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Atlético pode competir com Palmeiras e Flamengo? Entenda o plano do ‘Galo’ para crescer fora de MG

Com a SAF aprovada, time mineiro adota apelido no nome, tem aporte de R$ 900 milhões, reserva outros R$ 250 milhões para reforços e aposta alto em sua arena, cuja inauguração está marcada para este domingo, contra o Santos

Foto do author Robson Morelli
Por Robson Morelli

O Atlético-MG não quer mais ser um time de Minas. Não somente de Minas. O clube também adotou o nome “Galo” para não ser confundido com outros Atléticos do futebol brasileiro. Há um projeto em marcha em Belo Horizonte para tornar o time comandado por Felipão, e que tem Hulk como um dos seus principais atletas, uma sombra de Flamengo e Palmeiras, as duas principais equipes do futebol nacional na visão dos dirigentes mineiros. Se tiver de se espelhar em apenas um desses, o Atlético vai olhar com mais carinho para o clube do Rio. O Flamengo é o grande adversário do Atlético.

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Essa é a concepção que sua nova diretoria está vendendo. O rival do Atlético-MG não é mais o Cruzeiro, de tantos clássicos históricos em Minas. De acordo com o entendimento dos donos da SAF, o Cruzeiro ficou para trás nessa briga e não incomoda. Nem mesmo sob o comando de Ronaldo, que não entrou no negócio para perder. Vale lembrar que os dois principais clubes de Minas não se encontraram no Brasileirão durante as três últimas temporadas, quando o Cruzeiro disputou a Série B.

Se vai dar certo a tacada, ainda não se sabe. Mas o Atlético trabalha para se fortalecer nas próximas temporadas nos rincões do Brasil onde nunca esteve. Não é apenas ter um time competitivo e ganhar as competições que o Flamengo ganhou, ou que o Palmeiras, de Abel Ferreira, vem conquistando anualmente. O Atlético quer se transformar em um time nacional, com torcedores espalhados pelos quatro cantos do Brasil, e com consulados fora dele, se possível. Sabe-se que os mineirinhos do ‘Galo’ estão esparramados em cidades fora do Estado. O clube quer expandir sua marca.

BELO HORIZONTE MG ESPORTES ARENA MRV Jogo das Lendas na Arena MRV 16.07.2023 FOTO Pedro Souza / Atlv©tico Foto: Pedro Souza / Atlético-MG

Querem potencializar essa paixão com as cores do clube, ganhar dinheiro e levantar troféus. Para isso, o primeiro passo já foi dado, que era apresentar aos atleticanos um estádio para chamar de seu, e não mais o Mineirão, com quem dividia o uso com o Cruzeiro. O Estadão conheceu a arena do clube antes de sua estreia neste domingo, contra o Santos, em jogo da 21ª rodada do Brasileirão.

Além de todos os benefícios que um estádio particular traz para um time de futebol, principalmente o financeiro, o clube vai trabalhar o orgulho de ser atleticano.

É claro que nada disso funciona sem uma equipe competitiva e que ganhe torneios. A temporada não é das melhores para o Atlético nesse sentido. Depois de cair na Libertadores diante do Palmeiras, a equipe tem apenas o Nacional para jogar. O time não vai bem. Curiosamente, está uma posição acima do Cruzeiro (11º contra 12º), depois de ambos fazerem 20 partidas das 38 da competição. O Atlético está mais perto da zona de rebaixamento do que dos rivais que mira. Isso é um problema, mas não um empecilho para mudar seu projeto.

Além de elencos fortes, a diretoria entende que nomes nacionais ajudam a popularizar o clube. A chegada de Felipão tem essa função. Seu nome é defendido pelos novos comandantes da SAF apesar dos resultados ruins. Manter o atacante Hulk também faze parte da estratégia. Eles são profissionais que extrapolam as fronteiras de Minas Gerais: o treinador rumo ao Sul e Sudeste e o atacante para o Nordeste. Haverá outros como eles em 2024.

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A nova diretoria, com a aprovação da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), já tem reservado R$ 250 milhões para reforçar o elenco em 2024. “Esse é o nosso planejamento”, disse André Lamounier, diretor de comunicação e marketing do Atlético. Numa conta simples, é dinheiro para contratar cinco jogadores por R$ 50 milhões cada um. Ter grandes nomes, acreditam os atleticanos, muda o patamar do time, arrasta a torcida e aumenta o número de sócios-torcedores, programa que atualmente conta com 82 mil mensalistas. De imediato, com a abertura do estádio, o clube que bater a marca dos 100 mil associados.

Desse ponto de vista, o Atlético se tornaria um reflexo do Flamengo, cujo elenco esbanja jogadores de talento, todos eles conhecidos em todos os cantos do Brasil e selecionáveis pelo técnico Fernando Diniz e por suas respectivas seleções. O ‘Galo’ que fazer mais barulho, cantar alto no futebol brasileiro. Para isso, conta com uma combinação que já se provou assertiva no futebol: torcida, elenco forte, arena particular, dinheiro em caixa e gestão.

A nova arena, a MRV, abre suas portas neste domingo. O clube vai se valer de toda a estrutura do estádio e de um elenco competitivo para atrair novos atletas e tornar esse grupo cada vez mais forte, como fez o Palmeiras desde que a Crefisa aterrizou no clube em 2015, reformulando sua base profissional a cada temporada, peneirando atletas a fim de reter os melhores e dispensar os outros até passar a contratar apenas pontualmente. “É um projeto para os próximos anos, mas que já existe no ‘Galo’”, disse Lamounier.

SAF RESOLVIDA

A SAF, com todas as suas divisões de gestão e porcentagem de 75,3%, precisa funcionar. Estima-se que o clube feche 2023 com receita bruta de R$ 520 milhões, e despesas de R$ 470 milhões. O dinheiro quase que empata. Os números são projeções para o ano fiscal. A compra da SAF foi de R$ 900 milhões, com R$ 600 milhões repassados para a nova administração e R$ 300 milhões para quitar dívidas com os próprios proprietários.

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A dívida, de quase R$ 2 bilhões, também é um problema que o clube promete equacionar com o rigor da lei e sem deixar que ela interfira no crescimento do time. A promessa é que ela seja paga anualmente, conforme a regras da SAF. A luta na captação de recursos para o Atlético é a mesma de todos os outros 19 clubes da Série A do Brasileiro. A ‘Galo Holding’ é a empresa que vai tocar isso. Ela é formada, em princípio, pelos 4Rs, assim chamados: Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador. A Holding terá, além de 75% do futebol, a mesma porcentagem da Arena MRV e da Cidade do Galo, o centro de treinamento do clube em Belo Horizonte.

No dia em que o martelo foi batido com a aprovação da SAF, Rubens Menin não escondeu seu entusiasmo. “Vamos aumentar a responsabilidade a partir de agora. O Atlético vai ser um time grande. Não tem nada fácil. Tudo é muito difícil. Mas vai ser um time grande. Vamos ter um futebol bom. Não vai ser o maior do mundo ainda porque tem o Real Madrid na Espanha, e tem o Flamengo aqui com seu orçamento. Mas quem sabe a gente chega lá.”

Os objetivos do time de Felipão neste ano são subir na tabela, fazer a equipe jogar mais e conseguir uma vaga para a Libertadores de 2024. A temporada é de ajustes. O clube projeta novas investidas pelo Brasil. As expectativas para 2024, segundo seus dirigentes, são gigantescas, mas os novos donos do ‘Galo’ sabem que nenhum clube se arruma de uma hora para outra. Haverá mais parcerias com torcedores de fora de Minas também.

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O Flamengo, mesmo com seu elenco forte, de Arrascaeta e Gabigol, sofre altos e baixos, mas está sempre brigando por títulos. Foi eliminado da Libertadores deste ano, assim como o Atlético, mas está na decisão da Copa do Brasil. O Palmeiras, outro na mira dos novos comandantes atleticanos, faz um gestão conservadora financeiramente, com muitas críticas do torcedor com a presidente Leila Pereira, mas também não passa um ano sem erguer troféu. Ganhou o Brasileirão no ano passado, o Paulistão neste e está vivo na Libertadores, com vaga praticamente assegurada na semifinal do torneio.

O Atlético era um time que poderia estar mais perto dos rivais em quem se espelha, mas se perdeu pelo caminho, focou a aprovação da SAF e agora quer voltar a ser “grande” dentro e fora de campo, em Minas, mas também em todo o Brasil.

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