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Vídeo em Criciúma mostra transporte de rotina de blindados, não movimentação para golpe

Homem mostra saída de veículos militares de Grupamento de Artilharia em Santa Catarina, mente sobre finalidade e insinua golpe: ‘70 toneladas de pura democracia’

Por Clarissa Pacheco

Um vídeo de uma operação logística de rotina foi postado no Facebook na semana passada mostrando o momento em que blindados deixam o 28º Grupamento de Artilharia de Campanha (GAC) do Exército, em Criciúma (SC). Nas imagens, um homem insinua que a movimentação significa que o presidente Jair Bolsonaro (PL) está “agindo” e que o Exército está se mobilizando para intervir no governo, o que não é verdade. O autor do vídeo, que não se identifica, diz que as pessoas não conhecem “a arte da guerra”, chama um dos blindados de “redefinidor de código-fonte” e ironiza: “70 toneladas de pura democracia”.

 Foto: Repro

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Não fica claro no vídeo quando as imagens foram feitas, mas é possível ver faixas, bandeiras do Brasil e uma espécie de acampamento próximo ao local, com pessoas pedindo intervenção militar. Isso indica que o vídeo foi gravado após o segundo turno das eleições deste ano, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente pela terceira vez.

Embora o autor do material não informe o local da gravação, é possível identificar num gramado próximo a sigla do 28º Grupamento de Artilharia de Campanha (28º GAC) do Exército em Criciúma (SC), além do letreiro de uma transportadora chamada Possoli. A empresa fica em frente ao GAC, na rodovia Luiz Rosso.

Sigla do 28º Grupo de Artilharia de Campanha (28º GAC) do Exército em Criciúma fica visível ao fundo em um trecho do vídeo Foto: Reprodução
Letreiro da transportadora Possoli, que fica em frente ao 28º GAC de Criciúma, também pode ser visto nas imagens Foto: Reprodu

Operação de rotina

Não há nos veículos que aparecem no vídeo qualquer menção ao destino, nem há representantes do 28º GAC acenando ou dando sinais de que concordam com as palavras do homem que filma as imagens. Ao Estadão Verifica, o Exército Brasileiro disse se tratar de uma operação de rotina.

“Os deslocamentos de material militar ocorrem por ocasião de atividades de treinamento, como: manobras, marchas e acampamento, dentro outras. São atividades desenvolvidas durante o ano, em todo o Território Nacional, de acordo com o previsto no Programa de Instrução Militar”, diz a nota, que afirma que o Exército “segue fiel a sua missão constitucional e zelando pela legalidade e estabilidade do País”.

O Comando Militar do Sul (CMS) destacou que o comboio com os veículos ia do Comando Militar do Sudeste para o Comando Militar do Sul, passando pelo 28º GAC, na cidade catarinense de Criciúma. “Criciúma é ponto estratégico para a logística do Exército, por estar entre dois pontos de grande importância para as atividades de suprimento do Eixo Sul (Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e Curitiba, no Paraná). Como parte do transporte de rotina, um comboio de viaturas com suprimentos veio da Região Sudeste para o Comando Militar do Sul. Esse tipo de transporte é feito pelos grupamentos logísticos, com entregas programadas”, diz o CMS.

Outros vídeos

Não é a primeira vez que a movimentação de blindados em quartéis do Exército é usada por bolsonaristas para insinuar apoio a um golpe militar. No início deste mês de dezembro, o Verifica mostrou que movimentações de rotina no Rio de Janeiro, Amazonas, Minas Gerais e Mato Grosso tinham sido falsamente associadas a uma intervenção militar em andamento.

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Imagens feitas em Cabo Frio (RJ) mostravam um exercício de adestramento. Outras, na Linha Vermelha, que liga o Rio à cidade de São João de Meriti, mostravam uma operação de transporte de suprimento. Em Minas, um comboio da de fuzileiros navais durante o horário de descanso foi apontado como uma movimentação atípica, o que não era verdade.

No Mato Grosso, o transporte de um blindado para uma exposição também foi visto como sinal de intervenção. No Amazonas, imagens de um exercício de adestramento de tropa também foi visto por bolsonaristas como sinal de que a intervenção está a caminho.

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