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Lei das SAFs completa um ano com projeção de mudanças na organização do futebol brasileiro

Com alguns clubes trabalhando no novo modelo, regulamentação também traz obrigações que podem tornar os clubes mais transparente e sustentáveis

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Por Redação
Atualização:

Com o status de esperança para muitos clubes brasileiros, a Lei nº 14.193, que permite a instituição das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol), completa um ano de existência. Apesar de parecer prática e prometer transformar o cenário para os próximos anos, a regulamentação requer muito conhecimento, discussão e planejamento.

Caracterizada por dar aos clubes um "respiro" ao proporcionar a chance de recomeçar longe das dívidas, a SAF surge como um modelo capaz de abrir as portas para novas receitas, além de potenciais investidores. Para Jorge Braga, CEO do Botafogo e um dos principais encarregados pela implementação do modelo de clube empresa do alvinegro carioca, essa possibilidade de mudança pode ser vista como uma belíssima ferramenta para os clubes rumo à modernidade.

John Textor tem enfrentado importantes desafios para construir um novo Botafogo Foto: Vítor Silva/ BFR

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"A lei não é um marco regulatório que irá resolver todos os problemas do futebol brasileiro, mas é uma belíssima ferramenta para solucionar o maior problema da maioria, que é o alto endividamento. De uma forma mais clara, é como se fosse criada uma startup, usando as cores e a bandeira dos clubes, e que os permite captar novos investimentos, criando novas receitas que proporcionarão investimentos em estrutura, novos jogadores e etc. Por outro lado, é preciso cumprir exigências como pagamentos condicionados à receita, divulgação de balanços e relatórios, responsabilidade civil, sendo um avanço em direção à uma modernidade que alinhará o Brasil com o que já é feito em outros lugares, especialmente na Europa", analisou.

Quem segue a mesma linha de pensamento é Eduardo Carlezzo, advogado, sócio do Carlezzo Advogados, especialista em direito desportivo. “É claro que não podemos fechar os olhos aos problemas e que vários clubes carregam um endividamento pesado. Porém, antes não havia uma solução clara para dívidas impagáveis, agora essa alternativa está aberta a todos os interessados e os exemplos já são visíveis nos casos do Cruzeiro, Vasco e Botafogo”, disse.

Ainda de acordo com Jorge Braga, no entanto, o sucesso de uma SAF vai muito além da injeção de dinheiro no clube. Citando sua experiência no Botafogo, o especialista chama atenção para a importância de "preparar o terreno" antes de mais nada.

"A SAF é melhor aproveitada quando ela chega para ser a cereja do bolo. Antes da chegada do investidor, é preciso organizar a casa. Foi assim que fizemos no Botafogo. Demos um choque de cultura e de gestão no clube. Reduzimos despesas, melhoramos processos administrativos, buscamos novas receitas, honramos compromissos e mudamos a mentalidade de como encarar os problemas. Assim, quando o investidor, o clube já estava equacionado, com o endereçamento de suas dívidas. Sem dúvida, até pelo que vejo no mercado, o Botafogo hoje é um exemplo no processo de transformação em SAF", pontuou.

Segundo o CEO carioca, cravar que as SAFs serão a salvação do futebol brasileiro é querer adivinhar o futuro. No entanto, essa "segunda chance" dada pelo modelo pode mudar o panorama. "Falar em futuro é complicado, mas acho que a SAF dá uma espécie de segunda chance. Se bem executada, é a segunda chance que pode mudar o cenário do futebol brasileiro, de movimentar peças. É importante também que os investidores tratem a SAF como um ativo do clube, colocando a instituição sempre em primeiro lugar.", projetou.

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Ainda que o assunto esteja muito em alta e o processo de transformação já esteja em curso em muitos clubes, Braga incentiva o caminho, mas esclarece que há alguns percalços para concretizar uma transformação que faça os clubes colherem bons frutos mais adiante.

"Não necessariamente é o modelo ideal para 100% dos clubes brasileiros. Alguns possuem seus modelos de gestão, outros não convivem com muitas dívidas. Mas, acredito que quem percorrer esse caminho, que já foi desbravado pelo Botafogo, ou seja, livre de surpresas, terá muita água limpa pra beber e certamente criará um diferencial competitivo", finalizou.

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