Publicidade

Colômbia brilha com ‘meninas superpoderosas’ e é única representante da América na Copa feminina

Com jovens talentosas e futebol bonito, colombianas superam a Jamaica, algoz do Brasil, e agora vão enfrentar a Inglaterra pelas quartas de final

PUBLICIDADE

Por Fernando Valeika de Barros
Atualização:

MELBOURNE - A seleção feminina de futebol da Colômbia não precisou de mais do que um lance de ataque para derrotar a Jamaica e chegar pela primeira vez à fase das quartas de uma Copa do Mundo. Aos 6 minutos do segundo tempo, a lateral Ana María Guzmán cruzou uma bola em direção à área da Jamaica. Foi um passe na medida para a atacante Catalina Usme matar a bola no peito e mandar para a rede, sem chance para a goleira jamaicana Rebecca Spencer.

PUBLICIDADE

Detalhe: era a estreia de Ana María, que tem 18 anos, em um Mundial. Só jogou porque a titular da posição, Manuela Venegas, tinha sido suspensa por ter recebido o segundo cartão amarelo no jogo em que a Colômbia perdeu para o Marrocos, na última rodada da fase de grupos. “Senti que cruzar aquela bola era a coisa certa para fazer”, disse Ana María ao Estadão. “Eu sabia que a Catalina poderia aproveitar aquela chance: agora todos sonhos são possíveis para o nosso time”. Inclusive o título? “Sim, viemos para este Mundial para disputar sete finais: ainda faltam três e podemos - e queremos - ser campeãs”.

A jovem lateral-esquerda faz parte do grupo das “meninas superpoderosas”, como são conhecidas as jovens jogadoras do grupo colombiana. A mais conhecida delas é a meia Linda Caicedo, habilidosa para achar espaços contra defesas fechadas, com os seus bons dribles. É que tem a frieza de uma artilheira para fazer gols. Apesar de ter passado em branco contra a Jamaica, Linda já fez dois gols nesta Copa. Como sua companheira, ela também tem pouco mais de 18 anos.

Jogadoras da Colômbia comemoram inédita classificação às quartas de final da Copa do Mundo Foto: Hamish Blair / AP

“Conheço Linda e Ana María desde 2016, quando elas tinham 12 anos, quando a Federação Colombiana começou a fazer um projeto para garimpar talentos para o futebol feminino em todo o nosso país”, diz Nelson Abadia, técnico colombiano na competição. “Já nas primeiras observações dava para ver que elas tinham potencial para ser duas grandes jogadoras”.

Ao lado de outras jovens consideradas promissoras, Linda e Ana foram integradas às seleções de base colombianas logo que chegaram. Segundo ele, nos últimos seis anos, elas e o grupo de meninas da geração delas foram adquirindo noções de posicionamento tático e técnico. “Houve muito trabalho para que atingissem o nível atual e ainda há espaço para evolução”, diz Abadia. Vale lembrar que a Colômbia bateu a Alemanha e, por isso, não vai se curvar diante das inglesas.

No ano passado, com Linda e Ana María na seleção colombiana sub-17, o time sagrou-se vice-campeão Mundial na Costa Rica (as colombianas foram derrotadas pela Espanha na final). “Eu e a nossa comissão técnica fizemos um trabalho quase pedagógico com as meninas desta seleção e os resultados estão aparecendo”, diz o técnico.

As conquistas de Linda Caicedo e suas companheiras acabaram por deslanchar um processo de renovação na seleção feminina principal da Colômbia. “O grande mérito de Abadia foi o de ter dado espaço para uma nova geração de jogadoras que estavam pedindo passagem nas categorias de base”, diz Jenny Gámez, enviada pelo jornal El Tiempo, um dos principais noticiários colombianos para fazer a cobertura do Mundial Feminino da Austrália e Nova Zelândia.

Publicidade

VETERANAS BARRADAS

Para dar mais espaço para a jovem geração, o técnico tomou uma decisão arriscada: barrou veteranas como Yorelli Rincón, Isabella Echeverría, Natalia Gaitán e Vanessa Córdoba. “Nunca um processo de renovação acontece sem que não desperte polêmica”, disse Abadia para sustentar suas decisões.

O fato é que a revolução proposta por ele está dando certo. A primeira amostra da força do novo time da Colômbia aconteceu em julho deste ano, na final da mais recente edição da Copa América, quando as colombianas eliminaram as argentinas, tradicionalmente a segunda força quando se trata de futebol feminino na América do Sul, na semifinal, e fizeram jogo equilibrado contra o Brasil. Perderam a final para o time de Pia Sundhage por apenas 1 a 0. Era um sinal de que as colombianas viriam fortes para a Copa do Mundo. Mas ninguém percebeu.

“Temos talentos na nossa equipe para jogos importantes, já que boa parte da nossa seleção, mesmo as mais jovens, como a Linda, tem a experiência de atuar no exterior”, disse a meia Lorena Bedoya, de 25 anos. Ela é titular da Colômbia e também zagueira do Real Brasília, da Série A feminina no Brasil. “Esta evolução do futebol feminino colombiano não veio do acaso, mas de um trabalho que temos feito desde as nossas categorias de base”.

Para o técnico e as jogadoras, todos os sonhos são possíveis a partir de agora. “A Inglaterra é a campeã europeia e favorita”, diz Abadia. “Mas nosso time tem qualidades e não veio aqui para passear “, diz. Como gosta de cantar para a sua torcida, turbinada por suas “Meninas Superpoderosas”, a Colômbia acredita, sim, na conquista do título mundial de futebol feminino. Já está entre as oito melhores.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.