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Impulsionada por Hagi, Romênia ressurge no futebol e sonha com o ouro olímpico em Tóquio

País garante vaga na Olimpíada com elenco cuja metade dos jogadores foi revelada na base pelo antigo camisa 10

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Por Ciro Campos
Atualização:

Imagine se Pelé criasse um clube no Brasil do qual é dono e treinador e tivesse investido nele cerca de R$ 30 milhões para criar uma moderna estrutura para categorias de base. O curioso roteiro tem se passa na Romênia, onde o maior jogador da história do país, o ex-meia Georghe Hagi, tem causado uma revolução. O trabalho dele no Viitorul Constanta é um dos principais fatores que levam a seleção local a revelar uma geração promissora e se classificar para a disputa do torneio de futebol dos Jogos do Tóquio.

Conhecido como o Maradona dos Cárpatos, Hagi se tornou famoso mundialmente pela Copa de 1994. A seleção romena chegou às quartas de final naquele ano graças à técnica apurada daquele camisa 10. O país se consolidou na década como uma potência europeia, ao disputar três Mundiais, duas Eurocopas e chegar em 1997 à terceira posição do ranking da Fifa, atrás apenas de Brasil e Alemanha.

Hagi deixa o campo em jogo comemorativo e dá lugar ao filho Foto: Divulgação/Viitorul Constanta

A aposentadoria de Hagi e de outros craques daquela talentosa geração fez a seleção local sumir do cenário. Mas o mesmo protagonista do ápice do futebol romeno é agora o pivô do processo de renascimento. Dos 18 jogadores que levaram a equipe a se garantir nos Jogos de Tóquio, nove foram revelados pelas categorias de base do Viitorul Constanta, conhecidas na Romênia como Academia Hagi.

Seleção romena estará presenta no torneio olímpico de futebol, em Tóquio Foto: Divulgação/Federação Romena de Futebol

O ex-jogador criou o projeto em 2009. Integram o trabalho atletas desde a categoria sub-7, organizados em uma estrutura com oito campos oficiais, alojamento, academia e departamento médico. A metodologia de trabalho foi inspirada no Barcelona, onde Hagi atuou como jogador. Todos os garotos treinam regidos pelo mesma proposta de jogo. Não por acaso, o clube leva o nome Viitorul, que quer dizer futuro em romeno. O Constanta é uma referência ao distrito onde o time está localizado.

Liderada por Hagi, Romênia viveu época de ouro no futebol na década de 1990 Foto: Radu Sigheti/Reuters

O atacante brasileiro Rivaldinho, filho do pentacampeão Rivaldo, é testemunha do trabalho de Hagi, ao estar na terceira temporada no futebol local e ser titular absoluto da equipe atual. "O Mister Hagi é responsável pelo Viitorul ser o que é hoje em dia. O Viitorul é respeitado, temido e é uma fábrica de revelar jogadores na Romênia graças a ele", disse ao Estado.

Rivaldinho é um dos destaques do time de Hagi Foto: Divulgação/Viitorul Constanta

O clube de Hagi foi campeão nacional há três anos e revelou recentemente um dos grandes nomes da atual geração olímpica. Filho do ex-craque, Ianis Hagi também é meia e agora defende o Rangers, da Escócia. "Ianis é um craque. Talento puro. Nunca vi um jogador bater igual na bola com a direita e a esquerda. Acredito que ele vai chegar longe, e merece isso. Pois é um menino muito dedicado, humilde e que merece", elogiou Rivaldinho.

Ianis Hagi é o grande nome de atual geração romena Foto: Lee Smith/Reuters

Fundador, dono e treinador do clube, Hagi lidera a academia para talentos e o elenco profissional com rigor. O ex-goleiro Peterson Peçanha atuou seis meses no Viitorul entre 2015 e 2016 e ficou impressionado com o trabalho de Hagi. "Tudo no clube é à maneira dele. O Hagi preza muito pela qualidade técnica e só contrata treinadores que aceitam se encaixar ao projeto", disse Peterson, que atualmente é treinador e mora em Portugal.

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Peterson Peçanha foi goleiro do Viitorul Constanta Foto: Arquivo Pessoal/Peterson Peçanha

O Viitorul virou um projeto após o ex-jogador romeno passar pelo cargo de dirigente por outras equipes e até pela seleção romena. A fama no país lhe possibilita ter prestígio mesmo com os jogadores jovens e que não eram nascidos quando o camisa 10 estava no auge. "Ele é uma pessoa fantástica, que me ensina a cada dia. Tem mentalidade de vencedor, a cada dia quer melhorar e quer nos fazer melhores em cada treinamento", elogiou Rivaldinho.

Hagi durante treino da Romênia para a Eurocopa de 1996, na Inglaterra Foto: Radu Sigheti/Reuters

Desde 1964 a Romênia não classificava uma equipe para o torneio olímpico de futebol. Parte dessa antiga geração representou o país anos depois na Copa de 1970, quando inclusive enfrentou o Brasil na fase de grupos do Mundial do México. Para se garantir na próxima edição da Olimpíada, a Romênia desclassificou nas Eliminatórias a Inglaterra.

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