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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Moyes, Autuori e tantos outros rumo ao cadafalso

Edu: Temos insistido aqui, em mais de 400 posts, sobre o papel dos treinadores, suas competências e conhecimentos, a atualização essencial para exercer o cargo em times de elite e também a tendência que muitos têm a assumir um protagonismo maior que o dos jogadores. Essa falta de química, sensibilidade ou psicologia para tratar com atletas de alto rendimento é, quase sempre, o motivo de desgaste que impede certos técnicos de impor seus estilos. Há também os casos em que o clube é muito maior que o treinador e se torna um martírio para o profissional que precisa ter poder de comando. Nestes dias, tivemos dois exemplos, um de cada caso: Paulo Autuori foi rifado hoje pelo Atlético Mineiro, mas já vinha de uma sequência de desencontros com o elenco, a diretoria e, em especial a torcida; e David Moyes provou que não basta ter um bom padrinho e ótimas intenções para triunfar em um gigante. O próximo é Tata Martino, ou estou me precipitando?

Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Carles: Se o Barça contestar todas as previsões e ganhar a Liga, ele tem mínimas chances de ficar. Isso no caso de os candidatos ao rabo de foguete que é sentar hoje no banco do Barça, recusarem. O favorito da corte culé, Ernesto "Txingurri" Valverde, está onde deseja, no seu querido Athletic e, para o clube, se melhorar estraga. Já a plebe gosta de Laudrup e principalmente de Luis Enrique, ambos com passado blaugrana e merengue. Para falar a verdade não apostaria nada na permanência do Tata. Por que não ganhou nada na sua primeira temporada no país, no continente em meio a uma crise institucional e de identidade? Ou por, assim mesmo, ter chegado à final da Copa, às quartas da Champions e manter as chances de ganhar o campeonato nacional até o final? Segundo esse critério, Wenger já estaria, faz tempo, longe do Emirates, não?

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Edu: Wenger é uma mosca branca, caso inédito de estabilidade no emprego na história dos direitos trabalhistas. Para ilustrar a trajetória do francês, o caso de Autuori é um símbolo dos tempos em que vivemos para os treinadores. Um sujeito defasado, dono de um discurso que não se alinha com a prática e que teve todas as chances do mundo de melhorar, aperfeiçoar, fazer da profissão de técnico algo nobre e moderno. Comandou nos últimos anos cinco dos maiores clubes do Brasil (Grêmio, São Paulo, Vasco, Cruzeiro e Atlético) e não chegou a completar 40 jogos em nenhum deles. Guardadas as proporções e deixando de lado as diferenças de idade e de contextos, Wenger pode ser o Autuori de amanhã, porque hoje, a rigor, é um mero manejador de palavras, não de ações. Tem um poder ilimitado da diretoria do Arsenal há anos e não resolve, não anda. Fosse no mercado de trabalho tradicional teria que sair para se reciclar e tentar começar de novo, ou mudar de ramo.

Carles: A coisa é complicada. Na verdade, continuidades como as de Wenger e Ferguson na Premier são dignas de menção num mercado cheio de dirigentes com a caneta nervosa, que ao menor sinal de crise, demitem o treinador sem considerar as circunstâncias. Por outro lado, é verdade que manter alguém no cargo que insiste em não se atualizar e não acredita na evolução pessoal, no fundo significa desrespeitar uma massa associada que, ao final de contas, é a sustentação do clube. No caso de Moyes, por exemplo, apesar dos resultados desastrosos, é difícil julgar. No fundo, penso que a missão dele era muito mais complicada que o do Tata Martino, inclusive porque não foi só a sombra do antecessor que seguiu pairando sobre ele, mas o próprio. Também é bom lembrar que os clubes parecem fomentar esse círculo vicioso de trocas de treinadores como solução para todos os males. Ter sempre os mesmos 10 ou 12 nomes, verdadeiras grifes nem sempre justificadas, permanentemente circulando, parece o mais cômodo. Na hora do aperto, é só destituir um e chamar o seguinte disponível da lista. Recorrer a um nome de peso e sem clube para conseguir um certo respiro - o velho jogo da cadeira que acaba induzindo a que os tais treinadores defasados e com uma certa reputação, insistam em não se aperfeiçoar.

Edu: Por aí tenho dúvidas, por aqui tenho certezas: é raro o sujeito que fica um tempão desempregado e volta com novos métodos e visão oxigenada. Uns poucos treinadores brasileiros dizem que vão passar 'um período de estudos' na Europa, como essa intenção de aperfeiçoamento e de conhecer novas realidades. É bacana e louvável se inteirar de outras culturas esportivas. Mas e a realidade brasileira que eles supõem conhecer plenamente? Será que o sujeito consegue um modelo pronto da Europa para aplicar aqui? Os técnicos precisam, isso sim, estudar melhor a nossa realidade, conhecer mais a fundo e com humildade as características locais, clube a clube. E quanto aos dirigentes, óbvio, não estão nem aí. Agem como torcedores graduados e acham que o fato de o técnico ter experiência fora já basta ou partem para a listinha clássica dos manjados. Logo se decepcionam e apelam para a caneta nervosa.

Carles: Olha não que eu controle todo o pedaço, mas não tenho visto nenhum deles por aqui (pode ser que venham incógnitos). O último, se não me falha a memória, foi o Luxa e sua patética passagem de pelo clube da capital. Bom, teve o Felipão no Chelsea e, dizem, um dos candidatos para o lugar do Tata, principalmente pela relação pessoal com a eminência parda de Camp Nou, Sandro Rosell. Agora, ninguém toparia, mas se vier com o hexa debaixo do braço, duvido que algum torcedor do Barça não se jacte de ter o campeão. Afinal, orgulho ferido é a antessala da inconsciência. Particularmente, gosto da opção de Roberto Martinez, atual treinador e sucessor de Moyes no Everton, e cuja vitória sobre o Manchester foi responsável direta pela destituição do escocês - com o resultado jogou fora qualquer chance de jogar competições europeia na próxima temporada.

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Edu: Pois a essa lista de substitutos potenciais para o Tatá pode acrescentar mais uma meia dúzia, pelo menos, que também estará à deriva depois das temporadas locais e principalmente depois da Copa. Ou você tem alguma dúvida?

Carles: Nenhuma.

 

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