Biden diz que é ‘improvável’ que míssil que atingiu a Polônia tenha sido disparado de solo russo

Duas pessoas morreram em explosão que o governo polonês diz ter sido provocada por projétil de fabricação russa; embaixadores da Otan se reúnem em Bruxelas nesta quarta-feira enquanto caso está sob investigação

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Por Redação
Atualização:

A Polônia, um país da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), elevou seu nível de alerta militar nesta terça-feira, 15, após relatos de que um míssil russo caiu em seu território durante um bombardeio de Moscou contra a Ucrânia, em uma reviravolta na guerra que ameaça desencadear uma escalada perigosa na Europa. A declaração do Ministério das Relações Exteriores não especificou o tipo de míssil ou de onde foi disparado. Rússia alega não ter sido a responsável pelo disparo. Embaixadores da aliança militar se reúnem nesta quarta-feira, 16, em Bruxelas, para discutir sobre o caso.

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O governo polonês confirmou que “um projétil de fabricação russa” caiu em seu território “matando dois cidadãos poloneses” e informou que o embaixador russo em Varsóvia foi convocado para dar “explicações detalhadas” sobre o ocorrido. Em Bali, na Indonésia, para a cúpula do G-20, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta quarta-feira, 16 (noite de terça-feira no Brasil), após uma reunião com líderes aliados, que eles descobrirão “exatamente o que aconteceu na Polônia”, mas adiantou que informações preliminares indicam ser improvável que míssil tenha sido disparado da Rússia. Mais cedo, um oficial da inteligência americana informou que a Polônia havia sido atingida por mísseis lançados pela Rússia na Ucrânia, que invadiram a fronteira.

Apesar do alarde inicial na terça-feira, autoridades ocidentais tentaram diminuir a tensão em torno do caso. O presidente do país, Andrzej Duda, disse que o caso está sob investigação e se negou a confirmar a informação da diplomacia do país, de que o míssil seria de fabricação russa ― embora tanto Ucrânia quanto Rússia usam mísseis da era soviética ―, enquanto autoridades do país disseram não ter “evidências claras” de quem disparou o projétil. Em um comunicado, o Ministério da Defesa da Bélgica disse que, pelas informações de momento, os ataques foram o resultado de sistemas de defesa antiaérea ucranianos, utilizados para contra-atacar os mísseis russos. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse na quarta-feira que respeitava as alegações de Moscou de que não tinha nada a ver com o ataque.

Imagem mostra ministro da Defesa da Polônia, Mariusz Blaszczak (esquerda), chegando à sede da segurança nacional em Varsóvia. Queda de míssil foi relatada no país Foto: Radek Pietruszka / EFE

É a primeira vez desde o início da guerra na Ucrânia que um míssil atinge um membro da Otan. O míssil atingiu uma área de plantação de grãos na cidade de Przewodów, um vilarejo próximo da fronteira com a Ucrânia.

Em um comunicado, a Rússia disse que não é responsável por nenhum ataque em alvos próximos da fronteira da Ucrânia com a Polônia e que as afirmações são provocações contra o país. “As declarações da mídia polonesa e de autoridades oficiais sobre uma suposta queda de mísseis russos perto da cidade de Przewodów são uma provocação intencional destinada a escalar a situação”, disse o Ministério da Defesa do país.

O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, exortou a população a manter a calma. “Devemos ter moderação e cautela”, disse Morawiecki após reuniões de emergência do governo em Varsóvia.

Por ser parte da Otan, a Polônia tem cerca de 10 mil tropas americanas alocadas em seu território. Segundo um porta-voz do Pentágono, os EUA irão proteger essas tropas “muito seriamente”, mas sem antecipar a investigação. “Não vamos nos antecipar. Vamos aos fatos. E quando tivermos mais a dizer, faremos”, disse.

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A Moldávia, que também faz fronteira com a Ucrânia, mas não é um membro da Otan, relatou problemas que podem ter sido causados por mísseis. O país está com grandes interrupções de energia depois que ataques derrubaram uma importante linha de energia que abastece a população, segundo uma autoridade.

A Casa Branca havia informado mais cedo que Biden conversou por telefone com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, e com o presidente polonês, Andrzej Duda.

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, um dos poucos líderes da Europa próximos ao presidente russo, Vladimir Putin, também convocou o Conselho de Defesa do país após os relatos dos mísseis russos nos países vizinhos.

“Em resposta à interrupção do fornecimento de petróleo pelo oleoduto de Druzhba e ao impacto de um míssil no território da Polônia, o primeiro-ministro Viktor Orban convocou o Conselho de Defesa para as 20h”, escreveu o porta-voz de Orban, Zoltan Kovacs, no Twitter.

Coluna de fumaça é vista na Polônia, perto da fronteira com a Ucrânia, em imagem obtida das redes sociais Foto: Stowarzyszenie Moje Nowosiolki via Reuters - 15/11/2022

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Após os alertas de incidentes, a chefe do Conselho Europeu, Ursula von der Leyen, convocou uma reunião de líderes da União Europeia para tratar o assunto no G-20. Líderes da Alemanha, Noruega, Estônia e Lituânia – todos países-membros da Otan – disseram estar em busca de mais informações com a Polônia e outros aliados para esclarecer o que aconteceu.

Os incidentes coincidem com um novo bombardeio russo em uma dezena de cidades ucranianas, de leste a oeste, incluindo Kiev. Segundo as autoridades ucranianas, os ataques foram dirigidos às infraestruturas de energia e mais de sete milhões de ucranianos estão sem luz. O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, informou que cerca de 85 mísseis foram disparados no país. “Estamos trabalhando, vamos restaurar tudo. Vamos sobreviver a tudo”, disse.

Segundo Zelenski, a explosão na Polônia foi provocada por mísseis russos. “Hoje aconteceu o que alertamos por muito tempo. O terror não se limita às nossas fronteiras nacionais. Mísseis russos atingiram a Polônia”, disse o presidente ucraniano por meio de sua conta no Telegram.

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O ministro da Energia da Ucrânia, Herman Haluschenko, classificou o ataque como o mais massivo a infraestruturas desde o início da guerra e como uma resposta “vingativa” da Rússia às perdas no campo de batalha, referindo-se a retirada de Kherson na semana passada. “(A Rússia) tenta causar o máximo de danos ao nosso sistema de energia na véspera do inverno (do Hemisfério Norte)”, declarou.

A rede elétrica ucraniana já foi atingida por ataques anteriores que destruíram cerca de 40% da infraestrutura energética do país. /AP, NYT, AFP, WPOST

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