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Brasileiro faz o cume do Everest e alerta sobre o lixo deixado no teto do mundo

Bernardo Fonseca (vermelho) se tornou o 35º brasileiro a subir a montanha mais alta do mundo

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Foto do author Silvia Herrera
Por Silvia Herrera
Atualização:

Com a voz embargada, gelo no cílios e extremamente cansado, após 50 dias o esportista e empreendedor Bernardo Fonseca, de 45 anos, realizou um grande feito: se tornou o 35º brasileiro a fazer o cume do Monte Everest (8.848 metros). "Não foi fácil", declarou ao realizar a façanha, que tinha um propósito maior - alertar sobre a quantidade assustadora de lixo deixada a região. Na madrugada do dia 22 de maio de 2023 (horário do Nepal), Bernardo  se tornou o 35º brasileiro a chegar ao cume do Monte Everest, ao lado do fotógrafo e cinegrafista outdoor Gabriel Tarso (pela 3ª vez consecutiva), foto abaixo. Ambas as conquistas entram para a história do montanhismo brasileiro.

 Foto: Gabriel Tarso

A expedição fez parte do projeto The Extra Mile, que além de dar a devida destinação do lixo produzido durante a expedição, uma empresa especializada fará a compensação de todo o carbono emitido pela equipe neste período. Atualmente, a poluição é um dos maiores problemas do planeta e chegou ao ponto mais alto da Terra. Embora não se saiba exatamente quanto lixo exista na região do Everest, autoridades nepalesas afirmam se tratar de toneladas. Para se ter ideia, a cada temporada de escalada - que dura em torno de oito semanas, cerca de 600 pessoas tentam escalar o Monte Everest. Um levantamento feito pela National Geographic apontou que, neste período, cada pessoa gera, em média, oito quilos de lixo e a maior parte é largado lá na montanha.

 Foto: Gabriel Tarso

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"O nosso objetivo era dar voz também  às coisas boas, às iniciativas legais", explica Fonseca. No trajeto, ele entrou em contato com diferentes iniciativas inspiradoras que buscam conscientizar e preservar a beleza de todo o ecossistema dos Himalaias. Uma delas é o Sagarmatha Pollution Control Committee (SPCC), organização ambiental, sem fins lucrativos, criada por sherpas - povo de etnia de origem tibetana - em 1991. Os gestores explicam que a entidade nasceu justamente por conta da crescente preocupação com o gerenciamento do lixo gerado pelos turistas que, há década, vêm tentar a escalada ao Everest - a primeira delas realizada em 1953, pelo neozelandês Edmund Hillary e o guia nepalês Tenzing Norgay.

Hoje, os desafios enfrentados pela SPCC são imensos e vão desde a falta de recursos financeiros a uma barreira cultural em relação ao tema. Nos últimos anos, segundo a entidade, mais de 25 toneladas de resíduos sólidos foram retirados do local. Neste cenário, as montanhas ficam repletas de comidas abandonadas, cilindros de oxigênio vazios e até dejetos humanos. Com a mudança climática, os problemas ficam cada vez mais perceptíveis, podendo causar contaminação de rios e afetar a saúde dos povos da região.

Outra iniciativa é o Sagarmatha Next, idealizada pelo visionário esportista sueco Tommy Gustafsson. O objetivo da entidade é promover o turismo sustentável em Khumbu e, a fim disso, adotam várias medidas para mitigar os efeitos da poluição, como o projeto Carry me Back. A proposta é simples, mas com um impacto imenso: a ONG espalha lixeiras seletivas ao longo da trilha e coleta lixo em hotéis e lojas, por exemplo. Depois, esse material é triturado e colocado em ecobags. Na saída do vilarejo de Namche Bazaar, sacolas são oferecidas aos alpinistas que estão descendo para a cidade de Lukla para que o lixo seja descartado adequadamente.

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 Foto: Gabriel Tarso

"Saio da expedição mais confiante do que eu entrei. Conseguimos identificar várias ações positivas relacionadas à sustentabilidade, que não esperávamos que existissem, e identificamos também uma consciência de melhoria por parte dos locais. Por mais que as ações sejam pequenas, há alguns anos atrás elas não existiam e hoje fazem a diferença", completa o esportista, que aos 45 anos, casado e pai de três filhos, além de dedicar a vida ao esporte,  é fundador e CEO da X3M, agência que integra o Grupo SBF, e  responsável pela realização de eventos como XTerra Brasil e Circuito Uphill.

Um dos momentos mais desafiadores da expedição aconteceu durante a descida, quando Tarso percebeu que seu oxigênio havia acabado antes do tempo previsto. Com isso, o alpinista viveu um momento de tensão acima dos 8 mil metros de altitude, na chamada zona da morte. Mais à frente, percebendo a ausência de Tarso, Fonseca pediu para que um dos sherpas que o acompanhava voltasse para procurá-lo. Felizmente, todos desceram em segurança e estão bem.

 Foto: Gabriel Tarso

"Voltar para casa vivo depois do tempo ruim que nós pegamos e dos desafios que vivemos durante o ataque ao cume, é realmente gratificante. Estamos muito bem. O objetivo do cume sempre andou em paralelo com a importância em identificar, dar voz e empoderar outras ações de coleta seletiva, de suporte e transformação do lixo em renda para a população que vive nos Himalaias. Então, cumprimos o nosso principal objetivo", avalia Bernardo.

Toda a jornada foi captada por Gabriel Tarso e fará parte de um documentário que será dirigido pelo premiado documentarista, jornalista e fotógrafo brasileiro Rafael Duarte. O projeto contou com o apoio The North Face, Land Rover, Klabin e Kuehne+Nagel

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