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Todos os dias um convidado especial escreve sobre o Mundial do Catar

Mauro Beting: Ao perdedor, as abobrinhas

Cada eliminação do Brasil em Copa do Mundo produz um ou vários vilões; se não se respeita os vencedores, imagine quem não vence

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Por Mauro Beting

Foi o árbitro que sabia a regra que a gente não sabia em 1938 para a Itália fascista ganhar. Foi o Barbosa que não pegou o chute do Ghiggia em 1950. Foi o árbitro que era um inglês comunista em 1954 como a Hungria de Puskas. Foi a porrada dos portugueses em 1966. Foi a Laranja Mecânica em 1974.

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Os esquemas da ditadura argentina em 1978 mais do que o esquema do Coutinho. Foi o Paolo Rossi em 1982. Os pênaltis malditos em 1986 contra o pé frio do Telê. Foi a canhota do Maradona contra a ‘overdunga’ em 1990. Foi o piripaque fenomenal em 1998 e o ‘mail’ do Gunther. O Zizou e a zona de Weggis em 2006. Felipe Melo, Júlio César e Dunga em 2010. Zuñiga, Fernandinho, Felipão e Parreira e o Mineirazo em 2014. Fernandinho, Neymar, Tite e a ausência de Casemiro em 2018.

Em 2022, a culpa é da presença de Casemiro pregado no final. E a live do Cazé, comandante deixando o grupo no gramado, tudo do Tite, nada do Defante, a saída de Vini, o pênalti do Rodrygo, a não penalidade máxima de Neymar, a corrida do Fred pra frente, o estacionamento do time no ataque, a falta do Gabigol, a não falta no meio do campo, o Militão sair, o Daniel Alves ser chamado, a despedida do Galvão, a farofa da Gkay, o Haddad na Fazenda, o abraço no quartel, o preço da camisa, os desumanos direitos no Catar, os craques nos camarotes, escroques por todos os campos brasileiros, os cabelos nevados dos atacantes, o pandeiro do Dani, as milhões de músicas do hexa, os bilhões nas contas dos ex-hexas, o gato tirado da coletiva, o canarinho pistola, o burro do treinador, a anta do comentarista, o asno do ex-jogador, a Jojo Toddynho, o chocolate do Mbappé, o filho do técnico, os filhinhos dos atletas depois dos treinos, a carne com ouro, o ouro no dente cariado, o choro do filhinho, o chilique do Neto, a força pro Pelé, a fraqueza de argumentos, o quadrado da Croácia, o Pentágono dos EUA, os avós do Messi que foram pra Rosário e não pro Rio, o Modric que superou a guerra, o brasileiro que quer guerra com todos, a paz que enterramos com pás de intolerância e ignorância.

Thiago Silva e Daniel Alves consolam Neymar após eliminação brasileira no Catar. Foto: Martin Meissner/ AP

É o velho e velhaco esporte brasileiro que ama a vitória, mas não respeita os vencedores. Imagine quem não vence… Não apenas não sabemos perder. Acabamos nos perdendo nas explicações e expiações das derrotas. Não apenas ‘justiçamos’ “culpados”. Fazemos um bonde sem freio de nomes pregados no poste a cada derrota.

A seleção expia até por ter pintado cabelos. Como Ronaldo pagaria se o cascão não tivesse sido penta. Se a dancinha antes da final em 2002 tivesse dançado, o pagode seria demonizado.

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Infelizmente, qualquer novidade só é enaltecida (ao exagero, também) se vencedora. Se Casagrande não se garantisse em campo com a mais do que necessária e corajosa Democracia Corintiana, as chuteiras brancas que então usava seriam usadas perversamente contra ele.

Ao vencedor, as batatas. Ao perdedor, as abobrinhas.

Essa coluna foi enviada na íntegra primeiramente aos leitores inscritos na newsletter “Craques da Copa”. Cadastre-se gratuitamente aqui e receba em primeira mão. “Craques da Copa” são enviados diariamente, às 19 horas. Nesta quinta-feira, quem escreve para a coluna é o jornalista Gilberto Amendola.

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