Publicidade

Clubes paulistas acumulam prejuízo de R$ 307 milhões em 2019 e terão ano ainda pior

Pandemia do novo coronavírus deve fazer clubes terem receitas até 25% menores na temporada 2020

PUBLICIDADE

Por Ciro Campos
Atualização:

Os quatro principais clubes paulistas fecharam na última semana os balanços financeiros da temporada 2019 com algumas preocupações e certos de que o ano atual será ainda mais complicado. Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo acumularam juntos o prejuízo de R$ 307,9 milhões no último exercício, número que representa um grande desafio para diretorias, já que todas terão pela frente em 2020 o desafio de lidar com um cenário econômico marcado pela diminuição de receitas causada pela pandemia do novo coronavírus. Segundo estudo dos balanços dos clubes feitos pela consultoria Sports Value, São Paulo e Corinthians foram os maiores responsáveis pelo futebol paulista terminar 2019 no vermelho. O clube do Morumbi teve prejuízo de R$ 156 milhões, enquanto o clube alvinegro registrou o recorde negativo de R$ 177 milhões (juntos, somam R$ 333 milhões). Embora Palmeiras e Santos tenham mostrado superávit, o resultado foi tímido. A equipe da Vila Belmiro lucrou R$ 23,5 milhões graças principalmente às vendas de atletas e o clube alviverde arrecadou R$ 1,7 milhão.

Estádio do Morumbi com portões fechados Foto: Paulo Pinto/São Pauio FC

PUBLICIDADE

De acordo com o responsável pelo estudo, Amir Somoggi, os números da temporada de 2020 devem ser piores pela grande queda de receitas causadas pelos novo coronavírus. "Será o ano do choque de gestão no futebol brasileiro. É uma temporada decisiva. A situação é grave. Os clubes estão gastando demais", explicou o especialista.

Pelas previsões de Somoggi, os clubes brasileiros terão um impacto de mais de R$ 1 bilhão em 2020 com a queda de receitas provocadas pela pandemia. A arrecadação pode ter uma redução de até 25%. Não por acaso, várias equipes têm realizado diminuições salariais nos elencos para diminuir os prejuízos, como forma até de antecipar a esse revés. "O efeito do coronavírus será brutal. Mas tem uma outra questão mais assustadora: os times até podem cortar as receitas nesses meses, mas quando o futebol voltar, não quer dizer que a entrada de recursos também voltará imediatamente", alertou.

Sobre os números da última temporada, o especialista comenta que os números são negativos pela falta de controle nos gastos. Juntos, os quatro principais times do futebol paulista gastaram nos seus elencos em 2019 cerca de R$ 1,7 bilhão, um aumento de 21% em comparação aos custos de 2018. As contratações caras e salários altos são as principais causas desses resultados.

"O São Paulo está em um nível em que o gasto com futebol é maior do que toda a receita. Isso tinha de ser no máximo até 80% da receita", disse. Somoggi avalia que o Palmeiras é quem desfruta de uma condição mais favorável, por ter uma diversificação maior de receitas, porém reitera que o time alviverde teve como um grande aliado em 2019 o acordo para vendas de direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro.

A temporada deve ser movimentada para três dessas quatro equipes por causa de eleições para presidente. Corinthians, Santos e São Paulo terão disputas nas urnas no fim deste ano. Já o Palmeiras, só terá o processo eleitoral no fim de 2021.

Análise - Rui Costa*

Publicidade

'Os dirigentes vão ter de reinventar com essa crise'

O cenário de imprevisibilidade é desafiante na crise causada pelo novo coronavírus. Nenhum gestor de clube imaginou que teria esse problema no futebol, com a perda de receitas e até um distanciamento afetivo do torcedor, que não sabe quando voltará a ver o time em campo. O momento é oportuno para que as pessoas entendam a magnitude das funções de quem é gestor no futebol. Os dirigentes vão ter de reinventar com essa crise e será necessário ter transparência nos objetivos.

A saída para a crise é a criatividade. Os valores de vendas de jogadores vão cair muito, então essa receita será bem menor para os clubes. O papel dos dirigentes e dos presidentes é entender que os processos de gestão vão precisar ser mais longos, com planejamentos em triênios e não mais válidos apenas por um ano. Quem for dirigente, terá de se acostumar a passar até várias janelas de transferência sem contratar atletas.

É bom que o profissional do futebol nesse período de crise do coronavírus seja alguém com visão mais geral sobre vários processos, porque pode até acumular mais de uma função e precisar ter uma visão do marketing, por exemplo. O convencimento será importante, porque os jogadores também precisam se conscientizar dessa situação delicada que o futebol brasileiro viverá.*Diretor de futebol, atuou em clubes como Grêmio, Chapecoense, Athletico-PR e Atlético-MG