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Como Trump quer usar a máquina do Partido Republicano para se manter no poder

Presidente tenta fazer do Comitê Nacional uma parte de sua campanha até a próxima eleição, rompendo com mais um precedente histórico na política americana

Por Jonathan Martin e e Maggie Haberman
Atualização:

Enquanto o presidente Donald Trump busca descaradamente adiar a certificação da eleição americana na esperança de anular sua derrota, ele também investe em uma manobra menos importante, mas igualmente audaciosa, de manter o controle do Comitê Nacional Republicano (RNC, na sigla em inglês) mesmo depois de deixar a Casa Branca.

Ronna McDaniel, a presidente do RNC escolhida a dedo por Trump, garantiu o apoio do presidente à sua reeleição para outro mandato em janeiro. Mas sua intenção de concorrer com a aprovação de Trump incitou uma batalha indireta nos bastidores, dividindo os republicanos entre aqueles que acreditam que o comitê não deve ser um subsidiário político do presidente que está de saída e outros felizes por Trump permanecer no controle da situação.

O presidente dos EUA, Donald Trump, deixa a sala de imprensa da Casa Branca após falar com repórteres. Foto: Erin Schaff/The New York Times

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Ao mesmo tempo que muitos republicanos hesitam em criticar abertamente seu presidente no momento em que ele se recusa a admitir que perdeu, o debate cristaliza a questão mais ampla sobre a identidade do partido e se funcionará como um veículo para as ambições de Trump de concorrer novamente daqui a quatro anos.

Trump não terá infraestrutura política depois de deixar o cargo, exceto por um comitê de ação política que ele formou recentemente, e na ausência de uma campanha formal, ele espera contar com o Comitê Nacional para efetivamente lhe dar uma, disseram pessoas a par de sua estratégia.

A influência contínua de Trump também pode ter implicações para alguns dos ativos mais críticos do RNC: seus dados de eleitores e listas de doadores contêm milhares de nomes de contribuintes e informações detalhadas sobre os apoiadores. Os dados eleitorais em particular são um foco de atenção, depois que surgiu uma desconfiança entre o comitê e a campanha de Trump sobre o uso dos dados nos meses finais da campanha.

Enquanto o RNC e a campanha de Trump estão em processo de desenrolar acordos conjuntos sobre o acesso a essas informações, Trump vê o controle das listas que ajudou a construir nos últimos quatro anos como uma forma de manter uma mão no poder — e para neutralizar potenciais adversários pela supremacia no partido, de acordo com republicanos próximos à Casa Branca.

Esse jogo de poder está alarmando alguns membros do Comitê Nacional, estrategistas do partido e ex-assessores do comitê, que estão muito preocupados em ceder o controle a um potencial candidato em 2024, um passo que temem destruiria o compromisso de longa data do partido com a neutralidade na nomeação dos concorrentes. O Comitê Nacional, a campanha de Trump e os comitês relacionados arrecadaram mais de US$ 1 bilhão neste ciclo.

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Tradicionalmente, os presidentes dos comitês nacionais de ambos os partidos abriram mão do controle quando o outro partido assumiu a Casa Branca. No entanto, como acontece com tantos outros aspectos de sua presidência, Trump dá pouca importância a precedentes. E muitos de seus fiéis apoiadores, especialmente aqueles de olho em seu próprio futuro político, ficam felizes em defendê-lo.

Mas o que é preocupante para alguns republicanos é o risco de que Trump tente dobrar o partido nacional à sua vontade, exigindo retaliação sobre os legisladores que não lhe jurarem fidelidade total.

Nos últimos dias, o presidente protestou contra dois governadores republicanos, Brian Kemp da Geórgia e Mike DeWine de Ohio, que tentarão a reeleição em 2022 e que se recusaram a ajudar em sua tentativa de roubar efetivamente a eleição.

Jonathan Barnett, o presidente republicano do Arkansas, enfatizou que o partido "apóia nosso presidente", mas que era imperativo que o Comitê Nacional não fosse visto como um braço de qualquer candidato à Casa Branca, mesmo um ex-ocupante do Salão Oval, especialmente à medida que eventos como os debates das primárias presidenciais têm início.

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"Se não formos justos, o que acontecerá com os outros candidatos que quiserem se candidatar à presidência?", disse.

Até agora ninguém surgiu para desafiar Ronna McDaniel, mas alguns republicanos influentes estão tentando conseguir apoio para o senador Cory Gardner, do Colorado, que acaba de perder sua candidatura à reeleição e é igualmente querido entre republicanos apoiadores e críticos de Trump em Washington.

Notavelmente, Trump ganhou ainda mais influência sobre o comitê nos últimos dois anos porque dois de seus principais assessores de campanha, Bill Stepien e Justin Clark, trabalharam para instalar apoiadores em cargos partidários em nível estadual, como parte de um esforço preventivo em 2019 para evitar qualquer risco nas primárias deste ano.

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Mike DuHaime, um diretor político do Comitê Nacional durante a presidência de George W. Bush, disse que entendia por que Trump desejaria manter a posse do aparato do partido.

"Ele tem um grande potencial de valor em termos de plataforma, levantamento de fundos e construção de relacionamento”, disse DuHaime. “No entanto, nunca vi um ex-presidente tentar manter esse controle".

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