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Desafio de Vettel é maior

Por REGINALDO LEME
Atualização:

Vou começar esta coluna por onde eu terminei a da semana passada. Explicando por que eu acredito que o desafio de Sebastian Vettel na Ferrari será bem maior que o de Fernando Alonso na McLaren. Em 2014 o tetracampeão duramente derrotado por um companheiro novato já foi poupado de maneira incomum no pensamento da mídia e do torcedor em geral. Mas em 2015, certamente, todos estarão de olho nos resultados de Vettel em relação a Raikkonen. A comparação a ser feita é com os resultados de Alonso, extremamente superiores aos do finlandês. O espanhol chegou à frente em 16 vezes das 19 corridas, mesmo com duas quebras, e não raramente a diferença entre os dois chegou a ser de cinco ou mais posições. No grid de largada o placar também foi 16 a 3 a favor de Alonso, algumas vezes com a diferença beirando um segundo, sem esquecer que por cinco vezes Raikkonen não passou do Q2 e uma vez ficou logo no Q3, a primeira das três partes da prova de classificação. Vettel, piloto de 39 vitórias e quatro títulos consecutivos, vem de uma equipe na qual o carro era projetado especificamente para seu estilo e, na mudança radical das regras, sem a influência que a aerodinâmica teve nos carros até 2013, acabou sendo superado pelo companheiro Daniel Ricciardo por 13 vezes. Que seriam 14 se o australiano não tivesse sido desclassificado de um 2.º lugar em seu próprio país. É até surpreendente ver a forma como Vettel compreende a surra que tomou do companheiro estreante na Red Bull, explicada por ambos através da adaptação a um estilo de pilotagem especial que os carros de 2014 exigiram. Mas, certamente isso contribuiu para a decisão repentina de deixar o barco em que tinha se tornado simplesmente o quarto maior vencedor da história da F-1, apenas duas a menos que Ayrton Senna. Por mais que a Ferrari tivesse sido o grande sonho de uma infância vivida na época do sucesso inigualável de seu ídolo Schumacher, Vettel vai encarar uma nova fase, com a difícil missão de provar que suas conquistas não foram apenas produto das mágicas criações de Adrian Newey. Mais do que nunca, o companheiro de equipe será o principal rival. A referência de Vettel é mais complexa do que simplesmente andar à frente de Raikkonen. Assim que pegar a mão do carro, ele terá que ser, pelo menos, meio segundo mais veloz do que o finlandês. Não quero dizer que o desafio de Alonso também não será grande. A McLaren está investindo numa troca do motor Mercedes pelo estreante Honda, que, no curto prazo, traz uma dose de risco. Para diminuir esse risco, a equipe agiu certo ao escolher o piloto mais experiente da F-1 (Button, 265 GPs) para fazer dupla com o mais completo do mundo. Button, que é ainda o único a ter vencido uma corrida pela equipe 100% Honda em 2006, está na McLaren desde 2010, é um piloto com título de campeão e sem o ímpeto que poderia ter o novato Magnussen de tentar derrotar Alonso, como fez Hamilton na desastrosa experiência de 2007. Ninguém pode esquecer que naquele ano Alonso foi pivô de uma série de denúncias, que, constatadas através de documentos entregues às autoridades por ele mesmo, levaram a McLaren a perder todos os pontos marcados no Campeonato de Construtores de 2007, o equivalente à multa de US$ 100 milhões aplicada pela FIA. Sem contar a perda do título por Hamilton de forma, no mínimo, estranha nas duas últimas corridas (saída de pista já no caminho do box com o pneu literalmente na lona na China, e a desconfiguração momentânea da caixa de marchas em Interlagos). Depois de tudo isso, ser engolido goela adentro por Ron Dennis é a prova máxima de que o espanhol é um piloto diferenciado, com qualidade técnica que supera tudo o que ele é capaz de fazer fora da pista. Sete anos mais velho, e tendo agora como companheiro Jenson Button, pessoa do bem, que jamais teve problema por onde passou, Alonso deve ser a peça que a McLaren precisava para encarar o desafio de enfrentar, com um motor estreante, os Renault, Ferrari e, especialmente, os poderosos Mercedes, que já passaram este ano por todos os obstáculos que a Honda deve enfrentar em 2015. Mas a F-1 conhece bem a fama que tem a Honda de atingir rapidamente uma meta. Williams e a própria McLaren sabem contar essa história em detalhes.

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