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Conversa de pista

Opinião|John Surtees (1934-2017)

Inglês foi o único piloto campeão em motos e F1. Venceu na F-1 com Ferrari azul e branca. Foi patrão de Môco e Luizinho.

Atualização:

(Ilustração Wagner Gonzalez) Foto: Estadão

Jack e John Surtees, pai e filho disputaram provas de side-car na Inglaterra (Skidmark) Foto: Estadão

Faleceu hoje (10/3/2017) o inglês John Surtees, filho de um vendedor de motos de Forest Hill, bairro nobre de Londres e único piloto a conquistar o título de campeão mundial no motociclismo (1956/1958/1959/1960) e no automobilismo (1964). Natural de Tatsfield, no condado de Surrey, Surtees também tinha conhecimentos de mecânica amplos o suficiente para receber o título de doutor honoris causa em engenharia pela Universidade Oxford Brookes em 2015. Igualmente, era conhecido por suas posições irredutíveis, como puderam comprovar dois brasileiros que pilotaram seus carros de F-1: José Carlos Pace e Luiz Pereira Bueno.

Surtees e MV Agusta formaram uma combinação imabtível na Ilha de Man (ColumnM) Foto: Estadão

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A estreia de Surtees no motociclismo inglês foi marcada pela vitória e pela desclassificação da dupla que formou com seu pai, Jack: nessa ocasião ele tinha apenas 14 anos e não poderia ter disputado a prova de side-car. Uma vez atingida a idade legal para competir ele disputou e venceu várias provas no motociclismo inglês e garantiu um lugar na equipe oficial da Norton em 1955. Em dificuldades financeiras a marca não teve como evitar sua transferência para a MV Agusta, onde escreveu seu nome na história do esporte: entre 1958 e 1960 a dupla venceu 32 entre 39 provas. Nesse período ele se tornou o primeiro motociclista a vencer três edições consecutivas da clássica prova na Ilha de Man e venceu inúmeros títulos nas categorias 350 cm3 e 500 cm3. Sua passagem para o automobilismo aconteceu de forma impressionante: após algumas experiências com gts da Aston Martin ele estreou na F-Júnior vencendo em Goodwood ao volante de um Cooper inscrito por Ken Tyrrell. No mesmo ano foi convidado por Colin Chapman para integrar o Team Lotus e alinhou no GP de Mônaco 1960 ao volante de um modelo 18. A estreia na F-1, dia 29 de maio de 1960, foi menos que discreta: entre 24 inscritos ele foi o 15º em um grid de 16 carros e abandonou com problemas de transmissão após 17 das 100 voltas do percurso. No dia 16 de julho ele voltou a disputar um GP e o resultado foi bem diferente: alinhou em 11º em um pelotão de 24 carros e cinquenta segundos depois da bandeirada de vitória do GP da Grã-Bretanha ter sido dada a Jack Brabham (Cooper Climax), Surtees completou o percurso de 77 voltas em segundo lugar.

A disputa entre Surtees e Clark na decisão do título de 1964 no Autódromo Magdalena Mixhuca (Arquivo Pessoal) Foto: Estadão

Um período menos brilhante com as equipes Cooper (1961) e Lola (1962) precedeu um convite irrecusável de Enzo Ferrari, proposta que foi costurada pelo saudoso Franco Lini (1925-1997), provavelmente o primeiro jornalista a se tornar chefe de uma equipe de F-1, igualmente na Ferrari. Surtees venceu o campeonato de 1964 de forma, no mínimo, curiosa: ele ganhou os GPs da Alemanha e da Itália e chegou ao final da temporada disputando o título com Jim Clark e Graham Hill. Em uma das inúmeras desavenças entre Enzo Ferrari e o poder constituído os carros da Scuderia foram inscritos pelo North American Racing Team para os GPs dos EUA e do México e, assim, devidamente pintados de branco e azul, cores oficiais dos Estados Unidos junto à Federação Internacional do Automóvel. No Autódromo Magdalena Mixhuca (hoje Hermanos Rodriguez), Surtees terminou a corrida em segundo lugar, 1'9"atrás do Brabham Climax de Dan Gurney; mesmo abandonando na penúltima volta (vazamento de óleo), Clark ficou em quinto lugar na corrida, Hill foi o décimo primeiro.

Com chassi projetado e construído pela Lola o Honda RA 301 ficou conhecido como Hondola (Honda) Foto: Estadão

A vitória no GP da Bélgica de 1966, em Spa, marcou a despedida áspera de Surtees com a casa de Maranello, que ainda vivia os efeitos da conturbada administração de Eugenio Dragoni e Romulo Tavoni. De volta à equipe Cooper, o inglês conseguiu levar o pesado e exótico chassi T81 equipado com motor Maserati V12, à vitória no GP do México. Em 1967 aceitou a proposta da Honda para desenvolver o RA 273, um chassi projetado pela Lola e equipado com motor V12. A vitória na Itália, a última de sua carreira de 111 GPs, foi conquistada por apenas 2/100 de segundo sobre Jack Brabham (Brabham BT24 Repco) foi o ponto alto dessa união. No ano seguinte, Surtees comprovou de maneira trágica seus conhecimentos de engenharia ao se recusar a pilotar o chassi RA 302, equipado como motor V-8 refrigerado a ar. Segundo ele o motor não funcionava de maneira confiável, mas o francês Jo Schlesser aceitou o desafio e acabou falecendo após bater o carro na terceira volta do GP da França, em Rouen-les Essarts.

Carlos Pace abandonou a equipe Surtees no meio da temporada de 1974 (GP History) Foto: Estadão

Sua carreira na F-1 prosseguiu com atuações com um BRM da equipe oficial (1969) e com um McLaren inscrito por ele mesmo na temporada seguinte, até a estréia do Surtees TS7 Ford no GP da Inglaterra desse ano. Monza, em 1972, foi o último circuito a ver John Surtees a bordo de um F-1 em um GP oficial. O brasileiro José Carlos Pace foi um dos seus pilotos (disputou 22 GPs pela equipe em 1972 e 1973), mas frequentes quebras o levaram a se mudar para a equipe Brabham na metade de 1973. Luiz Pereira Bueno disputou o GP do Brasil de 1973 com o terceiro carro da equipe e somente após Moco pilotar o TS-9B de número 23 e comprovar as queixas de Luizinho é que Surtees concordou em fazer as mudanças pedidas por Bueno.

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Surtees pilotou para várias equipes e fábricas, aqui ele está a bordo do McLaren M12 da Chaparral (Chaparral History) Foto: Estadão

Além da F-1 ele construiu modelos de F-2 e desenvolveu carros da Lola e da Chaparral para a série Can-Am, incluindo um McLaren M12 comprado por Jim Hall para descobrir por quê os carros de Bruce McLaren dominavam a categoria norte-americana. Em 2005 Surtees voltou às pistas como presidente de honra do Team GB na categoria A1-GP. Em 2009 auxiliava seu filho Henry no caminho para a F-1 quando uma tragédia se abateu sobre a família: o herdeiro faleceu em um trágico acidente em Brands Hatch quando, após uma batida, uma roda bateu na cabeça do piloto.

John Surtees estava internado há cerca de dois meses no St. George's Hospital, em Londres, com problemas respiratórios. Ele deixa esposa Jane e as filhas Leonora e Edwina.

Opinião por Wagner Gonzalez
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