Publicidade

Fabiana Murer inspira atletas para fazer carreira no salto com vara

Com recorde de inscrição no Troféu Brasil, modalidade repete 'efeito Guga' do tênis

PUBLICIDADE

Foto do author Gonçalo Junior
Por Gonçalo Junior
Atualização:

A estudante Maria Clara Teixeira tem uma resposta incomum para a pergunta sobre o futuro, o tradicional "o que você quer ser quando crescer?" Depois de um sorriso leve e encabulado, a adolescente de 15 anos diz: "Quero ser como a Fabiana Murer".

PUBLICIDADE

A resposta não é tão específica quanto parece. No Troféu Brasil de Atletismo, o salto com vara, a modalidade de Murer, teve o recorde de 25 meninas inscritas na fase classificatória. Nos clubes, o movimento é o mesmo. "Está acontecendo no salto com vara o que houve com o Guga no tênis alguns anos atrás", opina Antonio Carlos Gomes, superintendente de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Atletismo.

Maria Clara é uma das dez meninas entre 13 e 18 anos do Instituto Elisângela Maria Adriana (IEMA), núcleo de iniciação esportiva do Centro de Treinamento da BM&F Bovespa. Depois de experimentar dez modalidades diferentes, ela se encontrou no salto com vara.

Hoje, conta que se sente motivada por treinar diariamente com a própria Fabiana, no mesmo local. "A inspiração vem das conquistas dela. Ela sempre fala com a gente, é bastante acessível", conta Nicole Caroline de Lima Barbosa, uma das atletas do Troféu Brasil e que tem contato diário com a primeira brasileira campeã mundial de salto com vara e esperança de medalha no Rio.

Fabiana treina no mesmo espaço das novatas, a geração de 2020. O Estado acompanhou as atividades da quinta-feira em São Caetano do Sul. Como diz Nicole, ela é uma campeã acessível, que conversa, dá risada e troca ideias com as meninas. Naturalmente. Volta e meia, dá uma olhadinha e uma dica.

Aí, as promessas vão ao céu. Literalmente. "Quando eu assistia na tevê, ela parecia de outro mundo. Agora tenho a chance de treinar com ela, com os mesmos equipamentos. Ela não é nariz empinado", diz a atleta Ana Carolina Dias, de 18 anos.

A leitura sugere que a proximidade diária com Fabiana e a atenção inesperada do ídolo são fundamentais para a formação de novas atletas. Não é só isso. Na Sociedade Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), no Rio Grande do Sul, dobrou o número de saltadoras desde que Murer participou de dois torneios na região no ano passado: a Copa Gaúcha e o Campeonato Estadual de Atletismo. O número de atletas passou de oito para 19 em apenas um ano. A realidade da modalidade é essa mesma e envolve números diminutos, não é possível falar em dezenas.

Publicidade

Na opinião de José Haroldo, treinador chefe de atletismo da Sogipa, a figura de Fabiana Murer também explica outro fenômeno recente: a supremacia feminina nas categorias de base. No clube do Sul do País são apenas 11 meninos. "O ídolo arrasta. O exemplo encoraja. Quando ela vem aqui e conta sua história vencedora, as meninas ganham confiança para fazer também", explica.

No Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, órgão da Secretaria de Esportes da Prefeitura de São Paulo, a proporção é de 70% de meninas e 30% de meninos na categoria sub-16. De novo, os números são modestos: dos dez atletas são sete meninas.

Murer inspira jovens esportistas a apostar na modalidade Foto: Felipe Rau/Estadão

ÍNDICEA confederação também deu um empurrãozinho para a popularização da modalidade. Quase literal. No Troféu Brasil, a entidade diminuiu o índice de 3,30 m para 2,90 m. A ideia era aumentar a participação dos atletas. A medida deu certo com as meninas, mas não com os meninos, que continuaram sem fase preliminar por causa do baixo número de atletas. Mesmo com esse porém, a conclusão é a mesma: mais meninas estão praticando o salto com vara.

Elson Miranda, técnico de Fabiana Murer no salto com vara, considera positivo o aumento do número de atletas, mas ressalta a necessidade de melhoria do nível técnico. "Existe um gap entre o resultado da Fabiana, da Joana (Joana Ribeiro Costa, segunda colocada e que conquistou o índice olímpico) e as marcas das outras atletas. Precisamos trabalhar para esse nível subir, e o índice vai subir também", diz Elson.

Embora esteja passos atrás no números de participantes, o masculino também produz bons resultados. Além de Anderson Dutra, que conquistou o índice olímpico com 5,81 m, Thiago Braz terminou 2015 entre os quatro melhores do mundo, com 5,92 m, mas não chegou às finais do Pan e do Mundial.

No começo desta temporada, em Berlim, o brasileiro deu a volta por cima. Superou o atual campeão olímpico e recordista mundial da prova em pista coberta, o francês Renaud Lavillenie, e ainda bateu o seu recorde sul-americano com 5,93 m, melhor marca de sua carreira. Tiago vai para os Jogos do Rio.