Áustria nega asilo político a homossexual alegando comportamento muito afeminado

Escritório negou pedido pouco depois da polêmica relacionada à outra negativa oficial de conceder esse status a um refugiado que segundo autoridades não era 'suficientemente gay'

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VIENA - As autoridades da Áustria rejeitaram a solicitação de asilo de um refugiado iraquiano por considerar que seu comportamento é muito afeminado e não autêntico, informou nesta quinta-feira, 23, a agência austríaca APA.

Ativistas participam de parada gay em Viena; país negou asilo a jovem afegão que não demonstrava ser 'gay o suficiente' Foto: REUTERS/Heinz-Peter Bader

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O caso veio à tona pouco depois da polêmica relacionada com outra negativa oficial de conceder asilo a um refugiado homossexual com base na estimativa de sua aparência e forma de agir, claramente determinada por estereótipos.

Os funcionários do Escritório Federal para Estrangeiros e Asilo (BFA, na sigla em alemão) da Áustria que interrogaram Firas, de 27, anos, consideraram que o solicitante de asilo tinha um "comportamento excessivamente afeminado", segundo o documento ao qual o jornal vienense Kurier teve acesso.

Por isso, os agentes concluíram que sua homossexualidade "não é autêntica" nem "crível".

De acordo com a publicação vienense, Firas fugiu em 2015 do Iraque e solicitou asilo na Áustria. O iraquiano afirma ser homossexual desde os 16 anos e lembrou que esse fato, que teve até de esconder de sua família, é um motivo pelo qual ele pode ser assassinado em seu país de origem.

Se para algum funcionário ser "muito" afeminado é prova de que o refugiado mente, e razão suficiente para rejeitar sua solicitação, outros fazem o mesmo se a aparência da pessoa lhes parece muito masculina.

"A maneira de caminhar do senhor, sua atitude e sua forma de se vestir não deixam entrever em absoluto que o senhor possa ser homossexual. Ao não sê-lo, o senhor não tem nada que temer se retornar ao Afeganistão", argumentou um agente austríaco em um documento para um jovem afegão.

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Não suficientemente gay

Há poucos dias, as descrições detalhadas de um comportamento "não suficientemente gay" do afegão de 18 anos, que chegou sozinho à Áustria quando era menor de idade, causaram surpresa e manchetes irônicas tanto na imprensa austríaca como na alemã.

Entre os "indícios" apontados pelas autoridades para desacreditar seu comportamento homossexual estavam que o jovem afegão tinha entrado em luta corporal com outros rapazes, ou seja, que ele "tem um potencial de agressão que não é esperado em um homossexual".

Depois da polêmica, o funcionário responsável pela decisão contra o afegão foi destituído do cargo.

Em ambos os casos as respectivas decisões não são definitivas. O jovem afegão recorreu da sentença e o iraquiano fará o mesmo, segundo o Kurier.

"O quão 'gay' um homossexual solicitante de asilo deveria se comportar no interrogatório com os funcionários da BFA? Qual é a maneira de se vestir, de se comportar e de caminhar que condiz com a de um homossexual?", questionou a publicação. / EFE

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