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Todos os dias um convidado especial escreve sobre o Mundial do Catar

André Henning: O corneteiro das narrações

É incrível como temos especialistas espalhados pelo País, especialmente nas mídias sociais

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Por André Henning

Se tem uma profissão que precisa ser, com urgência, regulamentada é a de “corneteiro de narrador(a) esportivo(a)”. Ela até já aparenta estar, inclusive, pagando muito bem. É incrível como temos especialistas espalhados pelo País, especialmente nas mídias sociais. Virou uma paixão nacional falar mal do Galvão, desse narrador, daquele outro, da outra! Estamos (sim, eu também sou um narrador), quase sempre, errados em tudo! Na Copa não tem sido diferente.

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Basta uma olhada nas mídias enquanto tem bola rolando para se deparar com todos os tipos de críticas (muitas delas extremamente desrespeitosas) a todas as narrações: ‘estão pronunciando os nomes errados, estão desligados, não conhecem o estilo de jogo do lateral reserva de Gana, a voz está ruim, não tem emoção, sem ritmo, falam muito, falam pouco, sabem nada!’ Estão todos narrando a maior competição do planeta porque são amigos do diretor, ou sei lá, não tinha outro, precisavam colocar uma mulher para narrar e “lacrar”, algo do tipo.

A Copa está trazendo para a TV aberta nesse ano essas grandes e históricas novidades: as narradoras de futebol e a comentarista da seleção brasileira! Como assim? Uma mulher narrando na Copa, aquele evento que foi feito justamente para que os homens possam, com liberdade total, se juntar nos seus grupos para os seus bolões masculinos, os encontros só de machos regados à muita bebida (“por isso não fomos ao Catar!”), sempre com muita sabedoria e conhecimento futebolístico e, evidentemente, sem a presença das mulheres?

Renata Silveira é a primeira narradora da Globo e vai comandar a transmissão de Holanda x EUA nas oitavas de final. Foto: João Cotta / Globo

Falamos tanto da proibição das mulheres nos estádios de futebol do Irã, de lugares tão longe daqui, mas nos incomodamos com uma mulher, por exemplo, comentando um jogo do Brasil numa Copa do Mundo na Globo ao lado do Galvão!

Vejam, a crítica faz parte do nosso trabalho. É absolutamente normal que isso aconteça. Eu também tenho as minhas preferências, elogios e observações. Muitas vezes são críticas justas e elas nos ajudam a evoluir como profissionais. Estamos aprendendo todos os dias, especialmente quando ouvimos aqueles que acompanham com atenção as nossas transmissões.

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Mas é normal, também, que muitos não saibam que o narrador tem outras tantas preocupações além de falar com quem está bola, para onde ela está indo, se passou perto ou longe do gol. Ele está ali comandando uma transmissão longa, com um roteiro completamente imprevisível (não entramos num jogo sabendo quanto vai ser, quando vão sair os gols, se terão lances polêmicos, confusos), tem de falar do programa que vem na sequência, do outro jogo no mesmo horário, do jogo do dia seguinte, das notícias da seleção no intervalo, do capítulo da novela. E ainda trazer toda a emoção que um jogo de Copa merece e o espectador espera. Tem que ser muito bom, muito boa!

Daqui, mando meus aplausos para todos aqueles e aquelas do rádio, da TV, do streaming, que estão narrando essa Copa do Mundo. Estar numa Copa não é para qualquer um. Vocês são craques!

Essa coluna foi enviada na íntegra primeiramente aos leitores inscritos na newsletter “Craques da Copa”. Cadastre-se gratuitamente aqui e receba em primeira mão. “Craques da Copa” são enviados diariamente, às 19 horas. Neste sábado, quem escreve para a coluna é o jornalista Mauro Beting.

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