A primeira reunião entre Corinthians e Caixa Econômica Federal contou com a presença dos responsáveis financeiros de cada instituição e eles deram o passo inicial em busca de um novo acordo para o financiamento do estádio em Itaquera. A diretoria do clube diz ainda não ter uma proposta formalizada de quanto e como pretende quitar a dívida. A intenção é assinar contrato com juros mais baixos e nos moldes do que estava verbalizado entre Andrés Sanchez, presidente alvinegro, e a gestão anterior do banco, mantendo o prazo final do pagamento em 2028.
Uma nova reunião, com a presença dos presidentes dos dois lados, deve acontecer até o fim do mês em Brasília. A Caixa entrou na Justiça para receber R$ 536 milhões, valor que alega ser da dívida do Corinthians. O clube estima seu déficit em R$ 470 milhões. O banco também levou o nome da Arena Itaquera S/A, responsável em gerir as receitas e gastos da arena, ao Serasa.
O contrato inicial feito via BNDES previa juros em torno de 9% ao ano, com aumento para 12% em caso de inadimplência. Andrés costuma reclamar em suas entrevistas de que o clube paga as maiores taxas se comparadas com as outras arenas erguidas para a Copa do Mundo de 2014. No entanto, afirma também que o clube pode e consegue pagar essa dívida até a data estipulada.
O Corinthians pretende pagar entre novembro e fevereiro o valor de R$ 2,5 milhões por serem meses com menor número de jogos na temporada e no restante do ano desembolsar algo em torno de R$ 6 milhões. A acordo continuaria com validade até o término de 2028. Ou seja, descontando os juros, o clube deve pagar nos próximos nove anos cerca de R$ 522 milhões.
A Caixa Econômica Federal não se pronuncia oficialmente sobre o assunto. Enquanto as duas partes conversam, o processo movido pelo banco continua na Justiça. O episódio mais recente foi o pedido do bloqueio das contas da Arena Itaquera S/A, dia 23, que ocorre depois de o Corinthians não indicar judicialmente como fará o pagamento da dívida processual e também não indicar bens para a penhora em caso de não pagamento, conforme informou em primeira mão o Estado. Se o juiz aprovar, as contas da empresa ficam bloqueadas até atingir o limite da dívida total, que a Caixa alega ser de R$ 536 milhões.
CAIXA X ODEBRECHT
Na terça-feira, o banco pediu na Justiça a falência do conglomerado Odebrecht. Fontes ligadas ao caso ouvidas pelo Estado lembram que, em processos de recuperação judicial, é comum que credores peçam a falência. Com dívida de cerca de R$ 100 bilhões, a Odebrecht pediu recuperação judicial em junho. A exposição da Caixa na Odebrecht é da ordem de R$ 2,2 bilhões, o restante da dívida inclui Itaú e Bradesco. Esses bancos privados conseguiram garantias junto à construtora. A Caixa não conseguiu e por isso pediu a execução de uma dívida do estádio do Corinthians.
Uma das empresas que fazem parte de recuperação judicial da construtora é a OPI (Odebrecht Participações e Investimentos), que faz parte do fundo que administra o estádio. Ou seja, se o pedido de falência for acatado a Caixa passaria a ter influência sobre o fundo.
Perguntas e respostas sobre a Arena Corinthians
1 - O que muda a entrada da Arena Itaquera para o Serasa?
Na prática não altera em nada. Isso porque o Fundo que administra o estádio e o Corinthians que é quem paga as contas não possuem restrições e ainda estão aptos para buscar crédito.
2 - O Corinthians corre o risco de perder a Arena?
Por enquanto não. Se Corinthians e Caixa não entrarem em acordo, deverá haver uma longa briga judicial. Isso já está ocorrendo. O clube tem direito a entrar com recurso e questionar a decisão do banco. Uma solução poderá a contecer. Com a cobrança da dívida no Serasa, o Corinthians vai começar a enfrentar dificuldades financeiras no mercado, como empréstimos.
3 - O que a Caixa pode fazer?
Para receber o dinheiro, o banco pode executar as garantias financeiras, como está fazendo. Ou seja, fazer com que se cumpra o contrato assinado entre as partes. Os primeiros passos nesse sentido já foram dados. O caso tramita na 24.ª Vara Cível Federal de São Paulo.
4 - Quais as garantias estabelecidas pelo Corinthians?
Para conseguir o financiamento, o clube colocou como garantia do pagamento de R$ 420 milhões parte do terreno do Parque São Jorge. Juridicamente, essa garantia é usada em última instância. Antes de executá-la, haverá uma longa discussão jurídica entre as partes.
5 - O clube então pode perder parte do local onde é sua sede, no Parque São Jorge?
Existe esse risco sim, mas a execução de imóveis é um processo longo e até lá pode haver um novo acordo entre as partes.
6 - O Corinthians deixaria de jogar na arena?
Não, o processo vai correr na Justiça, em caso de não acerto, e, enquanto isso, o clube continuará se valendo do seu estádio para mandar jogos, a não ser que aja uma liminar que determine isso, mas, nesse caso, o clube pode derrubar essas determinações também na Justiça.
7 - O clube terá de pagar a dívida numa tacada só?
Provavelmente não. O que deve acontecer é clube e Caixa firmarem uma forma para pagar a dívida até 2028, como estava estabelecido. O problema é que o Corinthians não paga a Caixa deste março e isso provocou a ação judicial
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