PUBLICIDADE

Berlusconi está de volta, desta vez como ‘vovô’ da nação

Ex-premiê fez natação, ginástica, recuperou a saúde e agora reaparece, segundo analistas, como uma das maiores forças políticas na Itália e possivelmente na Europa

Por Jason Horowitz
Atualização:

Silvio Berlusconi, de 81 anos, está de volta. Novamente. Seu sorriso está mais brilhante, as bochechas estão mais coradas, a cintura está mais fina e o cabelo, regenerado. Mas, apesar da aparência de boneco de cera, sua propensão a polêmicas sexuais e os persistentes processos criminais, o ex-primeiro-ministro italiano não é mais a piada da política europeia.

+ Presidente da Itália dissolve Parlamento e convoca novas eleições

Na era de Donald Trump, Silvio Berlusconi (foto) se reformulou como o avô da nação Foto: REUTERS/Remo Casilli

PUBLICIDADE

Em vez disso, analistas políticos concordam que a única aposta certa nas críticas eleições italianas de 4 de março é que Berlusconi retornará como uma das maiores forças políticas no país, e possivelmente na Europa. Mesmo se ele não se tornar premiê imediatamente - já que está proibido de ocupar o cargo até 2019 em razão de uma condenação por fraude -, ele pode determinar quem assumirá o poder.

+ Moisés Naím: Corrupção: heróis ou leis?

Seu retorno é tanto surpreendente como esperado, considerando que Berlusconi tem condicionado e dessensibilizado um eleitorado que o escolheu como primeiro-ministro três vezes, apesar de tudo.

Ele foi investigado por acusações de ligações com membros da máfia. Entrou para a política, em parte, para proteger seus interesses comerciais e depois, como dono da maior parte das estações comerciais de televisão da Itália, usou a ampliação do seu império midiático para se manter no poder. Ele recebeu mulheres menores de idade no que chamou de “jantares elegantes”, mas conhecidos pelo mundo como festas “Bunga Bunga”.

Berlusconi tornou um hábito envergonhar a Itália no cenário global. Mas era de Donald Trump, o magnata italiano se reformulou como o avô da nação.

Publicidade

Cenário eleitoral

As eleições italianas devem ser diferentes este ano. Depois que a França e a Alemanha deram à Europa um respiro de alívio ao combater as insurgências de extrema direita, é o imprevisível e feroz Movimento Cinco Estrelas que as preocupa.

Relembre: Após queda, Berlusconi não se dá por vencido e promete voltar

Por outro lado, Berlusconi não parece estar tão mal e vem interpretando o papel de político sábio e moderado. “Ele acredita que pode se reinventar infinitamente, como você pode ver no rosto dele”, disse Sofia Ventura, cientista política da Universidade de Bolonha. Em tempos incertos, os italianos podem escolher a fera que já conhecem.

Vingança

Mas pessoas próximas a Berlusconi dizem que, por baixo desta nova superfície, ainda há um espírito de vingança.

Em 2011, a crise global forçou Berlusconi a renunciar. Na época, ele estava distraído com as acusações de que tinha pago uma menor de idade chamada Karima el-Mahroug, conhecida como Ruby Heart-Stealer, para fazer sexo nas famosas festas “Bunga Bunga”. Posteriormente, um tribunal revogou sua condenação por pagar pelo sexo, embora tenha respondido a acusações de suborno de testemunhas, incluindo um pianista presente em uma de suas festas.

Publicidade

Em 2013, o tribunal italiano o condenou por fraude de impostos. Sua pena foi convertida, em razão de sua idade, em serviços prestados à comunidade em um asilo. No mesmo ano, legisladores italianos o tiraram do Parlamento e o impediram de ocupar o cargo até 2019.

Mudanças

Com a ajuda da natação, ginástica e visitas a clínicas de beleza, a saúde de Berlusconi melhorou. Ele reapareceu então como um avô gentil da Itália.

Relembre: Primeiro-ministro da Itália renuncia

O partido de Berlusconi ainda tem cerca de 17% de apoio da população nas urnas, e precisa lidar com parceiros amotinados e eurocéticos. Por outro lado, ele surge como uma força atenuante. Mas no momento ele está em uma onda vencedora, já que sua coalizão registrou uma vitória nas últimas eleições municipais.

Alan Friedman, autor do livro My Way (Meu Caminho, em tradução livre), uma biografia autorizada de Berlusconi, disse que ele se compara com frequência a Trump. “Sou mais moderado que Trump”, afirmou o ex-premiê, segundo o escritor.

Friedman destacou que a objetificação das mulheres e a linguagem grosseira de Berlusconi “depreciou a cultura italiana ao longo do tempo”.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.