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Os Hermanos

Em clima de trâmite burocrático, Argentina entra em reta final de campanha com virtual vitória de Cristina

 

Por arielpalacios
Atualização:

Começa a contagem regressiva da campanha eleitoral argentina. Faltam exatamente quatro semanas para que os argentinos compareçam às urnas. Os candidatos presidenciais arrancam as folhinhas do calendário por puro costume, afirmam os analistas, já que o resultado do dia 23 de outubro estaria definido desde as primárias do 14 de agosto. "Calendrier républicain" (Calendário Republicano) de 1794 é a ilustração acima, da autoria de Louis-Philibert Debucourt (1755-1832).

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Os analistas ressaltam que o novo mapa do poder na Argentina ficou praticamente definido desde as eleições primárias dos partidos políticos do dia 14 de agosto, quando Cristina obteve 52% dos votos. O segundo colocado, Ricardo Alfonsín, da União Cívica Radical (UCR), ficou 40 pontos percentuais abaixo, com apenas 12,4% dos votos. Nunca antes na História da tumultuada política argentina houve uma diferença de tal magnitude entre o primeiro e o segundo colocado.

Os analistas também destacam com ironia que as primárias foram "a pesquisa de intenção de voto mais cara do mundo", já que - por ser obrigatória - levou às urnas mais de 70% dos eleitores argentinos."A sensação é que estas eleições de outubro serão um mero trâmite burocrático", sustenta o cientista político Fabian Bosoer, professor de ciências políticas e relações internacionais da Universidade de Buenos Aires.

"Existem sete chapas que candidatam-se formalmente à presidência. Mas, é um torneio cujo resultado principal todos conhecem de forma antecipada", explica.

Logo após as primárias Alfonsín ficou de cama vários dias por causa de uma pneumonia que, afirmam seus críticos com ironia, agravou-se com "a frieza do eleitorado" nas urnas. O ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003) - candidato do peronismo dissidente, que ficou em terceiro lugar, com 12,16% - também deprimiu-se com os resultados e refugiou-se em um centro para tratamento antiestresse durante uma semana.

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Elisa Carrió, da Coalizão Cívica, que obteve somente 3,2% dos votos (nas presidenciais de 2007, ficou em segundo lugar, com 25%), admitiu com amargura: "97% da sociedade não gosta de mim". Depois, partiu para mini-férias no México. Ao voltar, praticamente abandonou a campanha eleitoral, para desespero de seus candidatos a deputado. 

"Nunca houve uma oposição tão fraca e tão desarticulada", afirmou ao Estado o analista de opinião pública Carlos Fara. Ele sustenta que nas eleições do dia 23 de outubro Cristina "manterá seu volume de votos e talvez até aumente um pouco. Mas, dificilmente perderia votos".

No entanto,segundo ele, "haverá uma queda no volume de votos destinados a Alfonsín e Carrió que seriam redirecionados para o socialista Hermes Binner, que nas últimas pesquisas desponta com 14% das intenções de voto. Enquanto isso, os peronistas dissidentes Eduardo Duhalde e Alberto Rodríguez Saá ficariam com a mesma proporação de votos que tiveram nas primárias.

Oposição poderia protagonizar a pior derrota da História do país no dia 23 de outubro. Acima, ilustração que mostra o mês de Brumário, no calendário da Revolução Francesa. O 23 de outubro coincide com o 2 de Brumário. Como cada dia tinha um nome, os franceses colocaram neste o nome de "céleri", isto é, o aipo (o vegetal).

MATEMÁTICA - O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, líder do partido Proposta Republicana, de oposição, avaliou as dificuldades para reverter o cenário das primárias: "a matemática é cruel. A diferença de votos do governo com a oposição e as divisões existentes nesta tornam impossível uma eventual derrota de Cristina. Ela venceu nas primárias por méritos próprios e por erros da oposição".

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SALVE-SE QUEM PUDER - Perante o cenário de uma nova catástrofe nas urnas - e com a perspectiva de mais quatro anos de kirchnerismo - a oposição sofreu ao longo deste mês em suas fileiras um êxodo de parlamentares, prefeitos e governadores que começam a aproximar-se da presidente Cristina para oferecer "colaboração" no novo mandato, que é encarado como inexorável. "É um salve-se quem puder", admitiu em off ao Estado uma deputada federal do peronismo dissidente que começou sua transição do anti-kirchnerismo para um progressivo "filo-kirchnerismo".

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Esse foi o caso do deputado Felipe Solá, um aliado dos Kirchners que depois passou ao Peronismo dissidente. Ele, até o começo deste ano, era pré-candidato presidencial de um dos vários grupos da oposição. Mas, na semana passada, indicou que deixava a oposição. A declaração foi acompanhada de uma série de elogios à presidente. Assim, Solá foi recebido de novo pelo kirchnerismo com elogios e palavras de boas-vindas.

O mesmo cenário está ocorrendo em Córdoba e Santa Fe, com os respectivos líderes dissidentes José Manuel dela Sota e Carlos Reutemann.

"É um salve-se quem puder", admitiu em off ao Estado uma deputada federal do peronismo dissidente da província de Buenos Aires que começou sua transição do anti-kirchnerismo para um progressivo "filo-kirchnerismo".

"Fazer o quê", ela disse, durante uma visita a eleitores em Ramos Mejía, na Grande Buenos Aires. Depois de aceitar um "tereré" (um chimarrão frio, típico doParaguai e donorte da Argentina) de um simpatizante, virou-se para este blogueiro que vos fala, caminhou uns passos pela rua de terra da periferia e parou ao lado de um esgoto ao ar livre. Ali, arrematou falando baixinho: "a realidade é que não tem outro jeito. E, a verdade é que o kirchnerismo recebe de novo qualquer um, se for para aumentar seu poder. Se até aceitaram o (ex-presidente e atual senador Carlos) Menem. Tudo cabe dentro do governo..."

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EMPRESÁRIOS - A aproximação a Cristina também ocorre por parte dos industriais, antes arisco com as políticas intervencionistas do governo na economia. Há duas semanas 1.500 empresários a ovacionaram nas celebrações do dia da indústria. "A oposição não conseguiu apresentar uma proposta econômica melhor, somente algumas ideias para combater a inflação", ilustrou o presidente da União Industrial Argentina (UIA), José Ignácio De Mendiguren. O setor ruralista, que em 2008 gerou a pior crise política do governo de Cristina agora mantém uma relação pacífica com a presidente. 

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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