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Oliveira Andrade cita ‘prejuízo moral’ após demissão da Record: ‘Me levaram do céu ao inferno’

Narrador trabalhou em apenas dois jogos do Campeonato Paulista nesta temporada; em nota, emissora agradeceu parceria com o profissional

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Foto do author Murillo César Alves
Por Murillo César Alves
Atualização:
Foto: Antonio Chahestian/Record TV/Divulgação
Entrevista comOliveira AndradeNarrador esportivo

“Me colocaram no céu e de repente me levaram ao inferno.” Oliveira Andrade chegou com ‘pompa’ na Record para a narração do Campeonato Paulista desta temporada. Com mais de 40 anos de profissão, o profissional viu nessa oportunidade um salto na carreira, dado ao alcance que a competição tem na TV Aberta. Com apenas dois jogos narrados – Corinthians x Guarani e Palmeiras x Inter de Limeira –, foi demitido na última quinta-feira, sem explicações da emissora. Em nota enviada ao Estadão, a Record “agradece a parceria com Oliveira Andrade neste início de Campeonato”.

Segundo o narrador, que não esconde a mágoa pela “forma como a demissão foi conduzida”, a emissora não o contatou ou teceu críticas diretas a respeito da sua maneira própria de narrar. A demissão foi informada por um dos diretores da emissora, por telefone, na última quinta-feira, dizendo apenas que “não haveria interesse de seguir com o profissional em seu quadro de narradores.”

Oliveira Andrade foi contratado, junto com Casagrande e Sálvio Spínola, para integrar a equipe da Record na cobertura do Campeonato Paulista. “Estava quieto, trabalhando. Não fui atrás da emissora, eles que me convidaram para trabalhar”, afirma. Esta foi sua terceira passagem pela emissora, e o narrador não esconde o carinho que tem pela sua antiga casa, apesar da forma como sua demissão foi conduzida. “Eles têm o direito de contratar ou demitir quem bem entendem, mas não posso aceitar.”

Não houve uma conversa com a direção de jornalismo da Record antes de seu corte. Uma das razões, no entanto, teria sido pelo seu estilo de narração, segundo alega Oliveira. “Hoje estamos sujeitos ao tribunal da internet. Teriam tido muitas críticas a mim lá. Mas, se a empresa for se pautar pela rede social, o Galvão Bueno não teria tido a carreira que teve”, afirma. “As redes sociais são um verdadeiro esgoto. Eu até evito de ler isso aí (as críticas), ficar vasculhando a internet. Mesmo se me pedissem para mudar meu estilo de narração, depois de 40 anos de profissão, não mudaria.”

O narrador não sabe, de fato, qual foi a razão para o seu corte. “Se foi norteada pelas críticas na internet, foi um erro.” Na estreia, na vitória do Corinthians sobre o Guarani, a emissora atingiu sua melhor audiência com o Campeonato Paulista desde que iniciou a cobertura, em 2022. Foram 9,4 pontos, segundo a Kantar Ibope. Em 2021, a estreia entre Red Bull Bragantino e Corinthians alcançou 8,4 pontos. Em 2022, o jogo entre Novorizontino e Palmeiras chegou a 8 pontos.

Depois de 40 anos de profissão, não mudaria meu estilo de narração, mesmo se me pedissem

Oliveira Andrade, ex-narrador da Record

“Faço uma autocrítica sobre meu trabalho, sei quando vou mal e quando vou bem”, diz o narrador. Na sua estreia, revelou estar “nervoso” com o ambiente. “Muita gente em cima, não conhecia todos os jogadores do Guarani, errei algumas vezes. Mas qual narrador não erra?” Nesses momentos, no entanto, ainda tinha o apoio da emissora, que confiava no crescimento da audiência em meio aos problemas das transmissões do Paulistão pelo streaming.

Oliveira Andrade continua na Bandsports após demissão da Record. Foto: Divulgação/ Band

O substituto escolhido, com a saída de Oliveira, é Lucas Pereira, narrador que já atuou por 11 anos na Record TV e outros 15 no SporTV. Ele acumula coberturas em Jogos Olímpicos, Copas do Mundo e Jogos Pan-Americanos. É uma recontratação da Record, já que Pereira havia sido demitido em um corte em massa feito no ano passado. A chegada de Oliveira, anunciada ainda em 2023, foi um dos principais investimentos da casa.

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“Erros durante a transmissão sempre vai ter.” Oliveira cita o caso de Lucas Pereira e dos cortes na equipe de esportes em 2023, mesmo com a cobertura do Campeonato Paulista planejada para o ano seguinte. “Lucas é um bom narrador, por qual motivo não ficaram com ele? Com todo o respeito ao Lucas, mas não muda em nada a sua volta. Ele é um narrador clássico, semelhante a mim.”

Apoio após demissão

Oliveira destaca o “prejuízo moral” como uma das consequências da sua demissão. Busca um ressarcimento financeiro junto à emissora, mas se sentiu apoiado por amigos e colegas após a notícia do corte. Antes do início do clássico entre Palmeiras e Santos, ao lado do novo narrador, o comentarista Walter Casagrande mandou um beijo para Oliveira. “Fiquei com medo até de que ele sofresse algum tipo de represália”, afirma o ex-narrador da Record.

O mesmo aconteceu com Neto, apresentador e comentarista da Band, e sua equipe de transmissão na Record, que se mostraram surpresos com a notícia. O convite para trabalhar na emissora foi visto como uma grande oportunidade para Oliveira. “O maior Estadual do País, com exclusividade na TV aberta. Me colocaram no céu e de repente me levaram ao inferno”, disse o narrador.

Me colocaram no céu e de repente me levaram ao inferno

Oliveira Andrade, ex-narrador da Record

Oliveira mora em Campinas e viaja a São Paulo, quase diariamente, a trabalho. Na Bandsports, mesmo após saída da Band em 2023, o profissional recebeu suporte para trabalhar na Record, no período que durasse o Campeonato Paulista. Sua escala de trabalho na emissora da TV fechada foi adequada para não haver conflitos com os jogos do Estadual – a Record tem direito à cobertura de um jogo por rodada na TV aberta.

Aposentadoria

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Aberto a propostas, assim como ocorreu com o convite para trabalhar na Record, Oliveira mantém a vontade em trabalhar com esporte, mas se vê próximo de uma aposentadoria. “Andei pensando seriamente em encaminhar para o final da minha carreira. Gosto muito do que faço e não sei trabalhar com outra coisa, desde minha juventude.” O narrador enxerga uma busca por novos talentos nas narrações, principalmente no streaming – e que possuem um estilo diferente daquele que cultivou ao longo de seus anos no esporte.

“A moda atual na narração é ‘gritaria’. Aprendi, ainda nos meus primeiros anos na Globo, que a linguagem de TV é de apoio. Narrador tem que dar o tempo para o telespectador respirar”, afirma Oliveira. “Sem citar nomes, mas há aqueles que vibram até com o arremesso de lateral. Não é o meu estilo.”

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