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Grupo suspeito de manipular resultados do Brasileirão e Estaduais ofereceu R$ 100 mil a atletas

Derrota no primeiro tempo, número de escanteios e de cartões amarelos e vermelhos rendiam grandes quantias para participantes do esquema; zagueiro da Chapecoense é um dos alvos

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Por Redação
Atualização:

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) realizou nesta terça-feira uma operação contra um grupo suspeito de manipular resultados de jogos do Brasileirão e de Campeonatos Estaduais. A ação, batizada de Penalidade Máxima II, foi deflagrada por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI). Foram cumpridos três mandados de prisão preventiva e 20 de busca e apreensão, em 16 municípios de 20 Estados brasileiros diferentes, inclusive em São Paulo e Rio.

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A suspeita é de que os criminosos tenham atuado de maneira concreta em seis jogos da Série A do Campeonato Brasileiro de 2022, além de interferir em outras cinco partidas do Paulistão, Gaúcho e Mato-Grossense deste ano. Os mandados estão sendo cumpridos em Goianira (GO), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Pelotas (RS), Santa Maria (RS), Erechim (RS), Chapecó (SC), Tubarão (SC), Bragança Paulista (SP), Guarulhos (SP), Santo André (SP), Santana do Parnaíba (SP), Santos (SP), Taubaté (SP) e Presidente Venceslau (SP).

O zagueiro Victor Ramos, da Chapecoense, está entre os alvos da ação. Há outros atletas de times como Bragantino, Sport e Juventude. O clube de Chapecó publicou uma nota sem divulgar o nome do jogador, reiterando seu posicionamento contra manipulações esportivas e ressaltando a confiança na conduta do atleta.

De acordo com as investigações, o grupo criminoso atuou mediante cooptação de jogadores profissionais de futebol, com oferta entre R$ 50 mil a R$ 100 mil aos atletas para que eles cometessem eventos determinados nos jogos de apostas. Derrota no primeiro tempo, número de escanteios e de cartões rendiam até R$ 100 mil para o atleta participante do esquema.

Gaeco realizou operação no início desta terça-feira contra fraude em resultados da Série B nesta terça-feira. Foto: Divulgação/Gaeco

Há indícios de que as condutas previamente solicitadas aos jogadores visavam possibilitar que os investigados conseguissem grandes lucros em apostas realizadas em sites de casas esportivas, utilizando, ainda, contas cadastradas em nome de terceiros para aumentar os lucros.

A ação é um desdobramento da Operação Penalidade Máxima, deflagrada em fevereiro, que resultou na prisão preventiva de Bruno Lopez de Moura, empresário de jogadores. Também foram alvos a empresa BC Sports Management, do qual Bruno é dono, e os atletas Gabriel Domingos de Moura, volante do Vila Nova; Marcos Vinícius Alves Barreira, conhecido como Romário e que teve o contrato rescindido com o Vila Nova em novembro do ano passado; Joseph Maurício de Oliveira Figueiredo, do Tombense; e Mateus da Silva Duarte, que jogava no Sampaio Corrêa e hoje está no Cuiabá.

A concessão do habeas corpus para Bruno Moura foi dada pelo desembargador Edison Miguel da Silva, do Tribunal de Justiça de Goiás. A liminar não diz respeito à culpabilidade do acusado, o caso segue sob investigação e deve ampliar a busca por indícios de manipulação de resultados a outras divisões e torneios do futebol brasileiro. Nenhuma federação estadual se manifestou.

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O grupo de apostadores teria manipulado o resultado de pelo menos três partidas ocorridas na Série B de 2022. São elas: Tombense x Criciúma; Sampaio Correia x Londrina; e Vila Nova x Sport. De acordo com o MP-GO, o grupo receberia de R$ 500 mil a R$ 2 milhões por jogo com o esquema.

ESPECIALISTA DEFENDE CRIAÇÃO DE ENTIDADE NACIONAL CENTRALIZADA

Mariana Chamelette, que é Procuradora do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol de São Paulo, especialista em Direito Desportivo, Compliance e Integridade no Esporte, e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo, aborda alguns pontos e vê a necessidade da criação de uma entidade nacional centralizada no combate à manipulação de resultados.

“Para se combater a manipulação de resultados, é imprescindível que se entenda tal fenômeno e que se atue de maneira integrada. Por isso, é oportuna a criação de uma entidade nacional centralizada, como único ponto de contato em questões relacionadas à manipulação de resultados, de maneira a simplificar o intercâmbio de dados relacionados às apostas esportivas, inclusive em âmbito transnacional, e conectar de maneira eficaz as entidades de administração e prática desportiva, operadores de apostas e agências governamentais de aplicação da lei (polícias e Ministérios Públicos)”, defende.

Segunda ela, uma autoridade nacional voltada à integridade desportiva teria o potencial de simplificar a troca de dados e o encaminhamento das informações para as agências governamentais de aplicação da lei e para as entidades desportivas nacionais.

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“Também possibilitaria a criação de um regramento unificado de diretrizes relacionadas à prevenção e contra a manipulação de resultados a serem seguidas por todos os organizadores de competições desportivas disponibilizadas no mercado de apostas, bem como poderia disseminar informações importantes, realizar campanhas preventivas e fomentar a capacitação de todos os envolvidos na prática esportiva – e por que não? –,aumentar os recursos empregados no combate das fraudes”, explica.

Uma das casas de apostas esportivas que mais cresceram entre 2022 e 2023, o Esportes da Sorte, vê com bons olhos a atuação do Ministério Público de Goiás para investigar um grupo especializado em fraudar resultados de jogos da Série B do Campeonato Brasileiro, com objetivo de influenciar apostas de valores milionários. O CEO da plataforma, Darwin Filho, entende que esses escândalos são extremamente prejudiciais às plataformas consideradas sérias em atuação no país.

“As casas de apostas são as principais prejudicadas com a manipulação dos resultados, afinal, toda a rentabilização desse crime é angariada através de apostas nos sites que oferecem a modalidade no Brasil”, afirma. “Embora melhor que outrora, ainda estamos longe do cenário ideal, uma vez que não há regras para repasse desse tipo de informação, e tudo funciona na base da cooperação e boa-fé dos operadores sérios. A regulamentação estabeleceria certas exigências e geraria obrigatoriedade nesse intercâmbio de informações. Conseguiríamos, desta maneira, em conjunto com as federações e o poder público, ajudar ainda mais a combater esse tipo de crime.”

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