Aos 32 minutos do segundo tempo, Héverton foi chamado para entrar no lugar de Wanderson, durante o empate por 0 a 0 entre Portuguesa e Grêmio, no dia 8 de dezembro de 2013. Foram 13 minutos em campo e o início de uma das maiores polêmicas do futebol brasileiro. Quatro anos depois, a Lusa amarga a grande possibilidade de não ter divisão para jogar em 2018 e Héverton tenta se reerguer em meio à eterna desconfiança sobre seu caráter. Hoje, ganha a vida com uma padaria e se coloca à disposição para ajudar o clube na luta para retornar ao cenário brasileiro.
“Se estiver ao meu alcance e eu puder ajudar, seria um prazer. Posso ajudar qualquer time, mas, se for a Portuguesa, seria melhor ainda, pois tenho um carinho grande pelo clube”, avisou o ex-jogador e agora empresário, que recebeu a reportagem do Estado na padaria Nova Veredas, na Mooca, zona leste da capital, seu principal ‘ganha-pão’. Ele comprou o local, reformou e administra o comércio há cerca de três meses com a ajuda de um sócio..
Orgulhoso, conta que já recebeu alguns amigos famosos no estabelecimento, como Moisés e Willian, do Palmeiras, Gilberto, do São Paulo, e Guilherme Arana, do Corinthians. Diariamente, clientes vão a sua padaria e ao reconhecê-lo mostram apoio e algumas vezes pedem para tirar fotos. “Muita gente vem falar comigo e recebo apoio. Felizmente, ainda não veio ninguém reclamar ou me criticar”, comemorou.
Além da padaria, Héverton tem alguns imóveis. Com 31 anos, resolveu se aposentar por perder o encanto pelo futebol, após ser acusado de ter participado de um esquema para rebaixar o time do Canindé.
Ele foi escalado irregularmente, pois estava suspenso, e a irregularidade fez a Portuguesa perder quatro pontos e ficar em 17.º lugar, sendo rebaixada para a Série B e salvando o Fluminense da queda. Após muita investigação, o caso acabou arquivado e ninguém foi culpado.
“Eu sei do meu caráter. A injustiça incomoda, mas vivemos no Brasil, onde o errado parece certo e o certo parece errado”, desabafou o ex-jogador, que depois do ocorrido, jamais voltou a conversar com qualquer dirigente lusitano. “Se eu tivesse ‘me vendido’ como falaram, eu não estaria aqui, com uma padaria, em endereço fixo, exposto publicamente e falando diariamente com as pessoas. Estaria escondido”, completou.
Em meio a pães, bolos, tortas e lanches, Héverton só quer esquecer o passado. Ele passou cerca de dois anos sem querer falar do assunto e tentou continuar a carreira, mas após passagem sem destaque por Paysandu, Brasília, Caxias e XV de Piracicaba, desistiu do futebol.
“Passei um tempo não querendo falar disso, porque machuca. Falar que eu me vendi é algo pesado. Tudo bem que estamos em um país corrupto, mas eu não quero entrar nessa porcentagem”, avisou o empresário, que vê com tristeza tudo que tem acontecido com a Portuguesa desde aquele fatídico 8 de dezembro de 2013. Em seu coração só ficou lamentação, mas sem culpa.
“Acho que é muito fácil apontar os erros dos outros e não mostrar os seus. A Portuguesa não pode viver do passado e achar que o que aconteceu esse ano é reflexo de 2013. Isso eu vejo como uma forma de tentar esconder a incompetência de algumas pessoas. É um clube grande que pode e vai se reerguer, mas é preciso cada um assumir seus erros e dar início à reconstrução”, desabafou, sem querer citar nomes.
Virou problema. Aquele jogo com o Grêmio era o último de Héverton pela Portuguesa, pois ele iria embora. Após a polêmica, uma nova decepção: a reação dos dirigentes de outros times. “Os clubes falaram que não me queriam, pois eu seria um problema. Fiquei chateado, porque eu não tinha culpa nenhuma de tudo aquilo e de uma hora para outra virei problema. Falavam que eu seria um problema para o grupo”, contou.
“Eu ficaria marcado, né? Se eu bato um pênalti e erro, iriam falar que eu errei porque estava vendido para alguém. Não ia ter paz para jogar” Por causa disso, ele agradece a confiança dada pelo Paysandu, clube em que se transferiu em 2014.
Passado tanto tempo, Héverton mantém a opinião de que tudo não passou de um amadorismo por parte dos diretores da Portuguesa. Ele não acredita em má-fé ou algum tipo de irregularidade. “Se fizeram alguma coisa, foi muito bem feito, porque em momento algum percebi qualquer coisa diferente. Acredito que foi amadorismo total mesmo. Não dou 100% de certeza, mas uns 95%”, opinou o ex-atacante, que dentre outros clubes, passou também por Ponte Preta e Corinthians e jogou no futebol coreano.