Corte de gás russo na Europa pode abalar economia do bloco se afetar mais países; leia a análise

Guerra já se espalha pelo continente, afetando os preços da energia e prejudicando os fabricantes no momento em que o bloco se recupera de uma recessão causada pela pandemia

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Por Liz Alderman
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THE NEW YORK TIMES - A suspensão do serviço de gás natural da Rússia para a Polônia e a Bulgária não causará danos imediatos à economia europeia, mas a Europa pode enfrentar uma forte desaceleração do crescimento se o corte se espalhar para outros países – ou se seus líderes impuserem um embargo ao gás russo.

A guerra da Rússia contra a Ucrânia já está se espalhando pela Europa, afetando os preços da energia e prejudicando os fabricantes no momento em que o bloco se recuperava de uma recessão induzida pela pandemia. Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional cortou de 3,9% para 2,8% sua previsão de crescimento para 2022 para os países que usam o euro, com a Alemanha, a maior economia, sofrendo um grande impacto.

O euro caiu na quarta-feira abaixo de US$ 1,06 pela primeira vez em cinco anos devido às crescentes preocupações com a segurança energética e uma desaceleração no crescimento europeu. A moeda caiu quase 4% em relação ao dólar americano somente em abril.

Logo da gigante de energia russa Gazprom é visto em uma estação em Sofia, Bulgária  Foto: Spasiyana Sergieva/Reuters

A ação desta semana da Gazprom, o monopólio do petróleo da Rússia, de fechar as torneiras de gás para dois países da União Europeia provavelmente não levaria a Europa a uma nova recessão imediatamente. Isso ocorre em parte porque a Europa “ainda tem muitas respostas de política diplomática e fiscal disponíveis”, disse Mark Haefele, diretor de investimentos do UBS, em nota aos clientes.

Mas o espectro de uma guerra energética direta – incluindo um potencial embargo europeu ao gás e petróleo russos – está surgindo em um momento vulnerável. As empresas europeias já enfrentam custos de energia mais altos, que ameaçam as margens de lucro e espremem o poder de compra dos consumidores, disseram analistas.

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A União Europeia está elaborando planos para um embargo ao petróleo russo, mas não fez menção a isso horas após o corte da Gazprom. A Europa proibiu o carvão russo este mês. E enquanto a Alemanha, em particular, tem resistido aos embargos de petróleo ou gás russos por causa dos custos exorbitantes para sua indústria, as autoridades reconsideraram essa posição.

“Esta é uma ameaça velada à Alemanha – Berlim está atualmente avaliando até que ponto ela e a UE podem impor sanções às exportações russas de energia, e as ameaças russas são direcionadas para mudar seu cálculo”, disse Jonathan Hackenbroich, membro de política do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

Uma refinaria da BP na cidade alemã de Gelsenkirchen, em 5 de abril de 2022  Foto: Martin Meissner/AP

Ainda assim, um corte total de gás para a Alemanha “teria consequências terríveis para as economias alemã e europeia”, acrescentou. “As fábricas teriam de conter a produção ou até fechar. Algumas indústrias-chave podem ser perdidas para sempre e, na verdade, é difícil avaliar toda a gama de consequências. Mas a Rússia também é altamente dependente da receita das exportações de energia, pois elas representam sua última grande salvação”, disse Hackenbroich.

Um embargo à energia russa provavelmente desencadeará uma recessão europeia, e a alta inflação “se tornaria uma inflação ainda mais alta”, disse Carsten Brzeski, chefe global de pesquisa do ING Bank.

“Tudo isso é claramente negativo para as perspectivas de curto prazo”, disse ele. “Mas, para piorar, os altos preços de energia e commodities e cadeias de suprimentos interrompidas colocarão em risco a competitividade internacional da Europa.”

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Os cinco principais institutos de pesquisa econômica da Alemanha disseram neste mês que um embargo total de energia, a ser decretado imediatamente, reduziria o crescimento econômico anual da União Europeia neste ano e no próximo em 3% acumulados, enquanto aumentaria a inflação em cerca de 1 ponto porcentual nos dois anos.

Isso porque o gás natural provavelmente teria de ser racionado a partir do início do próximo ano, e partes da indústria europeia “teriam de ser desligadas por quatro meses para permitir que as famílias ainda aqueçam suas casas durante a estação fria”, disse Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank.

Ele disse que era “pelo menos concebível” que o racionamento pudesse começar ainda mais cedo no caso de um corte imediato de gás russo.

“Meu melhor palpite continua sendo que o dano ao crescimento europeu seria bastante sério”, disse Schmieding. “Se seria ou não um preço que valeria a pena pagar para restringir a capacidade da Rússia de sustentar uma longa guerra é, em última análise, um julgamento político que vai muito além de um mero cálculo econômico.”