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Conversa de pista

Opinião|F-1: vitória certa com piloto errado

Räikkönen vence em Austin, Vettel se complica e Ferrari sobrevive.

Atualização:

Nenhuma equipe da F-1 consegue movimentar tanta gente quanto a Ferrari: única marca presente em todos os campeonatos já disputados, a famosa Scuderia de Maranello teve um fim de semana com sabor agri-doce, algo pouco palatável aos padrões da rica gastronomia italiana. Em um fim de semana que seu piloto principal, o alemão Sebastian Vettel, voltou a cometer erros que não se espera de um tetra-campeão mundial, o finlandês Kimi Räikkönen venceu com autoridade.

Enzo Anselmo Ferrari (1898-1988) fundou a única equipe presente em todas as temporadas de F-1 (Ferrari)  Foto: Ferrari / Divulgação

Com uma boa ajuda de Max Verstappen a decisão do título de 2018 foi adiada para, possivelmente, o GP da México: a diferença de 70 pontos de Hamilton (346) sobre Vettel (276) significa que se o inglês somar cinco pontos a mais que o alemão na corrida do próximo domingo ele terá conquistado seu quinto título mundial.

Max Verstappen resistiu aos ataques de Lewis Hamilton e ajudou a adiar decisão do título (Getty Images/RBCP)  

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Como já é sabido, Kimi Räikkönen deixa a Ferrari no final da temporada, trocando de lugar com Charles Leclerc, a sensação da temporada a bordo de um monoposto da limitada e renascente equipe Alfa Romeo-Sauber. Apesar do potencial indiscutível do jovem monegasco e dos 39 anos, completados dia 17, do finlandês, a inversão de empregos esteve longe de ser mera formalidade: além dos pilotos, dirigentes da Ferrari e, em menor escala na Sauber, foram jogados em uma frigideira, de onde saíram virtualmente selados em uma disputa de poder.

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O italiano Maurizio Arrivabene iniciou sua carreira na F-1 como executivo da Philip Morris em 1984, onze temporadas antes do suíço Mattia Binotto graduar-se como engenheiro mecânico na Escola Politécnica de Lausanne e ser recrutado como engenheiro de motores para e equipe de testes de Maranello. Arrivabene só foi confirmado na Ferrari em janeiro de 2015, mas muito antes disso estava ligado à Scuderia graças ao patrocínio da tabaqueira aos carros italianos; mais, desde 2010 ele é membro da Comissão de F-1 da FIA, até 2014 como representante de patrocinadores e, posteriormente, da Ferrari. Além disso também é integrante da diretoria da Juventus, clube de futebol ligado à FCA.

Mattia Bignotto é antagonista de Arrivabene na luta pelo controle da Scuderia (Ferrari)  

Quem acompanha as corridas de F-1 pela TV já notou claramente que Arrivabene é mais que patrão de Räikkönen. Exemplo disso são as duas semanas que envolveram o GP da Itália: dias após o grupo FCA - que controla entre outras marcas a Fiat, a Chrysler e, por vias indiretas, a Ferrari -, ter anunciado a aposentadoria inesperada de do chefão Sergio Marchionne, o finlandês marcou a pole position para a corrida de Monza e Maurizio foi mostrado comemorando o feito com Mirtu Virtanen, a esposa do piloto. Dias depois foi anunciado o falecimento de Marchionne e na semana que antecedeu o GP de Cingapura foi anunciado que Charles Leclerc tomaria o lugar de Kimi Räikkönen em 2019.

Charles Leclerc, hoje na Alfa Romeo-Sauber, troca de lugar com Kimi Räikkönen na temporada 2019 (Sauber)  

Marchionne era tido como um apoiador incondicional do monegasco e seu súbito desaparecimento teve como consequência uma reviravolta nos quadros de executivos de primeira linha do grupo FCA. Nessa movida o nome de Mattia Binotto ganhou força, a Ferrari foi embrulhada em uma controvérsia sobre o uso de uma dupla bateria, Vettel deixou de repetir as boas atuações do início da temporada e no último domingo, finalmente, Räikkönen pode atuar sem se preocupar em abrir caminho para seu companheiro de equipe.

Lewis Hamilton está próximo de se igualar a Juan Manuel Fangio, penta-campeão dos anos 1950 (Mercedes)  

Na mesma proporção que Lewis Hamilton se aproxima de vencer esta temporada, um clima de reconstrução envolve cada vez mais o ambiente em Maranello. vencer quatro títulos consecutivos ente os anos 2010 e 2013, Sebastian Vettel desembarcou na Ferrari em 2015 com pompa, circunstância e toda a euforia de replicar a era de ouro de Michael Schumacher, que venceu cinco títulos com os carros vermelhos entre 2000 e 2004. Desde então o alemão mais jovem terminou as temporadas em terceiro (2015), quarto (2016) e segundo (2017), posição que provavelmente vai repetir este ano. Seria isto suficiente para crucifica-lo?

Sebastian Vettel, tetra-campeão mundial ainda não conseguiu repetir o feito de Michael Schumacher (Ferrari)  

Não. Certamente Vettel não desaprendeu a pilotar, porém a frequência de erros que ele comete, em particular rodando nas voltas iniciais das últimas provas, não contribui para melhorar o clima, em particular em um ambiente tão susceptível a chuvas e trovoadas como é a Ferrari.

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Ambiente na Ferrari é marcado por chuvas e trovoadas desde a fundação da marca, em 1947 (Ferrari)  

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McLaren e Williams estão aí para demonstrar que um passado com épocas de dominação não garante fartura vitalícia; a própria McLaren já optou por refrear seus ânimos e suspendeu a propalada incursão na temporada da F-Indy em 2019. Pode-se assumir aqui que a chegada do brasileiro Gil de Ferran tenha contribuído para tal. Sir Frank Williams é um abnegado de carteirinha que soube construir um império de tecnologia, mas a disputa doméstica entre seus filhos para ver quem o sucederá ainda implica em solavancos e a equipe tropeça entre diferenças internas e estratégias públicas difíceis de serem sanadas.

Gil de Ferran influenciou a decisão da McLaren focar na F-1 na temporada de 2019 (McLaren)  

Os grandes heróis, aqueles que tinham apelo maior que habilidade em conduzir rápido, parecem personagens que saíram de cena marcada por uma anemia galopante, a vitória de Kimi Räikkönen em Austin foi uma prova de que nem tudo está perdido. Especialmente para a Ferrari, que despediu o mocinho da sua novela atual.

Kimi Raikkönen assumiu a ponta na largada, marcada por acidentes e rodada de Sebastian Vettel (Ferrari)  

O resultado completo do GP dos EUA você encontra aqui.

#Motoresclassicos

Opinião por Wagner Gonzalez
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