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Bárbara Timo sofreu acidente de carro, superou problemas de saúde e ainda foi ao pódio no Mundial

Judoca nascida no Brasil e que luta por Portugal viveu um ano passado de superação e quer brilhar em 2023

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Por Paulo Chacon, especial para o Estadão
Atualização:

“O sentimento é que eu sou uma sobrevivente de 2022″. A frase é a definição dada por Bárbara Timo, judoca nascida no Brasil e que luta por Portugal desde 2019. A atleta superou um acidente de carro que quase tirou sua vida, uma anemia profunda, um período de depressão e foi uma das responsáveis por um movimento dos lutadores para melhorias na Federação Portuguesa de Judô. E ainda fechou o ano com o pódio no Mundial.

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Bárbara Timo teve uma lesão em um dedo da mão e precisou passar por uma cirurgia para correção do problema logo no começo do ano. Três meses depois, a judoca voltou a competir, foi ao pódio por Portugal em uma competição na Europa e teve o maior susto da vida.

“Em abril eu tive um acidente de carro. Segundo os médicos que nos atenderam, o estranho de tudo foi que todos os cinco que estavam no veículo (quatro atletas e o motorista) conseguiram sair com vida. O esperado, pela gravidade de tudo, era ter acontecido alguma fatalidade. O nosso carro bateu em um caminhão, rodou e bateu em um muro. Todos tivemos algumas lesões, eu tive um problema no ombro que me acompanhou por meses, mas nada além disso”, afirmou a judoca.

Cerca de dois meses depois do acidente, Bárbara Timo passou a se sentir estranha nos treinos. Sem entender muito bem a razão, a judoca se achava cada vez mais fraca, sem intensidade e com dificuldade para algumas coisas que eram necessárias na rotina de esportista. Por causa disso, após algum tempo, ela optou por pedir um tempo longe das competições para o seu clube, o Benfica.

Bárbara Timo nasceu no Brasil, mas defende Portugal; ela é atleta da equipe de judô do Benfica Foto: Benfica

No período longe dos torneios, a judoca seguiu com todo o suporte e acompanhamento do clube. Em uma das séries de exames que fez descobriu o que era a causa de todos os sintomas que vinha sentindo nas semanas anteriores: uma anemia profunda.

“Nunca descuidei da minha alimentação em Portugal, mas já tive episódios de anemia na minha infância e pode ter alguma relação. O lado bom é que tudo que eu estava passando, da fraqueza, falta de intensidade e resistência, estavam me deixando em dúvida sobre o meu rendimento, a minha capacidade e me fizeram ter um momento de depressão. Descobrir que era por conta da anemia me fez achar o motivo e focar para recuperar”, afirmou.

LUTA FORA DOS TATAMES

Não bastasse o acidente no primeiro semestre e a questão médica que a deixou fora das competições por alguns meses, Bárbara Timo ainda tinha um adversário maior para enfrentar em 2022.

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No começo de outubro, ela foi um dos seis atletas da seleção portuguesa de judô que escreveram uma carta pedindo a saída do presidente da Federação Portuguesa da modalidade. A razão do pedido foi, entre outros motivos, a falta de compreensão, flexibilidade e sensibilidade por parte do presidente, que resultou em um “clima insustentável e tóxico”.

Por causa disso, Bárbara Timo se tornou o rosto do movimento dos atletas e passou a falar abertamente sobre o movimento. “A gente apenas tentou mostrar o que estava acontecendo e o que a gente não concordava. Apenas isso. Buscamos dialogar e não foi possível, em um primeiro momento. Por conta disso, optamos pela carta e ela ganhou a proporção que teve. A maior parte das pessoas nos apoiou, mas teve uma pequena parcela de pessoas que criticou duramente, principalmente pelo fato de eu ser naturalizada. Acho que o momento que eu passei e a minha preocupação com a saúde mental me fez abrir mais os olhos e buscar uma solução”, afirmou.

Recentemente, Jorge Fernandes, então presidente da Federação Portuguesa de Judô, foi julgado pelos delegados da entidade em assembleia geral e acabou destituído do cargo por 45 votos a 0.

CHAVE DE BRONZE

Mesmo com os altos e baixos do ano, Bárbara Timo chegou para mais um Mundial de Judô como uma das candidatas ao pódio na categoria até 63kg. Sabendo que, nesta edição, a dedicação, concentração e raça em cada uma das lutas seria ainda mais necessária, a atleta não fez feio. Com cinco vitórias em seis lutas, perdendo apenas a semifinal para a japonesa Horikawa Megumi, Timo ficou com a medalha de bronze.

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A conquista foi a segunda em um Mundial na carreira de Bárbara como judoca de Portugal. Com o bronze, Timo entrou para um seleto grupo do judô português com mais de uma medalha em competições deste tipo. Além dela, Telma Monteiro conquistou o pódio em cinco oportunidades, com quatro ouros e duas pratas, e Jorge Fonseca foi medalhista em duas vezes, com dois ouros.

“Eu não consigo colocar em palavras o que aconteceu nesse mundial. O pessoal brinca que quando eu tenho um problema médico que me afasta dos tatames eu volto já com pódio garantido e isso aconteceu no Mundial. Acho que foi mais uma vez a prova de que eu posso, que eu consigo. É a minha segunda na carreira, meus melhores resultados são aqui por Portugal e sou grata por isso. Agora é hora de me preparar para 2023 e seguir o planejamento para 2024. Temos 1 ano e meio para os Jogos Olímpicos e a preparação segue”, afirmou.

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