China e Índia se distanciam de Putin no G-20 e Rússia volta a bombardear Kiev

Presidente chinês Xi Jinping criticou uso de alimentos e energias como armas de guerra, sem citar diretamente a Rússia; militares russos voltaram a atacar cidades do país, incluindo a capital

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Por Redação
Atualização:

A pressão internacional sobre a Rússia para o fim da guerra na Ucrânia aumentou nesta terça-feira, 15, com a posição da China e da Índia na cúpula do G-20, no mesmo momento que militares russos voltaram a bombardear diversas cidades ucranianas, incluindo Kiev. O bloco escreveu uma carta conjunta, que ainda precisa ser aprovada pelos líderes, em que repudia o uso ou ameaça de armas nucleares e aponta as consequências de conflito em questões como segurança alimentar.

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Apesar das discordâncias internacionais em torno da guerra, as delegações do G-20, incluindo a Rússia, concordaram em publicar um comunicado final. O rascunho da carta reconhece as opiniões divergentes entre os países, destaca o “imenso sofrimento” causado pela guerra, que se arrasta há quase nove meses, e observa que a maioria dos países-membros condenam firmemente o conflito.

As delegações, que se reúnem em Bali, na Indonésia, incluíram no rascunho um apelo à renovação do pacto entre Moscou e Kiev para permitir a exportação de cereais ucranianos, com data para expirar em 19 de novembro. O pacto foi firmado em julho e permitiu a retirada de 20 milhões de toneladas de grãos que estavam bloqueados na Ucrânia pelo conflito. O bloqueio causou uma disparada de preços alimentícios em todo o mundo, incluindo em países do G-20, como a Turquia e a Argentina.

Presidente da China, Xi Jinping, discursa durante cúpula do G-20 em Bali, na Indonésia, nesta terça-feira, 15. Xi repudiou uso de alimentos e energia como armas de guerra Foto: Dita Alangkara/Reuters

O ministro das Relações Exteriores da Rússia e representante do país na cúpula, Serguei Lavrov, ouviu críticas da maioria dos chefes de Estado e assistiu as declarações do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, que disse que este é o momento para o fim da guerra. O chanceler russo classificou as condições da Ucrânia para negociação como inadmissíveis e acusou haver uma guerra híbrida do Ocidente contra os russos.

As críticas contra a guerra também partiram de países próximos a Moscou, mas sem citações diretas à Rússia ou ao presidente russo Vladimir Putin, ausente no evento. Embora tenha criticado as sanções ocidentais contra a Rússia, o presidente da China, Xi Jinping, declarou oposição à politização e ao uso de alimentos e de energia como arma de guerra. “Nós nos opomos firmemente contra a politização, a instrumentalização e a transformação da energia e dos alimentos como arma de guerra”, declarou Xi.

A declaração de Xi Jinping foi uma manifestação clara do distanciamento que a China estabeleceu com a Rússia no decorrer da guerra, após o país não ter seguido a posição do Ocidente no início da guerra e manter as críticas.

Em contraposição, o presidente dos EUA, Joe Biden, defendeu um isolamento diplomático e comercial ainda maior da Rússia e foi endossado pelo discurso de Zelenski. A inflação e a desaceleração das economias, entretanto, pesam sobre os países que impuseram sanções à Rússia por iniciar o conflito, dificultando que outras medidas semelhantes tenham apoio. A aproximação do inverno no Hemisfério Norte também põe os países da Europa em xeque devido à necessidade de gás proveniente da Rússia.

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Imagem do chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, em entrevista coletiva para jornalistas após as reuniões secundárias do G-20 nesta terça-feira, 15 Foto: Ministro das Relações Exteriores da Rússia / AP

Sediada na Indonésia, a cúpula do G-20 começou com o presidente indonésio Joko Widodo, que permaneceu neutro no conflito, fazendo um apelo por paz. “Temos que acabar com a guerra. Se a guerra não acabar, será difícil para o mundo avançar”, declarou.

Em um discurso por vídeo, Zelenski reiterou 10 condições para acabar com o conflito, que incluem a retirada completa das tropas russas e a restauração do controle ucraniano no território. Foi a primeira cúpula que Zelenski participou após a retomada da cidade de Kherson, a única capital regional que a Rússia havia controlado na Ucrânia até o momento. “A Ucrânia não deve ser oferecida para concluir compromissos com sua consciência, soberania, território e independência”, disse ele.

Rússia volta a atacar Kiev

Enquanto a Rússia se isola ainda mais no cenário diplomático, as tropas militares voltaram a realizar ataques aéreos em todas as regiões da Ucrânia. Os bombardeios acontecem dias depois dos russos se retirarem da cidade de Kherson e a Ucrânia retornar ao local. Segundo autoridades ucranianas, ataques em Kiev atingiram edifícios residenciais e pelo menos uma pessoa morreu, enquanto em outras cidades a infraestrutura de energia foi destruída.

Mais de sete milhões de habitantes estão sem energia no país, disse Kirilo Timoshenko, assessor do presidente Zelenski. O ministro da Energia da Ucrânia, Herman Haluschenko, classificou o ataque como o mais massivo a infraestruturas desde o início da guerra e como uma resposta “vingativa” da Rússia às perdas no campo de batalha, referindo-se a retirada de Kherson na semana passada. “[A Rússia] tenta causar o máximo de danos ao nosso sistema de energia na véspera do inverno”, declarou.

O presidente Zelenski informou que cerca de 85 mísseis foram disparados no país. “Estamos trabalhando, vamos restaurar tudo. Vamos sobreviver a tudo”, disse.

A nova onda de bombardeios segue a estratégia de atacar a rede elétrica ucraniana, que a Rússia recorre desde outubro aparentemente para tornar o inverno uma arma de guerra ao dificultar o aquecimento das residências. As ofensivas acontecem com mísseis e drones de longo alcance, após contratempos no campo de batalha.

Bombeiros trabalham para apagar incêndio em prédio residencial de Kiev atingido por míssil russo nesta terça-feira, 15. Bombardeios voltam a acontecer após a retirada russa de Kherson Foto: Oleksandr Gusev/Reuters

Os ataques foram relatados nas regiões de Lviv, Zhitomir e Rivne, no Oeste; e Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, no Nordeste. Segundo o prefeito de Krivi Rih, a cidade natal do presidente Zelenski, mísseis também atingiram o local.

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Segundo uma autoridade de inteligência dos EUA, os mísseis invadiram a fronteira e atingiram o território da Polônia, deixando pelo menos duas pessoas mortas. O porta-voz oficial do governo polonês, Piotr Mueller, informou que as autoridades do país se reúnem emergencialmente devido a uma “situação de crise”, mas não confirmou os mísseis de imediato.

A Moldávia também relatou problemas, com grandes interrupções de energia causadas por projéteis que atingiram uma grande linha de transmissão.

Na semana passada, a Rússia afirmou que se retiraria de Kherson para ocupar posições de defesa mais fáceis na margem oposta do rio Dnieper. O anúncio foi seguido da volta das autoridades ucranianas à cidade, que estava tomada pelos russos desde o início de março e foi declarada anexada à Rússia em setembro, e representou uma das maiores derrotas de Moscou na guerra.

Aos líderes do G-20, Zelenski afirmou que não haveria trégua na campanha militar da Ucrânia para expulsar todas as tropas russas do país. “Não permitiremos que a Rússia espere, construa suas forças e, em seguida, inicie uma nova série de terror e desestabilização global”, disse. /AP, AFP

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