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Chefe da espionagem britânica diz que militares russos estão em ‘situação desesperadora’ na Ucrânia

Em raro discurso, ele diz que soldados estão sobrecarregados e ‘exaustos’ e que Putin está cometendo ‘erros estratégicos de julgamento’

Por Adela Suliman
Atualização:

LONDRES - O chefe da espionagem britânica, Jeremy Fleming, alertou em um raro discurso público nesta terça-feira, 11, que as forças russas na Ucrânia estão sobrecarregadas e “exaustas” e que o presidente Vladimir Putin está cometendo “erros estratégicos de julgamento”.

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A avaliação do chefe da agência de inteligência, cibersegurança e segurança do Reino Unido é feita após a decisão de Putin de convocar reservistas para reforçar seu esforço de guerra e reivindicar um “ataque massivo” em toda a Ucrânia nesta semana.

Os ataques com mísseis atingiram instalações de energia e infraestrutura civil em todo o país, incluindo no coração da capital, Kiev, em retaliação por uma explosão, no fim de semana, na estratégica Ponte da Crimeia na Rússia.

O chefe da espionagem britânica, Jeremy Fleming, em imagem de arquivo; ele fez um raro pronunciamento sobre a guerra da Ucrânia  Foto: Frank Augstein/AP - 14/02/2019

“As forças da Rússia estão esgotadas. O uso de prisioneiros para reforçar, e agora a mobilização de dezenas de milhares de recrutas inexperientes, fala de uma situação desesperadora”, disse Fleming em um discurso ao centro de estudos Royal United Services Institute, em Londres.

“Longe da inevitável vitória militar russa que sua máquina de propaganda divulgou, está claro que a ação corajosa da Ucrânia no campo de batalha e no ciberespaço está mudando a maré”, acrescentou Fleming.

Os militares da Ucrânia lançaram contraofensivas bem-sucedidas com a ajuda de armas ocidentais, recapturando faixas de terra anteriormente ocupadas pelas forças russas.

“A tomada de decisão de Putin provou ser falha”, disse Fleming, e ele tem “pouco desafio interno efetivo” da elite militar e política da Rússia. “Sabemos – e os comandantes russos no terreno sabem – que seus suprimentos e munições estão acabando”, disse ele.

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O Ministério da Defesa britânico tornou-se uma fonte diária de informações desde que a Rússia invadiu seu vizinho em 24 de fevereiro, produzindo atualizações frequentes nas mídias sociais analisando a estratégia militar e o esforço de guerra de Moscou.

A atitude de ser mais transparente com informações da inteligência segue uma decisão estrategicamente incomum das agências de inteligência ocidentais, incluindo a comunidade de inteligência dos EUA, de compartilhar publicamente informações sobre os planos de Putin – embora isso não tenha sido suficiente para impedir a invasão.

Ao se manifestar, Fleming disse à BBC, em entrevista nesta terça-feira, que sua agência espera “iluminar a ameaça” e incentivar a confiança do público. Ele alertou que o Reino Unido não está minimizando a ameaça da Rússia.

Os últimos dois dias provaram que Moscou ainda tem uma “máquina militar muito capaz”, disse ele, referindo-se aos ataques a dezenas de cidades ucranianas. No entanto, acrescentou, a Rússia está com pouca munição e tropas e “certamente está com falta de amigos”.

Julgamento

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Putin anunciou no mês passado uma mobilização militar parcial de até 300 mil reservistas para o que ele ainda chama de “operação militar especial” da Rússia na Ucrânia. A decisão provocou pânico público, enviando milhares de homens elegíveis fugindo para as fronteiras e lutando para conseguir embarcar em um voo e evitar serem convocados para a linha de frente.

“Os russos estão vendo o quão profundamente Putin julgou mal a situação”, disse Fleming. “Eles estão vendo que não podem ir muito longe. Eles sabem que seu acesso a tecnologias modernas e influências externas serão drasticamente restritos. E eles estão sentindo a extensão do terrível custo humano de sua guerra por escolha.”

Pouco mais de um mês após o início da guerra, Fleming alertou que os soldados russos estavam com pouca moral e armas e, às vezes, recusaram ordens e sabotaram seus próprios equipamentos – pintando um quadro de caos nas linhas de frente da Rússia já naquela época.

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Após o ataque do fim de semana à ponte da Crimeia, Moscou retaliou na segunda-feira lançando uma onda de ataques que visaram parques, playgrounds e áreas centrais longe das linhas de frente, provocando indignação e matando pelo menos 19 pessoas, segundo autoridades ucranianas.

Um militar russo dirige-se a reservistas em um ponto de encontro durante a mobilização parcial de tropas, destinada a apoiar a campanha militar na Ucrânia, na cidade de Volzhski Foto: Stringer/Reuters

No entanto, os ataques foram aplaudidos pelos apoiadores de Putin. Viktor Bondarev, chefe da Comissão das Relações Exteriores da Câmara Alta do Parlamento da Rússia, chamou os bombardeios de segunda-feira de o início de “uma nova fase” e prometeu ações mais “resolutas”.

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Fleming também alertou que as ameaças da Rússia de usar armas nucleares para reverter suas perdas na Ucrânia são “muito perigosas” e podem levar a uma “catástrofe”. No entanto, ele enfatizou que até agora não houve indicadores de sua implantação, e Putin tem “permanecido dentro da doutrina de seu uso”.

Isso é consistente com as opiniões de autoridades dos EUA, que dizem achar improvável que Putin cumpra suas ameaças. O presidente Biden, no entanto, alertou na semana passada que Putin “não estava brincando” e chamou suas ameaças nucleares de a “perspectiva de um Armagedom” mais séria em 60 anos.

China

O Reino Unido tem três principais serviços de inteligência: MI6, o serviço de inteligência estrangeira, popularizado pelos espiões fictícios James Bond e George Smiley; MI5, a agência doméstica; e a Sede de Comunicações do Governo, conhecida como GCHQ, o serviço de espionagem. Toda a comunidade de inteligência é notoriamente secreta.

Fleming também falou mais amplamente sobre ameaças globais à segurança na terça-feira, especificamente destacando a tentativa da China de espalhar sua influência por meio da ciência e da tecnologia.

Dizendo que este poderia ser um momento “inconsequente e imprevisível na história”, Fleming acusou o Partido Comunista da China de tentar criar “economias e governos clientes”. Segundo ele, a China pretende trazer os países para sua esfera de influência, incentivando-os a comprar tecnologia chinesa e incorrer no que ele chamou de “custos ocultos”.

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