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Especialistas advertem goleiros, como Volpi, por causa de falhas: mais treino e concentração

Erro do jogador do São Paulo contra o Ceará evidencia a necessidade de quem joga no gol ter cuidado redobrado com a saída de bola

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Por Redação
Atualização:

Lá atrás, na vitória do Corinthians por 3 a 2 sobre o Bahia, pela 11ª rodada do Brasileirão, o goleiro Cássio afirmou que não precisava provar nada a ninguém, dada sua história no clube. O desabafo ocorreu por causa da agressiva cobrança de parte pequena de torcedores após a derrota para o Fluminense, no Rio, durante o desembarque da delegação no Aeroporto, em Guarulhos. Mas para alguns especialistas na posição, tanto o goleiro corintiano quanto alguns de seus colegas em atividade na competição, como o são-paulino Tiago Volpi, têm apresentado falhas clamorosas na área, talvez, por falta de um período maior de treinamento. No caso de Volpi, é mais do que isso. Os erros ocorrem porque ele insiste em usar os pés diante dos atacantes rivais, como foi diante do Ceará, em casa, nesta quarta.

"O Cássio falhou no gol do Hernanes e o Volpi (goleiro do São Paulo) falhou no gol do Marinho", lembrou Tobias, lendário goleiro do Corinthians no histórico título de 1977. "Eu acho que o goleiro não pode viver do passado. Ele precisa provar todos os dias que é bom. Na minha época, quando não ia bem, perdia o lugar no time para o Jairo. O Cássio é um grande goleiro, assim como o Volpi, mas quando não estão bem, precisam dar lugar para outros."

Volpi cometeu falha decisiva no jogo do São Paulo contra o Ceará Foto: Washington Alves/Reuters

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Segundo Tobias, ser goleiro de um grande time exige concentração total e muito treinamento. Em sua época, além dele no time de Parque São Jorge, os clubes paulistas tinham Valdir Peres (São Paulo), Leão (Palmeiras) e Cejas (Santos).

Bicampeão da Copa Libertadores e Mundial com o São Paulo nos anos 90 e campeão mundial com a seleção em 1994, Zetti pensa da mesma forma. "A falha vai existir sempre, mas não pode ser repetitiva. Sempre falo que goleiro vai tomar gol, mas não pode tomar o mesmo gol sempre. Para que aconteça o erro é preciso um conjunto de fatores. Erro de posicionamento, falta treinamento ou talvez menosprezar ao adversário que vai chutar e fazer a marcação alta."

No caso de Tiago Volpi, o goleiro tem abusado dos erros com os pés. Isso tem a ver com a forma de jogar deixada por Fernando Diniz, que gostava que seu goleiro fosse mais um 'homem de canpo'. Volpi tem habilidade com os pé, mas não sabe dimensurar o que suas jogadas prodem provocar. Contra o Ceará, um drible mal feito resultou no gol do rival, o primeiro da partida. Felizmente para o torcedor, o São Paulo empatou. Mas poderia ter vencido. O treinador interino Marcos Vizolli proibiu as entrevistas após o erro. "Não podemos nos esquecer que o Volpi já fez muitos milagres pelo São Paulo. É que no momento em que estamos, qualquer situação nos deixa em baixa. Nesse Brasileiro, ele fez grandes defesas, já pegou quase cinco pênaltis", afirmou. 

Não podemos nos esquecer que o Volpi já fez muitos milagres pelo São Paulo. É que no momento em que estamos, qualquer situação nos deixa em baixa

Marcos Vizolli, Técnico interino do São Paulo

Zetti inocentou, por exemplo, o atleticano Victor após falha em gol do Santos na derrota por 3 a 1, na Vila, em jogo da 9ª rodada do Nacional. "Ele entrou no lugar do Rafael (expulso) e de repente sentiu a dificuldade de fazer uma defesa, num lance que não foi difícil de executar o movimento. Mas tornou-se um lance difícil por não estar em plena atividade, o que é compreensível." O goleiro ficou seis meses longe dos gramados por causa de uma lesão.

O ex-goleiro do São Paulo rasga elogios a João Paulo, que promovido no Santos. Para Zetti, é um exemplo do goleiro que está 100% focado em sua preparação. "Ele foi bem e não vai sair tão fácil. Ele está muito bem treinado. Tem o lado de goleiros que estão falhando, mas tem esse lado de quem está entrando e correspondendo." 

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Destaque no Santos no início dos anos 90, época em que defendeu a seleção brasileira, Sergio Guedes elogia Cássio, Volpi e Weverton, goleiro do Palmeiras e da seleção. "Todos são muito capazes e já provaram isso em jogos difíceis." Mas adverte para um fato que já era comum em sua época. "Por serem muito valorizados, acabam tendo uma vida mais social e isso tira um pouco da concentração nos treinos", disse Guedes.

PANDEMIA E NOVAS REGRAS

A paralisação por causa da pandemia, segundo os especialistas, não pode ser apontada como um motivo para as atuações irregulares dos goleiros. Em compensação, a nova forma de se jogar com os pés, cada vez mais comum nas equipes, precisa ser entendida principalmente pelos goleiros do futuro.

"É algo que está aí e os atletas precisam se adaptar. Eu tinha este diferencial na minha época. Os atletas de agora necessitam se aperfeiçoar", diz Sergio, ao alertar para os riscos a mais que um jogador da posição corre quando troca as mãos pelos pés.

Acho que se o jogador sabe sair jogando, muito bem. Faz. Se não, tem de chutar para a frente de qualquer jeito. Tem muita gente tomando gol bobo à toa

Tobias, Ex-goleiro do Corinthians

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Tobias é mais direto sobre o assunto. "Acho que se o jogador sabe sair jogando, muito bem. Faz. Se não, tem de chutar para a frente de qualquer jeito. Tem muita gente tomando gol bobo à toa. Não pode inventar dentro da área", afirmou o ex-jogador, de 71 anos.

Dos três, Volpi é quem mais se vale dos pés para tabelar com os companheiros e limpar jogadas quando seu time está pressionado pela marcaçao alta dos adversários. Há de se destacar ainda que cada vez mais os jogadores de defesa estão jogando com o goleiro porque não conseguem brechas entre a marcação. O artifício vale para recomeçar as jogadas. No caso do São Paulo, diferentemente de Palmeiras, Santos e Corinthians, chamar Volpi para o jogo era uma determinação de Diniz, uma estratégia para abrir espaço no meio e na frente. Nem sempre dava certo.

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