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A rápida reviravolta do Manchester United com Solskjaer

Equipe inglesa é outra desde que Mourinho foi demitido e norueguês assumiu como treinador

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Por Rory Smith
Atualização:

Uma reviravolta surpreendente no futebol inglês chamou a atenção nas últimas semanas. Se nos primeiros cinco meses da temporada o Manchester United, um dos maiores clubes do mundo e maior vencedor da Premier League, estava mergulhado no desânimo sob o comando do técnico português José Mourinho, agora o time esbanja “alegria e confiança”, como afirmou o francês Paul Pogba recentemente. A mudança tem explicação: Ole Gunnar Solskjaer, um ex-jogador norueguês que vestiu a camisa dos Reds durante 11 anos e que agora é o treinador do time. Na rodada passada, disputada no dia 9 de fevereiro, o Manchester United enfrentou o Fulham no Craven Cottage, em Londres. A impiedosa vitória por 3 a 0 mostrou que o time parecia saber o que fazia em campo. Pogba, que com Mourinho chegou a dizer que se sentia um “vírus” e que nunca mais seria capitão, brincou com a bola. À esquerda, Anthony Martial, um exilado há pouco tempo e tão descontente que não assinaria um novo contrato, encantou. Atrás dele, Luke Shaw, publicamente humilhado pelo seu antigo técnico, parecia novamente um dos melhores laterais esquerdos da Inglaterra. 

Pogba está em excelente fase depois da saída de Mourinho Foto: Paul Ellis/AFP

A vitória sobre o Fulham, aliada com os outros resultados da 26.ª rodada do Campeonato Inglês (principalmente a impiedosa vitória do Manchester City em cima do Chelsea por 6 a 0) permitiram que o Manchester United subisse para o 4.º lugar na tabela, na zona de classificação para a próxima temporada da Liga dos Campeões da Europa. O que antes era considerada uma possibilidade remota, agora se tornou algo possível de se alcançar.  Em questão de semanas o norueguês parecia ter levantado o véu que existia durante a fase irascível de Mourinho: Solskjaer trouxe o United de volta para algo próximo do que o clube deveria ser.  Enquanto Mourinho tornou um hábito criticar seus jogadores em público, o norueguês se preocupou em elogiar cada um deles após a vitória contra o Tottenham. Enquanto o português desaprovava e criticava com desdém os compromissos públicos, Solskjaer aparenta ser um homem vivendo um sonho, amável e bem humorado. Mourinho se queixava sem parar da estratégia de transferências do United e dos maiores recursos que desfrutavam seus rivais. Solskjaer parece adorar trabalhar com os jogadores que ele considera estarem entre os melhores do mundo. A relação de Mourinho com alguns deles foi tão amarga que suas mensagens para os jogadores com frequência eram transmitidas por Kieran McKenna, o auxiliar técnico; Solskjaer, que foi atacante do United, vem dando a seus jogadores dicas sobre movimentos precisos e tipos de finalização.  Mesmo no nível executivo, a alegria e a confiança que inculcou nos jogadores provaram ser contagiosas, impossível de resistir. Como Ed Woodward, vice-presidente executivo do clube e o homem que no final decidirá sobre sua indicação – ou não – como técnico permanente do clube após o término da temporada, disse numa reunião com investidores esta semana que Solskjaer “teve um impacto positivo em todo o clube”. O senso comum diz que o emprego seria seu. Ele havia acabado com o mito disseminado por Mourinho de que os jogadores do United não atingiam um determinado padrão. Ele provou, incontestavelmente, que o que estava reprimindo o clube era o técnico, não o time. 

Ole Gunnar Solskjaer, técnico do Manchester United Foto: Rebecca Naden/Reuters

Se essa é uma visão sedutora para os torcedores do United – tão satisfeitos de ter a equipe resgatada por um herói da era de ouro – é muito mais atraente para a hierarquia do clube, uma solução que não é apenas simples, mas imediata e barata. Mas pode haver resistência. Por mais satisfatório que seria colocar os recentes problemas do United nas costas de Mourinho, este não é o reflexo da realidade. Ele foi tanto o sintoma quanto a causa da deriva do United nos últimos anos; sua saída e a chegada de Solskjaer foi o primeiro passo no caminho de volta. O que não deve ser confundindo com o fim da jornada. No começo da temporada, o clube se curvou à tendência avassaladora da era moderna e decidiu nomear um diretor técnico, cargos que os rivais Manchester City e Liverpool (líder e vice-líder do torneio) possuem. Mourinho foi contra, mas a opinião dos dirigentes já estava formada. O United está paralisado desde a aposentadoria de Sir Alex Ferguson exatamente por de visão. E foi isto que levou a três nomeações desanimadoras para técnico, anos conturbados sob a condução de homens incapazes ou não dispostos a compreender a identidade do clube, dinheiro desperdiçado num esquadrão de alta qualidade, mas sem equilíbrio. Isto é algo que Solskjaer não pode solucionar. Ele não foi contratado para resolver o problema. E nem deve o seu sucesso permitir que o United encubra a situação e fique com a crença, reconfortante, mas corrosiva, de que todos os problemas podem ser solucionados encontrando um grande homem para liderar o time. Alegria e confiança ele devolveu para o clube em um curto prazo. Em campo, os jogadores sabem para onde vão. Mas só chegarão lá quando o clube também souber.Tradução de Terezinha Martino

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