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Quem é o personal ‘maluco’ que correu quase 30 km entre Itaquera e o Allianz, em SP

Corredor Pedro Paulo Amorim viraliza na internet com trajetos longos e insólitos, como os quase 30 km que percorreu do estádio do Corinthians à arena do Palmeiras

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Foto do author Ricardo Magatti
Por Ricardo Magatti
Atualização:

Cansado de enfrentar longos congestionamentos, superlotações no transporte público e todos os outros muitos problemas de deslocamento no Rio, sua cidade natal, Pedro Paulo Amorim, 32 anos, resolveu voltar da faculdade em que estudava até sua casa, na zona norte da capital fluminense, a pé. Primeiro, foi caminhando. Depois, passou a correr. Tomou gosto pela corrida, melhorou sua saúde e hoje, mais de uma década depois, se transformou em um conhecido corredor nas redes sociais que incentiva outras pessoas - muitas delas sedentárias - a se aventurarem na corrida.

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“Percebi que podia voltar pra casa em meia hora, com a liberdade que não teria em nenhum meio de transporte. De carro, às vezes, levava 45 minutos. Foi meio de transporte, não com intuito de saúde, no começo”, conta Pedro Paulo, ao Estadão.

A rotina atribulada de muitas horas dentro da academia afastou o educador físico da corrida durante um tempo. Ele retornou às ruas durante a pandemia. Incomodado com o confinamento e, como a maioria, ansioso com as incertezas que a covid provocava naquele momento, Pedro Paulo calçou seu par de tênis e resolveu voltar a correr. Sem trabalhar devido ao fechamento das academias, a corrida era a única atividade esportiva que ele podia praticar naquele período. Esse hábito melhorou sua saúde mental e reduziu a angústia e ansiedade.

Pedro Paulo se tornou popular na internet com seus percursos de corrida longos e inusitados Foto: Acervo pessoal

“Eu sabia que precisava da corrida, da minha terapia”, diz. Mas foi já no período pós-pandemia que o educador físico se tornou popular nas redes sociais e seus vídeos, virais, mesmo sem que tivesse essa intenção. “Um dia, tive uma discussão com a minha esposa durante a sua gravidez, naquele período hormonal difícil, e saí pra correr como fazia. Só que eu levei o celular sem perceber e decidi filmar. O trajeto foi de casa até o Engenhão e a volta. Quando postei, tinha 30 mil visualizações no TikTok”, conta.

As pessoas se interessaram pelo conteúdo, ele avalia, principalmente por causa de seu estilo aventureiro e por mostrar a realidade como ela é. O carioca passa por lugares perigosos e denuncia os problemas nas vias do Rio por onde corre, como a insegurança urbana, ciclovias tortas, ruas esburacadas e a falta de estrutura para corredores e ciclistas. São mais de 400 mil seguidores no Instagram e outros 170 mil no TikTok que acompanham os trajetos insólitos percorridos pelo educador físico, que diz não calcular riscos quando sai de casa, quase sempre de madrugada, antes do “loirão” - apelido que deu ao sol em seus vídeos - aparecer.

Nunca fui assaltado correndo. Não calculo risco, nem sei para onde eu vou e a distância que vou fazer. Saio pra correr, decido a direção e vou até onde minha perna aguentar ou o horário bater. Na volta, sempre pego metrô, trem ou ônibus, que é sempre a última opção.

Pedro Paulo Amorim, corredor e educador físico

“A falta de infraestrutura me faz correr na rua, e correndo na rua, estou exposto a motoristas bêbados de madrugada, aos problemas de infraestrutura. Se algum dia eu for atropelado é porque estou correndo na rua pela falta de estrutura”, constata o carioca, que, em todos vídeos, deixa claro o amor pelo esporte. “Correr é bom demais”, brada ele.

Da Neo Química Arena ao Allianz Parque

Pedro Paulo tem um currículo extenso de distâncias longas e percursos incomuns em que seu anjo da guarda teve de lhe proteger. Foi de De Copacabana ao Jardim Oceânico, da Barra da Tijuca ao Aterro do Flamengo, de Maria da Graça, seu bairro, a Nova Iguaçu. Mas foi fora do Rio onde gravou o vídeo que mais chocou seus seguidores.

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O personal decidiu correr da Neo Química Arena, em Itaquera, zona leste de São Paulo, ao Allianz Parque, na Barra Funda, zona oeste da capital paulista. Fez essa rota, de cerca de 25 quilômetros, sem conhecer um canto sequer da cidade.

Em São Paulo, pensei que tinha que correr de um estádio até outro. Perguntei pra um cara da pousada onde fiquei se Itaquera até Barra Funda era distante. Ele falou que era meio barra pesada, mas era em linha reta, dava pra fazer. A reação dele me instigou a fazer”, relata o corredor, geralmente motivado a fazer o que é pouco feito. Ele estranhou o comportamento dos paulistanos, poucos solícitos, durante o trajeto. Poucos lhe ajudaram. Por isso, teve de abrir o celular para se localizar.

“No caminho, eu tive certeza que era longe. Recebi dicas do motorista do Uber. Me perdi, fiz o que não faço nunca, que é olhar no GPS. As pessoas não sabiam me orientar no caminho. Quando cheguei na Sé eu puxei o celular porque ninguém me respondia mais. O pessoal virava a cara”.

Promotor de saúde

A corrida deixou Pedro Paulo famoso e abriu um novo leque de opções até então inimagináveis ao personal, como participação em conhecidos programas de televisão, parcerias comerciais, a oportunidade de conhecer novas cidades, como São Paulo, e a chance de correr no autódromo de Interlagos num evento em alusão aos 30 anos da morte de Ayrton Senna. “As marcas têm pagado os convites. Também recebo alguns cachês, mas nada que me faça parar de trabalhar”, afirma.

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Desde que se tornou conhecido, o educador físico conheceu viajou para conhecer novas cidades, viu algumas melhorias na estrutura para os corredores, como a revitalização da pista de corrida do entorno do Maracanã, e passou a receber centenas de relatos de pessoas que, ao verem seus vídeos, abandonaram o sedentarismo.

“Como professor, educador e promotor de saúde, isso só me incentiva a continuar. Tem dias que eu nem iria correr, mas eu corro porque eu sei que tem gente que tem visto e tem se motivado”, comenta, orgulhoso, o corredor carioca. “Gente da periferia, como eu, que não via condições de correr, mas agora está vendo. Eles dizem: ‘aquele cara fez, é possível, vou fazer’. Isso, pra mim, não tem preço. A premissa do educador físico é mudar vidas, promover saúde”.

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