A ex-jogadora Faiza Heidar entrou para a história do futebol do Egito no último mês. Em um país marcado pelo pouco espaço para as mulheres na sociedade, a treinadora ganhou a oportunidade de dirigir um time profissional masculino. Após anos como meio-campista e capitã da seleção local, ela agora comanda o Ideal Goldi, time sediado na cidade de Gizé e que disputa a quarta divisão local.
Aos 36 anos, Faiza encara o desafio após ter cumprido uma preparação na Inglaterra. A egípcia fez um curso ofertado pela Premier League e antes de assumir o Ideal Goldi, trabalhou em times femininos de atletas portadoras de necessidades especiais. Munida dessa experiência, chegou ao novo cargo bastante preparada e contornou nos primeiros dias a desconfiança inicial do elenco.
"No começo houve algum tipo de riso (por parte dos jogadores). Mas então eles percebem que vão aprender e que vão desenvolver suas habilidades", disse Heidar à agência Reuters. Como jogadora, ela foi capitã da seleção egípcia por quase dez anos e é bastante conhecida no país. Por ser muçulmana, a treinadora comanda as atividades de véu e de roupas longas, como calças e blusas.
Uma das preocupações do trabalho de Heidar é mostrar ao elenco o respeito à diversidade. "Não vejo diferença entre ser homem e mulher. Não digo isso por ser mulher. Vale o mesmo quando se trata de preto ou branco ou de cristão e muçulmano. Não importa também a religião ou de onde o jogador veio", afirmou a treinadora.
O início de Faiza no futebol se deu contra a vontade da família. A mãe da jogadora, Khodra Abdelrahman, não queria que a filha saísse de casa para jogar bola com os meninos na rua. Foi preciso vencer essa resistência. "Eu dizia para ela não ir. Mas ela dizia: 'Não, eu vou.' Ela amava o esporte", disse. "Eu a deixei ir e orei para que Deus a ajudasse. E ela foi e se saiu muito bem", completou.
Para quem tem convivido com Faiza no clube, o trabalho mostra sinais positivos. "É uma excelente experiência. Ela tem um grande caráter, muita experiência e não vemos diferença entre ser homem ou mulher. A treinadora tem uma grande capacidade e tem nos ajudado", comentou o jogador Abdul Rahman Easom, do Ideal Goldi.