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Cristina Kirchner é condenada a 6 anos de prisão e perda de direitos políticos; cabe recurso

Vice-presidente argentina foi condenada por ter favorecido o empresário Lázaro Báez em licitações na província de Santa Cruz; mesmo com sentença, Cristina não deve ser presa

Por Amanda Cotrim, especial para o Estadão
Atualização:

BUENOS AIRES – A Justiça da Argentina condenou a vice-presidente Cristina Kirchner nesta terça-feira, 6, pelos crimes de administração fraudulenta e prejuízo à administração pública. Ela também foi condenada à perda perpétua de seus direitos políticos pelos juízes do 2º Tribunal Federal de Buenos Aires.

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Cabe recurso à decisão, emitida em primeira instância, e Cristina não pode ser presa por possuir imunidade na condição de vice-presidente do país. A vice-presidente também manterá seus direitos políticos até que o caso esteja transitado em julgado.

Após a condenação, Cristina criticou o Judiciário argentino por meio de suas redes sociais. “Esta sentença estava pronta há 3 anos. Estava claro que a ideia era me condenar”, disse. “Vivemos um Estado paralelo e uma máfia judicial.”

Partidários de Cristina criticam o Judiciário argentino em protesto em Buenos Aires  Foto: REUTERS/Agustin Marcarian

A promotoria argentina havia pedido uma pena de 12 anos de prisão para a vice-presidente. Para que a líder peronista seja presa, seria preciso uma autorização da Suprema Corte para o cumprimento da pena, após condenação em todas as instâncias.

Segundo a Justiça, Cristina e outros suspeitos atuaram para favorecer o empresário Lázaro Báez, com quem sua família teria ligações, em licitações de obras públicas na província de Santa Cruz, berço político da vice-presidente. Báez recebeu pena similar a de Cristina.

Os juízes entenderam, no entanto, que não houve associação ilícita entre os condenados e por isso não acataram na totalidade o pedido de pena de 12 anos de prisão feito pelo Ministério Público.

Além de Cristina e Lázaro Baez, José López, e Nelson Pierotti também foram condenados a 6 anos de prisão. Mauricio Collareda pegou uma pena de 4 anos de prisão, enquanto Raúl Daruich foi condenado a 3 anos e 6 meses. Raúl Pavesi recebeu uma condenação de 4 anos e 6 meses, enquanto Juan Carlos Villafañe terá de cumprir 5 anos de prisão e José Raúl Santibáñez, 4 anos. Foram absolvidos Julio de Vido, Abel Fatala, Carlos Santiago Kirchner e Héctor Garro.

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Antes de sair da sentença, centenas de apoiadores e organizações sociais ocuparam a Avenida Comodoro Py, no bairro de Retiro, onde está o Tribunal Público Federal, em Buenos Aires, em apoio à Cristina Kirchner. A vice-presidente havia pedido às organizações políticas não irem às ruas, independente da sentença.

Quando foi divulgada, um princípio de confusão começou em frente ao tribunal. Apoiadores deram socos e chutes no portão do prédio e gritavam “Em Cristina ninguém toca” e “Todos com Cristina”. “Não é justo que prendam uma mulher que fez tanto pelos mais humildes enquanto sabemos que há políticos corruptos que estão soltos”, declarou no local o professor da rede pública e apoiador de Cristina, Guillermo Ferreira, de 50 anos.

A aposentada Noe Ricci, também presente na manifestação em apoio a vice-presidente, afirmou que existe um ódio contra Cristina Kirchner impulsionado pelo fato dela ser mulher. “Não toleram que ela tenha sido presidente da nação duas vezes. Ela é vítima de misoginia. Hoje é um dia muito triste. O que estão fazendo com Cristina é muito injusto”, disse.

Marta, uma argentina que não quis dizer o sobrenome, compactua da mesma visão de Noe. Para ela, Cristina sofre duas vezes na política por ser mulher. “Estou aqui apoiando-a porque ela ama o povo, quer o bem dos mais vulneráveis. Sem Cristina, nossos direitos estarão em risco”, destacou.

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Nos arredores do Tribunal Federal, as pessoas que não faziam parte da mobilização, como os vendedores ambulantes, se perguntavam qual seria o futuro de Cristina e comentavam que uma eventual prisão dela seria o início de uma guerra civil no país.

Efeitos da sentença

É a primeira vez na história da Argentina que um político em exercício é condenado. Em outros casos, como do ex-presidente Carlos Menen (1989-1999), acusado de venda internacional de armas de modo ilegal, a condenação se deu após os mandatos. O efeito político da sentença contra Cristina Kirchner ainda vai ser conhecido e divide a avaliação de analistas.

Para o analista político Sergio Morresei, da Universidade de Buenos Aires, a condenação não deve afetar a popularidade de Cristina Kirchner entre os eleitores peronistas e a população em geral. “A sentença de Cristina veio acirrar as forças políticas entre apoiadores e opositores. Não é a primeira vez que os políticos peronistas são acusados de corrupção e isso nunca mudou a força do peronismo na Argentina”, declarou.

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Já o historiador Manuel Gutierrez afirma que isso pode o governo de Alberto Fernández, que vive intensa crise institucional. “A condenação de Cristina abre um novo capítulo da crise política argentina que vai definir a dinâmica que adote o conflito social. Para os opositores, a condenação de Cristina será uma oportunidade de colocarem suas pautas em disputa, mesmo sendo projetos sociais e ideológicos opostos”, disse.

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