho de interagir, se não, ninguém vê. Na tevê, os novos apresentadores de jornal têm de ser simpáticos, falsos, sorridentes (aquilo que sempre detestei em apresentadores tipo Silvio Santos, desde que me entendo por gente) e didáticos, como se falassem com crianças bobas ou idiotas completos. Os pastores eletrônicos assimilaram método semelhante, aparentando humildade. E prosperaram... Dá 'certo', pois!

Na novela, cenas de duas laudas não emplacam, disse o dramaturgo Aguinaldo Silva em entrevista recente. Ninguém mais tem paciência para ver cenas lentas ou com muito texto. Não à toa, cinema europeu ou iraniano viraram tema de piadas. Algo 'cabeça' é gíria que significa 'chatice'. No 'face', me criticam por postar poemas longos. 'Menos é mais', 'corta pela metade', dizem, 'ninguém tem tempo de ler'. E eu, tenho? Leio que garotos ganham altos salários por desenvolverem games. Vejo que muitas pessoas no metrô e no ônibus jogam. E quase todas as pessoas trazem fones ao ouvido e ouvem música (suponho). Às vezes num volume tão alto, que até eu, ao lado, ouço junto. Muita música... mas qual música? Em geral, a música da moda: a dos que pagam jabás ao rádio e à tv.

Pessoas em trânsito, entre casa e trabalho, falam no 'zapzap', falam mais e mais barato, infinitamente, o tempo todo. No mais das vezes, trivialidades dispensáveis. Eu viajo ao lado e ouço. Ouço o que dizem, o que lamentam, do que riem, quais assuntos comentam e com que profundidade. Sinto que não leem. Se os jornais são ruins, se a música é pobre, se a novela quase não tem diálogos, se a net é só passatempo, se os jogos não exigem cultura, se o ensino é decadente, onde afiar a navalha do pensamento? Hoje, há academias de ginástica para que exercitemos os músculos atrofiados pelo sedentarismo. Mas, e para não atrofiar a musculatura do pensar, onde é que fica a academia? Livraria, não, já era. Tem muito ácaro. Biblioteca também, coisa de velho (e já existe o Google). Ninguém tem tempo a perder. Como se ler fosse perda de tempo.

Você que chegou até aqui, me perdoe pelo tempo perdido. Eu não tenho conclusões a oferecer. Mas você acha mesmo que desperdiçou minutos preciosos? Penso que não. Mudam as tecnologias, mudam os hábitos e a civilização. Mas penso que, pensar, sempre significará libertação. E ler, não importa em qual plataforma, sempre vai ter muito a ver com isso. Me divirto com a famosa frase de Umberto Eco, mas acredito em algum tipo de massificação de um mínimo conhecimento básico e geral através das muitas ferramentas digitais. Desde que se cobre esforço e se combata minimamente a atual dominação total da cultura do fácil e descartável, da diversão banal em tempo integral, do entretenimento vazio, do produto cultural sem conteúdo. Não sou um sujeito especial. Ao contrário, me acho bastante comum. Se a chama (e o chamado) da leitura pegou em mim, deve pegar em qualquer um.

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(Também sobre o tema, leiam esse meu POEMA, o ótimo TEXTO do escritor e editor da ReformatórioMarcelo Nocelli e o excelente ARTIGO da jornalista e blogueira Eliane Brum.)


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A REVISTA 'APARTES'

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 Foto: Estadão

Recentemente participei de um debate sobre indústria cultural, no programa Diálogos-SP, da TV Câmara, apresentado pelo jornalista Gilberto Nascimento. Enquanto aguardava o início do programa, folheei a revista Apartes, produzida pela casa. Me interessei por uma matéria do jornalista Fausto Salvadori sobre um projeto de lei (o Plano Municipal de Leitura, o PMLLLB), mas com um ótimo texto que ia bem além da mera divulgação de feitos de candidatos em ano eleitoral, demonstrando com estatísticas o descaso do poder público para com a educação e a resistência dos movimentos sociais e culturais organizados. A reportagem deu voz a participantes e coordenadores de saraus e abordou a quantidade crescente de grupos de literatura na periferia. Eu já havia visitado o Ruivo Lopes, coordenador do SMB (Sistema Municipal de Bibliotecas) e fiquei impressionado com a importância das bibliotecas e CEUS na proliferação dos saraus pela cidade e na abertura de espaço para a participação de jovens poetas, bem como o consequente surgimento de coletivos de poesia, música e teatro. Os eventos de rap, hip hop e poesia falada garantem um canal de expressão livre (e aprendizado prático) para os jovens debaterem seus problemas e encontrarem soluções. A poesia de periferia tem sangue, suor, revolta e consciência. E vem à tona quente e efervescente como um magma por séculos oprimido sob a terra (ou como as inconveniências varridas pra debaixo do tapete). E é desse jorro criativo, como lava de um inexorável vulcão que julgávamos extinto, que surgem esses novos jovens, sob novos tempos, com suas novas verdades em gestação. Daqui do meu metafórico e carcomido balcão de bar, ergo um brinde de apoio à sua rebelião. Não dá mais pra segurar: explode, coração.

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(Leia AQUI a íntegra da matéria citada e veja também o programa Diálogos-SP sobre Educação.)


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MINHAS LEITURAS

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Sou de família pobre, caçula de cinco filhos, trabalho desde os 14 anos, sempre estudei em escola pública e moro na Vila Maria desde quando ela era chamada de 'periferia'. Décadas de injustiça social nos deram periferias bem mais periféricas e esquecidas. No Facebook, amigos me pediram pra citar os meus '15 livros fundamentais'. Ora... como vocês já puderam ler acima, minha formação não foi das mais acadêmicas. Acabei citando gibis e letristas de música, assim como um moleque de hoje citaria rappers, grafiteiros e poetas de saraus (é nóis!). E é por isso que posto aqui a minha lista, julgando que possa ter algum interesse se for analisada como a lista de mais um menino, entre milhões, abandonado pelo sistema educacional fundamental, mas que deu muita sorte ao longo dos trancos, barrancos e descaminhos da vida. E é por ter essa compreensão do acaso (que eventualmente contempla alguns), que batalho pra que as coisas mudem, de fato, para contemplar a todos. Então, seguem as minhas leituras, em ordem cronológica.

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Dos 7 aos 13 anos:

1... Cartilha Caminho Suave (na escola). Gibis (em casa e na casa de amigos): Disney, Mônica e Super-herois americanos. 2... Monteiro Lobato (na escola) e Coleção Mestres da Pintura (graças a meu irmão Luís) e livros de história, geografia, enciclopédias e atlas (em casa). 3... Letras de músicas do Roberto Carlos (gostava do disco 'O Inimitável' que minha irmã ganhou do namorado: Se você pensa, Quase fui lhe procurar, Não há dinheiro que pague, As canções que você fez pra mim), de Raul Seixas ('Ouro de Tolo' me impressionou demais! E ainda impressiona. Lembro de assistir o Raul cantando com uma túnica no programa do Chacrinha, na tv da minha vizinha.) e Vinicius & Toquinho ("é que os momentos felizes / tinham deixado raízes / no seu penar... depois perdeu a esperança / porque o perdão também cansa / de perdoar". Achava lindas essas rimas. E ainda acho!). E mais algumas letras de músicas antigas que tocavam no programa de rádio do Moraes Sarmento, que a minha mãe ouvia: lembro especialmente de duas belezas: 'Pra machucar meu coração', com a Elza Soares e 'Eu e a brisa', com o Agostinho dos Santos, além de 'Meu coração amanheceu pegando fogo', com um grupo vocal que cantava de um jeito bem divertido.

 Foto: Estadão

Dos 14 aos 20 anos

4... Revistas Placar, Mad, Pop e Playboy (ôps!). Revista do Rock, com as versões de letras de Bob Dylan e John Lennon, artigos de Tárik de Souza, Ana Maria Baiana e Ezequiel Neves. 5... Comecei a ler jornal todo dia, a Folha de São Paulo. E alguns jornais mensais e semanais, como Versus e Movimento, que faziam oposição à ditadura militar. 6... Aos 16 anos li Ferreira Gullar, que desde então, é o escritor mais importante para mim. O Poema Sujo 'salvou' a minha vida. Obrigado, Ferreira! (Muito emocionado, eu disse isso a ele, pessoalmente. Não me importo dele dizer que já não é mais comunista, nem de esquerda. Eu amo sua poesia.) No mesmo ano, fiquei alucinado com as músicas e principalmente com as letras do Alucinação, disco do Belchior. Bel foi e é muito importante pra mim. "Amar e mudar as coisas me interessa mais". 7... Jorge Amado: li a trilogia 'Subterrâneos da Liberdade', entre outros. 8... Todo Drummond, todo Bandeira, toda Cecília e todos os Vinicius (poeta, letrista e boêmio). 9... Depois, como uma coisa puxa outra, fui atrás pra conhecer as letras de Tom & Vinicius e do pessoal da bossanova. Descobri as letras de Vandré, Edu Lobo, Sidney Miller e Capinam, do pessoal dos festivais da Record. O que me levou à letras mais antigas, de Noel, Ary, Cartola, Assis Valente e outros sambistas pioneiros. Curti demais as letras psicodélicas do Clube da Esquina. E as letras líricas e metafóricas do Chico Buarque (o maior), de Caetano, Gil, Aldir Blanc, Paulo Cesar Pinheiro e Vitor Martins, da MPB dos anos 70 (e 80). 10... Dei umas orelhadas nos livros de Marx e Lenin. Li vários livros de doutrinação esquerdista. Ser comunista e ateu foi das melhores coisas que me aconteceram na vida. Talvez eu já o fosse na prática e a literatura só foi me abastecendo de teoria. Felizmente, continuo comunista e ateu. Devo morrer assim, tipo um Niemeyer, um Prestes, um Saramago e uns poucos e loucos seres ditos anacrônicos que defendem direitos iguais e bem estar para todos. Se isso for utopia, ao menos estou na companhia de grandes figuras a quem muito admiro.

Dos 20 aos 40 anos

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11... Tudo de todos os Pessoa, alguns Nietszche e muitas orelhadas em diversos livros de filosofia. 12... Aldous Huxley e seu Admirável Mundo Novo. Livros de ficção científica. 13... Gabriel Garcia Marques, 100 anos de solidão e, depois, todo o resto dele (e ao menos um de muitos outros latinos: Cortazar, Borges, LLosa, Galeano. E Pablo Neruda, tudo) 14... O recém-premiado Raduan Nassar (li o Copo de Cólera nos anos 80, hein?), Paulo Francis, Millôr, Ziraldo, Henry Miller, Bukowski, Maiacovski, Leminski e todos os poetas e escritores beats). Ao menos um livro dos brasileiros: Érico e Luiz Fernando Verissimo, Antonio Callado, Graciliano, Guimarães Rosa, Caio Fernando Abreu, Loyola Brandão (tava na moda), João Cabral, uma espiada nos grandes Haroldo, Augusto e Decio Pignatari, alguma Clarice e Ligia (que merecem muito mais leituras), e outros.


Dos 40 até hoje

15... Depois que o prazer da leitura se instala, não dá mais pra ficar sem. Aí eu comecei a ler de tudo. E a ler muito. Catálogo de lingerie, cardápio de boteco, revista de odontologia, lista telefônica, bula de remédio (risos)... Gostei de ler os livros do Chico Buarque (Benjamim e Budapeste). Do Ruy Castro li tudo (acho), do Manoel de Barros também. Li alguns da Hilda Hilst, do Xico Sá, muitos do Fabricio Carpinejar e do Jose Roberto Torero (de quem virei parceiro, adaptando seus contos e musicando). Li tudo do Arnaldo Antunes (livros e letras... Zeca Baleiro também), alguns Agualusa e Mia Couto, alguma Bishop e vários do grande Saramago (esse é outro que foi muito importante pra mim). Li várias biografias de artistas. História do rock, do cinema, da arte. E mais um monte que nem me lembro, além de uma série de livros de poetas e romancistas que fui pegando 'emprestado' na vasta biblioteca empoeirada da redação (valeu, Estadão!). Agora, com a internet, leio poemas e textos de muita gente talentosa: Rubens Jardim (o poeta e a pessoa), Ricardo Kelmer, Vlado Lima, Marcia Barbieri, Lisa Alves, Lourença Lou, Akira Yamasaki, as letras do Rica Soares, do Álvaro Cueva, do Léo Nogueira e os poemas falados do Lucas Afonso, do Eduardo FC, da Tati Botelho, do Viegas e tantos outros.

Além de citar poucos autores não muito conhecidos (mas que não deixam de ser importantes também), eu devo ter esquecido de alguns, ou de vários, conhecidos e muito importantes. Listas, ora listas. Quem se importa com elas? O importante é ler.

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LIVROS

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 Foto: Estadão


 Foto: Estadão

E já que estamos falando de livros, puxei pela memória os últimos que li/estou lendo. Que eu tenha visto, nenhum deles rendeu uma única nota nos segundos cadernos dos três grandes jornais brasileiros. De onde se conclui que há excelentes autores que a grande imprensa ignora. De onde se conclui que não há espaço para todos, talvez. De onde se conclui que você precisa se informar melhor em outros veículos. De onde se conclui muitas coisas e algumas bem maldosas, dependendo do grau de agressividade e emputecimento do seu dia. Mas os escritores já não aguardam mais a redentora anunciação midiática. Saraus, feiras, coletivos e editoras alternativas estão criando novos ambientes e rasgando os horizontes velhos e apodrecidos. Há literatura além, voando, navegando, circulando. Ela não mais espera pelos carimbos alfandegários oficiais. Abaixo, anotei os livros da pilha que se formou ao lado da minha cama, e que vou lendo aos poucos, noite após noite. São eles:

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

(Já lidos - eótimos!) Mosaico de Rancores ... Marcia Barbieri Equilibrista ... Lourença Lou Tédio ... Adalberto Viviani Visita Íntima ... Sandra Regina Ciranda Poética ... Encontro de Utopias Versos Safadinhos ... Ricardo Kelmer Revista O Grito ... Monga Amor Expresso ... Adriana Lagrasta Oliveiras Blues ... Akira Yamasaki Self no Cadafalso ... Edmilson Felipe Uma Gueixa pra Bashô ... Lucia Santos (Lendo - e adorando) Arame Farpado ... Lisa Alves O Arranjador de Palavras ... Cordeirovich Yûrei, Caberê ... Claudinei Vieira Nada me Consola ... Priscila Gomes Roteiros para uma Vida Curta ... Cristina Judar

 Foto: Estadão
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Dos que não adquiri em saraus, estão lá Pig Brother e o Até Nenhum Lugar, do Ademir Assunção, o Esse Tal de Amor e Outros Sentimentos Cruéis, do Mário Bortolotto, dois do Fabrício Carpinejar (Todas as Mulheres e Amor à Moda Antiga) e dois belos livros ilustrados, um do André Dahmer (A Coragem do Primeiro Pássaro) e outro do Manu Maltez (O Diabo Era Mais Embaixo). Não sou nenhum grande literato, crítico especializado ou referência intelectual. Mas já li a maioria desses livros e não entendo por que nenhum deles está (ou esteve) nas listas de recomendados dos sites e jornais. Eu, humildemente, os recomendo!

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SENHORAS OBSCENAS

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 Foto: Estadão

Para quem ainda não sabe, A Patuscada é o misto de bar, café e livraria da editora Patuá. Fica na Luís Murat, quase esquina com Henrique Schaumann. Vizinho do cemitério, este sobrado bem transado esbanja vitalidade, alegria e efervescência cultural e está se tornando um point de escritores, performers e amigos das artes. Comandado pelo editor Eduardo Lacerda e com o poeta Claudinei Vieira organizando seus saraus, o espaço tem propiciado cada vez mais encontros de artistas independentes e escritores novos e consagrados (de várias editoras, não só da Patuá), além dos inéditos, que aproveitam a ocasião para exibir sua verve. Estive lá no sábado e acompanhei o primeiro sarau 'real' das Senhoras Obscenas, grupo de escritoras que privilegia temáticas e abordagens femininas e/ou feministas em seus textos e poemas. Elas postam regularmente na página do Facebook, mas nunca haviam se encontrado pessoalmente. Grazie Brum e Adriana Caló (as fundadoras) recebiam as pessoas e davam ritmo e alegria ao sarau, que buscou em livro de Hilda Hilst (A obscena Senhora D) a inspiração para seu nome. Poesia e prosa se alternavam, textos autorais e clássicos. Ao final, os homens também foram chamados ao microfone. Foi uma noite de demonstração de força da criação literária feminina contemporânea, mas, acima de tudo, um ato de amor à literatura e uma celebração da diversidade. Saí de lá feliz e inspirado, instigado pelo que ouvi e com alguns textos ainda batucando fundo na cabeça. É amigos... Quem não quiser refletir sobre o encanto e a complexidade das coisas, não desça pro play. Fique em casa vendo tv...

A página 'Senhoras Obscenas' é um espaço aberto para a literatura feminina. Na sequência, 10 videopoemas.

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JULINHO CLUBE

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 Foto: Estadão

Podem espalhar que a dica é superboa. Além de hospedar o famoso Sopa de Letrinhas (e outros saraus), a Segunda-feira Autoral (agora mensal) do Clube Caiubi e diversos shows de artistas alternativos, o Julinho Clube agora tá virando as madrugadas de sábado pra domingo e de domingo pra segunda, com músicos de primeira promovendo deliciosas e antológicas jam-sessions. O esquema é o seguinte: o pessoal que toca na night sai dos bares onde trabalha e se reúne no ambiente acolhedor do bar do Julinho pra se divertir. E acaba divertindo a galera, claro. Portanto, se você gosta daquela mpb bem cantada e bem tocada, e não sabia mais onde encontrar essa desaparecida preciosidade, agora sabe. Cola lá. Sábado, a partir das 22h, já começa a chegar o pessoal do Sarau do Garagem. Domingo, no Sarau Lua Nova, a coisa esquenta depois das 23h. E não tem hora pra acabar. O Julinho, além de ser um grande amigo dos saraus, é um baita músico também. Confira: na Mourato Coelho, 585, em Pinheiros.


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AGENDINHA

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Passei a publicar o 'Agendão dos Saraus para o Fim de Semana' num post separado, todas as sextas-feiras. Abaixo, seguem algumas sugestões para esta quarta, quinta e sexta-feiras. Acompanhe também as muitas opções contidas nesse link da Agenda da Periferia. Informe-se, atue e divirta-se!



 Foto: Estadão

Quarta-feira - 3 de agosto - 19h ... Apresentação Pública: Edital da Lei de Fomento à Periferia ... A Lei apoia projetos culturais de coletivos em distritos com alta vulnerabilidade social. O edital, publicado no dia 3/8, recebe inscrições de 8/8 a 6/9/2016. Antes da abertura das inscrições, haverá uma 'apresentação pública' detalhando os principais pontos do edital. No Centro Cultural Olido.


 Foto: Estadão

Quinta-feira - 4 de agosto - 19h30 ... Lançamento - 'A Loucura dos Outros', de Nara Vidal - em SP ... A Editora Reformatório convida para o lançamento da coletânea de contos. 'O tempo morde tanto ou mais que a loucura nos contos breves e cortantes de Nara Vidal. A decrepitude está à espreita em cada esquina, em cada casamento acomodado, em cada frustração ou tédio'. No Cemitério de Automóveis.


 Foto: Estadão

Quinta-feira - 4 de agosto - 20h ... Sobrenome Liberdade - Fanzinagens - Edição 63 ... Sarau com a presença dos fanzineiros Janaina Moutinho, Jê Ernesto, Jefferson Santana, Marília Rossi e Rafa Ireno. Cole lá com o seu zine. No Relicário Rock Bar.

Sexta-feira - 5 de agosto - 18h ... Happy Hour no ‘Quintal de Casa’ com Yannick Delass ... No clima de esquenta para a Fest-Gamir, a casa convida para o lançamento do disco ‘Outros Rios’ do músico congolês. Após tocar no Congo, Gabão e São Tomé, Yannick procura em SP novos caminhos para a sua carreira. No Quintal de Casa.

Sexta-feira - 5 de agosto - 19h ... Betto Ponciano Acústico ... Show do folk ao caipira, com o cantor, compositor e instrumentista, que tem participações em orquestras e encontros internacionais de violeiros. No Carauari Bar e Mercearia, na Vila Maria.


 Foto: Estadão

Sexta-feira - 5 de agosto - 19h ... Slam da Ponta - Edição de Agosto - Valendo vaga para a final ... Batalha de poesias autorais que acontece toda primeira sexta-feira de cada mês. Para participar, basta ter três textos autorais e se inscrever na hora. Além de vaga na final, o vencedor leva para casa livros e cds. Com show de Luck Vas e banda. No Instituto Reação Arte e Cultura, localizado na Cohab 2 Itaquera.


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ATÉ SEXTA, PESSOAL, COM O AGENDÃO PARA O FINDI.

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