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Dados do Ministério da Saúde sobre dengue não estão desatualizados desde agosto de 2023

Cenário geral da doença é atualizado constantemente no Painel de Monitoramento das Arboviroses; página exibida em postagem mostra série histórica em outubro de 2023

Por Gabriel Belic

O que estão compartilhando: vídeo em que mulher diz que os dados epidemiológicos da dengue não são atualizados desde agosto de 2023.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Os casos de dengue são atualizados no Painel de Monitoramento das Arboviroses. A última atualização foi feita nesta quinta-feira, 25, às 13h. A ferramenta registra 3,8 milhões de casos prováveis de dengue em 2024.

O vídeo analisado aqui foi compartilhado fora de contexto. A gravação, na verdade, foi feita em outubro de 2023 e mostrava uma outra página, que naquela época de fato estava desatualizada desde agosto daquele ano. No entanto, o Ministério da Saúde afirma que a página em questão serve para mostrar a série histórica dos dados, não o número de casos diários. Hoje, a última atualização da página mostrada no vídeo é de janeiro de 2024.

O Painel de Monitoramento das Arboviroses foi lançado em 4 de maio de 2023. De acordo com o Ministério da Saúde, desde a criação da ferramenta, os dados são atualizados diariamente.

Dados sobre dengue não estão desatualizados desde agosto de 2023 Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: em um vídeo que circula nas redes sociais, uma mulher diz ter uma denúncia “muito séria” para a população brasileira. Ela alega que pesquisou os dados epidemiológicos da dengue no site do Ministério da Saúde e disse constatar que os registros estavam desatualizados. De acordo com a responsável pela postagem, os números de casos, casos graves, mortes e municípios que detectaram a doença pararam de ser informados em 28 de agosto de 2023.

Na realidade, o Ministério da Saúde informa todos esses dados no Painel de Monitoramento das Arboviroses. No Painel, a pasta atualiza sobre dados de dengue, zika e chikungunya doenças virais classificadas como arboviroses, ou seja, transmitidas principalmente por artrópodes, como mosquitos. No caso, o causador das doenças citadas é o mosquito Aedes aegypti. É possível ver o número de casos prováveis de dengue, óbitos em investigação, mortes confirmadas, coeficiente de incidência, além da letalidade em casos prováveis e graves.

Vídeo foi originalmente publicado em outubro de 2023

A mulher que aparece no vídeo é a médica Mayra Pinheiro. A gravação foi publicada em seu perfil no Instagram em 23 de outubro de 2023. Agora, outros perfis nas redes sociais compartilham o vídeo de Mayra como ele se fosse recente, para alegar que os dados epidemiológicos da dengue não são atualizados desde o ano passado.

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No vídeo, a página mostrada por Mayra sem atualização é intitulada “Situação Epidemiológica - Acesse os casos de óbitos e casos prováveis de Dengue”. O Estadão Verifica consultou a ferramenta de arquivamento de páginas Wayback Machine para analisar as versões anteriores da página.

O endereço foi salvo seis vezes: duas vezes em 27 de julho de 2023, duas vezes em 30 de dezembro de 2023, uma vez em 16 de abril de 2024 e uma vez em 25 de abril de 2024. Na primeira data, a última atualização constava em 16 de julho do mesmo ano. Já na segunda data, em dezembro, a última atualização havia ocorrido em 28 de agosto de 2023, o que coincide com o que é dito por Mayra no vídeo.

Embora a data esteja correta, segundo o Ministério da Saúde, essa página não é atualizada diariamente. Na verdade, ela registra as séries históricas da dengue. Há dois arquivos na página: um para casos prováveis de dengue entre 2000 e 2023, e outro para casos de óbito da doença no mesmo período. Atualmente, a última vez que esse endereço foi atualizado foi em 31 de janeiro deste ano.

O Estadão Verifica entrou em contato com Mayra Pinheiro via e-mail, mas não recebeu retorno até o encerramento da checagem.

Dados atualizados sobre dengue

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A situação da doença no País é constantemente atualizada no Painel de Monitoramento das Arboviroses. Nesta página do Ministério da Saúde, é possível filtrar o ano de 1º sintomas para 2023 ou 2024. Também é possível constatar os casos prováveis de dengue por ano e mês de início de sintomas.

A ferramenta WayBack Machine tem registros dessa página no ar desde maio de 2023. O período coincide com um anúncio do Ministério da Saúde para criação de um painel atualizado regularmente com dados da situação epidemiológica de arboviroses (dengue, chikungunya ou zika), feito em 4 de maio do ano passado.

No WayBack Machine, no entanto, não é possível verificar se eles eram atualizados com frequência no ano passado, já que os dados mostrados no painel são dinâmicos. Ao Estadão Verifica, o Ministério da Saúde afirmou que, desde sua criação em maio de 2023, o Painel de Monitoramento de Arboviroses divulga dados sobre as doenças diariamente.

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Atualmente, além do Painel, o ministério mantém uma página no site para informes de casos de arboviroses. Os dados podem ser consultados em informes semanais ou diários. O boletim diário apresenta os indicadores de dengue, decretos de emergência publicados, dentre outros. Já o boletim semanal apresenta informações mais detalhadas sobre o cenário, com gráficos e mapas.

Como lidar com postagens do tipo: a postagem analisada espalha desinformação sobre um assunto em evidência. É importante ressaltar que os principais jornais do Brasil estão noticiando sobre os casos de dengue diariamente, com atualização de dados e novas informações. Isso não seria possível se o governo federal deixasse de divulgar dados oficiais e ocultasse o cenário geral da doença no País. Dessa forma, antes de divulgar um conteúdo duvidoso, faça uma pesquisa por palavras-chave no seu buscador de preferência (aqui, a reportagem buscou apenas por “Dengue 2024″, o que foi suficiente para receber um retorno de dados atualizados). Leia aqui a cobertura da doença no Estadão e veja também tudo o que já foi desmentido sobre dengue no Estadão Verifica.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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