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Alimentos não ficam estocados em depósito da Defesa Civil em Porto Alegre

Vídeo com alegação enganosa é desmentido por voluntários que atuam no local e pelo governo gaúcho; em média, 200 entregas são feitas por dia com 70 caminhões

Por Bernardo Costa
Atualização:

O que estão compartilhando: vídeo em que um homem filma imagens de um depósito com donativos para as vítimas do Rio Grande Sul e afirma “que está tudo parado” e que não tem nenhum voluntário no local. A alegação é de que os alimentos estão estocados, sem serem distribuídos para a população.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: imagens e relatos de voluntários que atuam no depósito da Defesa Civil em Porto Alegre desmentem o vídeo. Segundo eles, a gravação foi feita em um local onde os itens já estavam prontos para serem carregados e distribuídos. A preparação dos alimentos e o carregamento em veículos acontecia em outra dependência do depósito, ignorada na filmagem. O governo do Estado afirmou que as doações não ficam paradas no local, com fluxo constante de entrada e saída de itens.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram

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Saiba mais: O vídeo, que foi divulgado no dia 8, foi desmentido por voluntários que afirmaram estar atuando no local. Um deles divulgou imagens que contestam as alegações. No site e nas redes sociais do governo do Rio Grande do Sul também é possível constatar que o local está em pleno funcionamento (leia mais abaixo).

A Secretaria de Comunicação gaúcha (Secom) afirmou que o vídeo é falso. Segundo a pasta, as imagens foram gravadas em um dos dois centros logísticos da Defesa Civil estadual. Neste caso, no de Porto Alegre (Avenida Porto Joaquim Villanova, n° 101). O local distribui donativos para outras cidades do Rio Grande do Sul.

“As doações não ficam paradas nos locais. Com a gradativa liberação das estradas, há um fluxo constante de entrada e saída de itens como água, alimentos, colchões e agasalhos”, informou a Secom. “Todas as doações que chegam nesses centros são organizadas por voluntários e coletadas pelos municípios para auxiliar as pessoas afetadas pelas enchentes”.

Vídeo divulgado pelo governo do Estado mostra o trabalho dos voluntários no local e caminhões sendo carregados com donativos. No site do governo, mais imagens mostram a movimentação no depósito, onde “mais de 4 mil pessoas se cadastraram para colaborar na operação de envio dos mantimentos aos municípios mais afetados pelas enchentes”. De acordo com a publicação, somente no dia 8 mais de 800 voluntários “contribuíram para a força-tarefa coordenada pela Defesa Civil, com apoio das forças de segurança do Estado e do Exército”.

“Em média, mais de 200 entregas são feitas por dia, em uma operação que envolve cerca de 70 caminhões fornecidos por instituições públicas, como os Correios, e empresas privadas”, afirmou o governo.

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Voluntários desmentem o vídeo

Um internauta chamado Guilherme Coelho, que disse estar atuando no local como voluntário, gravou imagens do depósito. Na filmagem, ele mostra voluntários fazendo a triagem de doações e veículos sendo carregados. Ele afirma que o vídeo enganoso foi feito em uma parte do galpão em que os donativos já estavam prontos para serem distribuídos. Em outas partes do espaço, voluntários atuavam na separação dos itens e caminhões recebiam os donativos para distribuição.

“O pessoal fica o dia inteiro separando as coisas e ele (o autor do vídeo enganoso) não filmou”, disse Guilherme. “No galpão do lado tem umas 800 pessoas separando as coisas. E, no galpão de trás, os caminhões do Exército saindo e entrando toda hora. Só que o cara não filmou isso. Ele só pegou a parte que estava pronta para sair e falou que estavam estocando aquilo dali, que estavam escondendo”.

Em outra postagem no Instagram, ele acrescentou: “Simplesmente, ele entrou no galpão, ignorou a parte em que estavam as pessoas trabalhando, ignorou a parte de trás, e foi lá no canto, onde estavam as coisas prontas para saírem e falou que estavam guardando as coisas, escondendo as coisas lá, que não estava saindo”.

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Na postagem com o vídeo enganoso, internautas que disseram estar atuando como voluntários no depósito contestaram a alegação de que as doações estariam paradas. Um deles escreveu: “Apaga que ainda dá tempo. Tenho me voluntariado aí todos os dias, e tem caminhão saindo sim. Estamos fazendo um baita trabalho braçal aí, pra chegar em casa e receber esse tipo de vídeo. O cara gravando isso enquanto pessoas lá dando tudo de si pra ajudar”.

Um outro voluntário que disse estar atuando no depósito também afirmou que o vídeo enganoso mostrou apenas uma parte do galpão. “No caso em específico, esse cara filmou um recorte de um local, onde existiam carros do Exército sendo carregados, centenas de pessoas fazendo triagem e separação de doação, para mostrar o ‘absurdo’ que é um material já estocado aguardando carregamento.”

Captura de tela de comentário no vídeo verificado Foto: Reprodução/Instagram

Outra pessoa disse que uma grande quantidade de doações chega e sai do depósito todos os dias. “Acaba parecendo que é sempre o mesmo (alimento) que está ali por causa da grande quantidade que chega, mas tem uma grande quantidade que sai”, escreveu. “Para quem fica lá trabalhando como voluntário, como eu, se percebe e se tem certeza disso”.

Captura de tela de comentário no vídeo verificado Foto: Reprodução/Instagram

Triagem no depósito

Segundo a Secom, os itens que aparecem nos pallets (plataformas de madeira) estão prontos para serem carregados e entregues. O órgão explicou que algumas doações já vem dessa forma, pronta para entrega. Outras precisam passar por triagem.

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“Para alguns alimentos é necessário manuseio, que consiste em: recebimento, triagem (verifica-se a validade, condições do alimento e da embalagem, separação por lotes por data de vencimento), armazenamento, montagem de kits, embalagem, paletização (montagem dos pallets), estrechamento (embalagem com plástico no pallet), novo armazenamento e posterior entrega”, disse.

Veja como doar

O Rio Grande do Sul enfrenta o pior desastre climático de sua história. O último boletim da Defesa Civil aponta que mais de 1,9 milhão de pessoas foram afetadas em 437 municípios do Estado. Veja aqui os canais oficiais para doações.

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