Tite tem se recusado a falar o que pensa sobre a agressão de Neymar a um torcedor na França. Alega que primeiro precisa conversar com o jogador. Justo. Compreensível. Mas sabe que não vai escapar. Cedo ou tarde, terá de encarar o tema de frente. Do dia 17, quando anunciará o grupo de convocados para a Copa América, não passa.
E o que fará Tite? Difícil saber. Mas usar o mesmo critério que teve com Douglas Costa, que ficou de fora de uma convocação no segundo semestre do ano passado por ter cuspido em um adversário num jogo com a Juventus, ele não vai. Quem defende que Neymar deva ser alijado da seleção deve ir tirando o cavalinho da chuva.
O máximo que Tite fará é tirar de Neymar a condição de capitão da seleção brasileira. Creio ser esta uma hipótese bastante razoável. Até apostaria alguns reais nessa possibilidade.
Se o fizer, Tite estará reparando um grande erro que cometeu, o de transformar Neymar naquilo que ele não é: um capitão. A desculpa (ou melhor, justificativa) que deu não cola. O atacante não se tornaria mais responsável por causa da honraria, nem se sentiria mais estimulado, motivado a jogar pela seleção por isso.
Se Cristiano Ronaldo é capitão da seleção portuguesa, se Messi é do Barcelona e até da Argentina, é porque têm esse perfil. Neymar não é igual a eles (nem no futebol, ressalte-se!)
Já deu errado quando Dunga teve a brilhante ideia de torná-lo capitão quando esteve como técnico da seleção. Deu errado, também, quando um constrangido Rogério Micale teve de mantê-lo como capitão da seleção olímpica.
Tite deveria ter percebido. Não o fez. E fez besteira. Agora, poderá consertar.
Tirar o posto de Neymar basta? Não se ele não convencer Neymar a pedir desculpas públicas. Pode convencê-lo - o que seria melhor, principalmente se o atleta reconhecer sinceramente que pisou na bola - ou então impor sua autoridade e mandar fazer.
Mas nada disso adiantará se Tite e a comissão técnica da seleção continuarem a passar a mão na cabeça de Neymar, como vivem a fazer.
Ele é o melhor jogador brasileiro, o craque do time, mas nem por isso deve ser mimado. Até porque não merece.