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Cenário: O custo e as barreiras para içar o submarino ARA San Juan

Afundado a 907 metros de profundidade em uma área replçeta de falésias, cânions e abismos, içar o submarino poderia custar perto de US$ 1,5 bilhão

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O mar é escuro, de águas cinzentas, e a luz do sol chega fraca apenas até os primeiros metros. A paisagem revelada pelo olhar eletrônico do navio Seabed Constructor é feita de ravinas, cânions, falésias e abismos – os mais fundos, na profundidade próxima de 6 km. Na Patagônia, o Atlântico sul é frio. Há três dias, quandofoi confirmada a localização dos destroços do ARA San Juan, fazia 6 graus na região, 600 km ao largo da baía de São Jorge. No fundo, entretanto, jatos quentes de gás natural são lançados a intervalos irregulares entre as formações de corais. A variação térmica foi um dos fatores de dificuldade nas buscas. Os sensores eletrônicos faziam leituras imprecisas. 

Foto de novembro de 2017 mostra o ARA San Juan partindo para sua última missão, com a bandeira da Argentina Foto: Ministério da Defesa / AP

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Em um dado momento, trabalhavam na área equipes de 11 diferentes nacionalidades, empenhadas na procura do submarino, desaparecido em 15 de novembro de 2017. O bloco definido como Uno 15 foi escaneado ao menos quatro vezes na primeira fase das buscas, sem revelar qualquer indício do naufrágio. As 2.200 toneladas de metal do navio, ainda que implodido e inerte, deveriam produzir um sinal de anomalia magnética. Até a semana passada, nada havia sido detectado.

A equação para o içamento até a superfície do casco afundado, ou mesmo para um procedimento de reflutuação, não fecha – as tecnologias são raras, disponíveis talvez apenas em países como Estados Unidos, Rússia e China; eventualmente também na França. Os custos seriam enormes.

Há 44 anos, uma operação semelhante realizada pelo Pentágono para recuperar em segredo um submarino nuclear naufragado da extinta União Soviética consumiu, ao longo de anos de preparação e execução, acima de US$ 800 milhões. Atualizado por estimativa, o gasto, hoje, bateria na casa de US$ 1,5 bilhão, "considerados os avanços na tecnologia robótica e das novas ferramentas especializadas, recursos de mecatrônica em uso, por exemplo, na indústria do petróleo", acredita o especialista L.C. Bernardi, que já chefiou várias ações de recuperação de naufrágios comerciais.

A 600 km do litoral de Comodoro Rivadávia, o relevo não ajuda. Há uma cordilheira rochosa em três níveis, de acordo com o mapeamento digital feito pela empresa Ocean Infinity. O primeiro degrau, de ângulo agudo, vai de 250 a 360 metros, em meio a rochas esparsas. Depois, um outro aclive, acentuado, tem níveis de 700 a 800 metros levando ao abismo: uma rampa de 3000 metros, interrompida por terraços -- o ponto máximo, a cerca de 6 mil metros, está na zona da profundezas abissais.

O San Juan afundou próximo de um desses taludes. Há fragmentos espalhados em um raio de 70 a 150 metros ao redor do casco negro, deformado pela pressão exercida pelo peso de milhares de toneladas de água. É provável que apenas as sondas e os drones recheados de sistemas digitais do navio norueguês Seabed Constructor tenham visto o San Juan pela última vez.

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