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Jogadores do Irã não cantam hino nacional no Catar enquanto mulheres iranianas choram no estádio

Torcedoras são proibidas de frequentar arenas de futebol no país; atletas da seleção fazem protestos na apresentação oficial

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Por Redação

Apesar da goleada de 6 a 2 da Inglaterra sobre o Irã na partida de estreia das seleções na Copa do Mundo do Catar, uma cena chamou a atenção na torcida iraniana antes do apito inicial. Durante a execução do hino nacional, torcedoras iranianas se emocionaram e foram às lágrimas. Proibidas por 40 anos de entrarem nos estádios em seu país, muitas iranianas vivem pela primeira vez a sensação de frequentar um jogo de futebol na Copa do Mundo.

A transmissão oficial da Fifa registrou a cena de uma torcedora que chorou e aplaudiu durante a execução do hino nacional do Irã. As mulheres foram impedidas de entrar em estádios logo após a revolução islâmica do país em 1979. Após protestos em 2019, a FIFA ordenou que o Irã permitisse o acesso de mulheres aos estádios. Desde então, elas foram autorizadas a participar de algumas partidas.

Torcedora iraniana chora por conseguir frequentar estádio de futebol no Catar  Foto: Reprodução

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Segundo o governo do Irã, os estádios precisam estar preparados – incluindo ambulâncias separadas para mulheres – para “acomodar as torcedoras e garantir sua segurança”. Na prática, elas só podem entrar em jogos liberados pelo regime.

Nem todas também estavam de véu cobrindo os cabelos. Algumas mulheres com camisas do time iraniano se vestiam sem qualquer traje tradicional do seu país.

Torcedores iranianos seguram cartaz pedindo por liberdade no Irã durante jogo contra a Inglaterra na Copa do Mundo do Catar  Foto: Ronald Wittek/EFE

Jogadores em silêncio

Já os jogadores do Irã se recusaram a cantar o hino nacional quando estavam perfilados no gramado. Diferentemente dos ingleses, que entoaram o “God Save The King” – “Deus Salve o Rei”, na tradução livre – e ainda se ajoelharam em sinal contra o racismo, os atletas iranianos permaneceram em silêncio durante a execução do hino.

Os jogadores se posicionaram a favor das manifestações no país contra o regime teocrático do Irã. A televisão estatal iraniana, durante sua transmissão ao vivo, não exibiu as imagens dos jogadores se alinhando antes da partida enquanto o hino era tocado.

“Na pior das hipóteses, serei demitido da seleção nacional. Sem problemas. Eu sacrificaria isso por um fio de cabelo na cabeça das mulheres iranianas”, afirmou Sardar Azmoun, atacante do Bayer Leverkusen, em seu Instagram.

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As manifestações no Irã começaram após a morte de Mahsa Amini, uma jovem iraniana que se recusou a usar o véu. A onda de protestos contra o governo levou a centenas de mortes e milhares de prisões. No Estádio Internacional Khalifa, torcedores iranianos ergueram uma bandeira com os dizeres usados pelas manifestantes: “women, life, freedom” – “mulheres, vida e liberdade” .

A Fifa não se manifestou ainda sobre o episódio dos jogadores calados no gramado. A entidade entendeu que se trata de um protesto silencioso do time iraniano, e manifestações políticas e religiosas são proibidas pela entidade. Não está descartado algum tipo de punição ao time ou aos jogadores.

A goleada de 6 a 2 para a Inglaterra, inclusive, foi amenizada pelo técnico do Irã, o português Carlos Queiroz. Para o treinador, seus atletas entraram em campo pressionados por questões que fogem da esfera esportiva. “Eles (jogadores) não estão no melhor ambiente em termos de concentração para os problemas que os cercam”, afirmou.

“Meus jogadores são seres humanos, têm filhos, têm um sonho, que é jogar pelo seu país e para o seu povo. Estou orgulhoso porque eles entraram em campo e lutaram por isso. Marcaram dois gols na Inglaterra nessas circunstâncias”, completou.

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