Carles: Nenhum dos dois acontecimentos conseguiu melhorar o meu humor. Para piorar, acabei de ler que a imprensa madrilenha qualificou de 'grande jogo' o do Madrid. A mesma imprensa que sempre enalteceu a monarquia. Provavelmente vivo em outro mundo.
Edu: Em certo momento do jogo pensei em algo melhor para fazer. Assisti um pouco o Málaga resistindo ao Dortmund, ao menos o time de Pelegrini é bastante honesto e competitivo. Enquanto os turcos me saíram os piores dos oito desta fase. Até tem alguma coisa interessante no ataque, mas é uma indolência irritante. E mais uma vez confirmei que Sneijder é um desses tipos supervalorizados que surgem no futebol, que fazem duas partidas boas por ano e ficam na sombra o resto do tempo. No Brasil, principalmente, falam demais dele porque foi o responsável pelos gols que eliminaram a Seleção do Dunga na África do Sul. Mas nunca me convenceu. É total meia-boca...
Carles: Sem dúvida de honesto o holandês não tem nada, é dos que se escondem voluntariamente. O time turco é horrível taticamente o que prejudica muito a performance das suas poucas individualidades. O pior é que o Madrid é praticamente semifinalista sem merecê-lo. Por salvar alguém da queima, Xabi Alonso e Özil. Escuta, quem tinha desclassificado o Dunga não foi o companheiro do Sneijder, o Melo?
Edu: Foi um conluio Melo, Sneijder e Julio César. Mas o holandês ficou com as honras.
Carles: O futebol é assim mesmo, fabrica os ídolos de barro que perduram no ideário coletivo, como o tal Mourinho. Diga-me o que ele acrescenta ao futebol, por favor?
Edu: Bom, Carlão, é bom que deixemos claro aqui que o Real Madrid cumpriu com sobras a sua obrigação. Não vou demonizar o time por causa de Mourinho. Continua sendo um dos favoritos porque tem jogadores determinantes. E nem podemos dizer que chegou até aqui por um conjunto de acasos porque sequer o Manchester reuniu méritos para seguir adiante. Mas, de todos os favoritos, é o que foi menos testado. E, quando foi, como contra o Dortmund na primeira fase, derrapou... Digo mais: por uma série de circunstâncias está neste momento mais sólido que o próprio Barça...
Carles: Não estou de acordo. O Madrid é um franco atirador, não tem nada de sólido, é um barril de pólvora prestes a implodir, seu futebol não encanta e, sim, tem alguns jogadores determinantes. Contudo, hoje, a fragilidade defensiva dos turcos facilitou demais o trabalho. Até agora não entendi o sistema de cobertura deles no primeiro gol. E até que ponto o zero a zero na Rosaleda é uma derrapada do Borussia Dortmund?
Edu: De franco atirador não tem nada. Franco atirador é o Málaga, que provocou a derrapada do Borussia, ou o próprio Galatasaray. O Madrid está entre os favoritos sem nenhuma discussão. Vem de um momento importante na Champions e dos confrontos com o Barça, o que dá sustentação mental ao time, em que pese algumas fragilidades. Muita gente venceu esse torneio jogando muito menos que isso, inclusive o Chelsea, último campeão.
Carles: Dentro dos limites, o jogo do Málaga é mais adequado ao seu projeto e, por isso, legítimo. Não vejo nada de franco atirador nisso. O time andaluz conhece suas próprias limitações. O Madrid é franco atirador porque trata de rejeitar as suas possibilidades. O "projeto" de Mourinho sobrevive à base do oxigênio conseguido nos dois jogos seguidos vencidos diante do arquiinimigo que durante anos não lhe deu a mínima chance. E veja o quanto durou a glória da conquista do Chelsea.
Edu: Só que futebol é mais do que isso, bem mais do que a influência às vezes nefasta de um técnico. Nem tudo se resume ao Mourinho ou ao estilo de jogo que ele tentou impor. Você mesmo disse aqui várias vezes que a maioria do elenco deu uma banana para o Mourinho. Há caras muitos bons ali e outros extremamente decisivos, entre eles o outro português. Esses caras têm ou não capacidade de ganhar a Champions? Têm ou não argumentos técnicos para isso? Está longe de ser o tipo de jogo que me agrade, mas os caras podem chegar lá. Özil, Xabi, Cristiano, Di Maria, Varane, Ramos e os atacantes podem chegar lá, tranquilamente.
Carles: É obvio que o Madrid tem muitas chances de chegar e provavelmente com mais méritos que o Chelsea da temporada passada, mas sigo acreditando e confiando na pouca justiça desse tipo decompetição. Sob esse critério, nem o Barcelona seria o mais justo vencedor, talvez um dos alemães, sobre tudo o Borussia, exemplo claro de que, sim, um plano tático e técnico é importante, além de bons executores.
Edu: De todo jeito, o que ficou para a semana que vem é um jogo tenso (em Turim), algumas incertezas que dependem da presença do Messi (em Barcelona), um desafio tático monstruoso para Pelegrini (no caldeirão de Dortmund) e um joguinho de trâmite (em Istambul)... Acho que vou retomar a leitura sobre as falcatruas da infanta Cristina.
Carles: Mas leia rápido. Esperamos que em breve as histórias sobre a monarquia sejam só isso mesmo, história.