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Boxe festeja os 50 anos do título mundial dos penas de Eder Jofre; relembre luta round a round

No dia 5 de maio de 1973, boxeador brasileiro derrotou Jose Legra, em um lotado ginásio Nilson Nelson, em Brasília

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Por Wilson Baldini Jr
Atualização:

Diante de 20 mil espectadores no ginásio Nilson Nelson, em Brasília, entre eles o então presidente da República Emílio Garrastazu Médici, Eder Jofre derrotou Jose Legra e conquistou o título mundial dos penas, versão do Conselho Mundial de Boxe. Era 5 de maio de 1973. Passados 50 anos, o cubano naturalizado espanhol ainda não aceita a derrota, assim como falou com o repórter Ely Coimbra no vestiário logo após o anúncio oficial do resultado.

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“Ninguém pode dizer que Eder Jofre me venceu no Brasil. Mentira. Tão pouco eu posso dizer que tive uma vantagem, mas eu era o campeão. Eu o derrubei uma vez e ele não me derrubou. Se a luta fosse na Espanha, eu teria sido o vencedor”, disse o “Mini Cassius Clay”, apelido que conquistou por causa do estilo clássico de luta. “Não guardo rancor e não fico insatisfeito com o resultado”, disse o ex-lutador, que mora na Espanha, em uma entrevista recente.

Depois de 15 rounds bastante disputados, dois jurados apontaram Eder como vencedor: 146-141 e 148-143. Outro jurado viu empate em 143 pontos. “É um grande boxeador. Tem uma pegada muito boa. Ele me acertou vários golpes”, disse Legra, sorridente, no vestiário naquele dia, chamando a todos os repórteres de ‘amigos’. “Não sou de dar desculpas para minhas derrotas, mas espero encontrar Eder em qualquer parte do mundo, menos em Brasília.”

Eder Jofre creditou sua vitória à tática apontado pelo “velho” pai. “Ele me falou para pegar o Legra no contra-ataque e foi o que fiz. Legra é um grande campeão, mas clinchou demais e não merecia vencer esta luta.”

Eder x Legra tem destaque da revista ‘The Ring’ na lista das melhores lutas de 1973, que tem como a número 1 a vitória do peso pesado George Foreman sobre Joe Frazier, pelo título mundial, na Jamaica.

O Estadão relembra os 15 históricos rounds da luta de Eder Jofre:

  • 1º) Eder inicia cauteloso, enquanto Legra mostra que sabe usar sua maior envergadura e o ótimo jogo de pernas, que evitam a aproximação do brasileiro. Legra vence o assalto.
  • 2º) Legra abre 2 a 0, pois, mais uma vez, soube o momento certo de conectar o ‘1-2′: jab de esquerda e direto de direita. Eder arriscou um gancho de esquerda no fim do assalto, mas errou o alvo.
  • 3º) Eder vai mais para o ataque no terceiro assalto, mas Legra sabe como impedir o encurtamento da distância. Pior. Nos segundos finais, o cubano/espanhol acerto uma ‘bomba’ em direto de direita, que mandou Eder de encontro às cordas. O brasileiro colocou os joelhos na lona e só não ouviu a contagem protetora porque soou o gongo.
  • 4º) Eder volta com raiva para o quarto assalto. Logo acerta um forte golpe no fígado de Legra, que acusa a dor. O campeão abusa dos clinches para tentar diminuir o ímpeto do brasileiro, que faz seu melhor round na luta.
  • 5º) Eder parece ter encontrado o caminho para a vitória. Golpeia muito na linha de cintura de Legra, que não tem vergonha de agarrar. Mas como agarra demais é punido pelo juiz.
  • 6º) O sexto assalto é de recuperação física dos lutadores, após grande desgaste dos rounds iniciais. Eder procurou mais a luta, mas falhou em alguns golpes. Legra apenas manteve a distância.
  • 7º) Legra já não mostra a mesma confiança dos primeiros assaltos e mantém a guarda mais alta. Eder, que tem um sangramento no supercílio, acerta direto de direita de raspão na cabeça de Legra.
  • 8º) Apenas Eder procura o ataque. Legra acusa um golpe recebido no queixo e agarra mais algumas vezes no assalto, que é todo do brasileiro.
  • 9º) Assalto espetacular. Legra luta plantado, deixando de usar o jogo de pernas. Eder se abre na procura do nocaute e pressiona o campeão, que golpeia a linha de cintura do brasileiro.
  • 10º) Só Eder ataca. Legra solta jabs e abusa mais uma vez dos clinches. No fim dos três minutos, o Galo de Ouro acerta bom cruzado para vencer um round de novo.
  • 11.°) A técnica dá espaço a troca de golpes constante. Legra ataca apenas a cabeça do brasileiro, que distribui melhor os golpes e tem mais intensidade no assalto.
  • 12.º) Apesar dos 37 anos, sete a mais que Legra, Eder demonstra melhor preparo físico. Só o brasileiro procura a luta, enquanto Legra busca apenas manter a disputa na meia distância.
  • 13.º) Aristides Kid Jofre, pai de Eder, é o seu técnico e faz ótimo trabalho ao estancar o sangramento no supercílio. Legra concentra todas as suas ações neste alvo, mas vê Eder em cima dos três minutos.
  • 14º) Foram o três minutos mais violentos da luta. Legra mudou a tática e partiu para cima, tentando surpreender Eder, que suportou a pressão. A parte final do assalto foi do brasileiro, que conseguiu encurtar a distância para trocar golpes intensamente.
  • 15º) Os dois foram extenuados para os três minutos finais. Legra quis jogar na longa distância, mas um cruzado de esquerda de Eder incendiou o clima no ginásio. O brasileiro buscou o ataque o tempo todo, MS Legra voltou a agarrar bastante e perdeu mais um ponto, após punição do juiz Jay Edson.
Matéria do Estadão no dia seguinte ao combate entre Eder Jofre e Jose Legra Foto: Acervo Estadão

Eder, supercampeão entre os pesos galos - categoria na qual é apontado por muitos críticos com o melhor em todos os tempos -, se sagrava campeão pela segunda vez, então aos 37 anos. O Galo de Ouro lutou até 1976, com 75 vitórias (50 nocautes), 4 empates e duas derrotas. Ele morreu em 2 de outubro do ano passado, aos 86 anos.

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José Adolfo Legrá Utria completou 80 anos no último 19 de abril. Seu cartel foi impressionante: 129 vitórias (49 nocautes), 11 derrotas e quatro empates. Ele lutou mais duas vezes e parou em novembro de 1973.

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