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Raikkonen e a frieza de um campeão

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Por Agencia Estado
Atualização:

Quando Kimi Raikkonen garante que está "muito, mas muito feliz", mexendo ligeiramente a boca como um personagem de desenho animado japonês, todos acreditam. Mas tamanha frieza chega a perturbar. O finlandês de 23 anos, que venceu o GP do Brasil neste domingo, em uma insólita corrida no autódromo de Interlagos, tem os olhos quase transparentes, com íris negras atentas e absolutamente controladas. Kimi fala de sua "imensa felicidade" pela segunda vitória consecutiva - foi o campeão no GP da Malásia, antes de São Paulo, depois de iniciar o ano com um terceiro lugar no GP da Austrália - e admite que levou "um pouco de sorte", lembrando que as condições da prova estavam "terríveis". Mas fala no mesmo tom, dando às explicações o mesmo peso de sua declaração de "muita, muita alegria". Para honrar a linhagem dos pilotos finlandeses, o líder do campeonato está com 26 pontos, depois de escapar ileso de uma corrida maluca, 11 à frente de seu companheiro de equipe, o escocês David Coulthard, quase dez anos mais velho. E ainda dando banho na arqui-rival Ferrari. Kimi é bem realista. Diz que simplesmente não via as curvas, nas primeira voltas, com o safety car - aliás uma decisão acertada, em sua opinião. Sete voltas depois, os carros foram "liberados" e Kimi, do quarto lugar, pulava sobre australiano Mark Webber, com Rubinho já ficando para trás. Na seqüência conseguiu uma espetacular ultrapassagem sobre Coulthard, no fim do "S do Senna", para assumir a liderança. Aí, explica, passou a achar a corrida mais fácil, porque começou a enxergar as curvas. Kimi assiste aos acidentes pela tevê, enquanto a seu lado Giancarlo Fisichella, da Jordan, se diz feliz pelo segundo lugar, não esperado, por sua importância para o futuro da equipe. E ao mesmo tempo triste por ter "perdido" sua vitória pelo regulamento, quando a corrida acabou e valia o resultado de duas voltas anteriores ao acidente. O italiano de 30 anos, já na oitava temporada de F-1, fala de sua primeira "vitória", que durou alguns minutos, como "um momento mágico, que durou muito pouco, infelizmente". E o jovem finlandês não mexe um cílio. Continua com as respostas. Confirma que os pneus de chuva de sulcos rasos pelo menos melhoraram no fim da corrida, com a pista já mais seca, se mostrando "mais e mais rápidos". E como escapou do acidente final, lembra, talvez por isso, que possa ter tido "um pouco mais de sorte que os outros". Quando perguntam se tem esperança de ser campeão este ano, o piloto que estreou na F-1 em 2001, na Sauber, passando em 2002 à McLaren, segue emendando uma ladainha de palavras: "Talvez sim, se conseguir manter os resultados que venho conseguindo. Mas posso ter menos sorte, também. O campeonato está apenas começando." De tão simples, as palavras de Kimi não soam como uma ameaça. Mas ali está uma fera.

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