Embora os republicanos controlem o Senado, o governo de George W. Bush pode ter pela frente uma difícil missão no próximo ano para obter a confirmação de Otto Reich, nomeado pelo presidente americano como subsecretário de Estado para a América Latina. Uma prolongada luta em torno desse cargo poderia fazer diminuir ainda mais a atenção dos EUA em relação à região, que foi prejudicada pela crise política e econômica após 11 de setembro, embora nem por isso se tenha tornado uma prioridade para o atual governo americano, mais empenhado em perseguir terroristas internacionais e que planeja uma guerra contra o Iraque. Reich foi designado pelo presidente Bush no ano passado, mas os democratas, que controlavam o Senado, disseram que ele não reunia as qualificações necessárias e não quiseram considerá-lo como candidato. Os republicanos afirmam que Reich, que nasceu em Cuba, está sendo castigado por suas idéias conservadoras, particularmente por sua férrea posição contra o líder cubano, Fidel Castro. Em janeiro, Bush tomou uma iniciativa à margem do Senado e nomeou temporariamente Reich como subsecretário de Estado para Assuntos Hemisféricos. Tal designação termina com a atual legislatura do Congresso. Não se sabe se depois disso Reich continuará no cargo interinamente. Espera-se que o governo Bush volte a designar Reich, embora não tenha dito que o faria. Reich saiu em viagem esta semana e não pôde ser ouvido. Robert Zimmerman, porta-voz do departamento para assuntos latino-americanos, disse que Reich "ainda merece toda a confiança do presidente e do secretário de Estado, e continuará no cargo enquanto o presidente o desejar e a lei o permitir." A possibilidade de que Reich seja confirmado é maior agora que os republicanos detêm o controle do Senado. O provável presidente do Subcomitê de Relações Exteriores para o Hemisfério Ocidental, o senador Lincoln Chafee, já declarou que convocará audiências - o que o atual presidente do subcomitê, o democrata Christopher Dodd, se negou a fazer. Mas Dodd, o principal opositor de Reich no Congresso, poderá ainda tentar impedir que o Senado aprove no plenário a candidatura de Reich. Dodd afirmou na terça-feira que se oporia à aprovação de Reich, mas não disse se adiaria o caso. "Primeiro, vamos ver se o indicam", afirmou. Reich ocupou o cargo em um momento caótico para a América Latina. A Argentina atravessa a pior crise econômica de sua história e suspendeu o pagamento de sua dívida. O Brasil também enfrenta dificuldades econômicas e elegeu um presidente esquerdista que critica a política dos EUA. A guerra civil de 38 anos na Colômbia recrudesceu. Na Venezuela, houve um frustrado golpe de Estado em abril contra o presidente Hugo Chávez, mas continuam as tensões entre o governo e a oposição. Os críticos de Reich dizem que a resposta dos EUA ao golpe reforça a opinião de que Reich não tem as qualificações necessárias. O governo de Bush tem sido criticado porque aparentemente apoiou o golpe, algo que nega. "Se tentarem insistir em nomear Otto, devem se preparar para uma batalha", afirmou Bill Goodfellow, do Centro de Política Internacional, de tendência esquerdista.