Cronologia: a crise política da Tunísia desde a Primavera Árabe

Desde a Revolução Jasmin, que pôs fim a uma ditadura de 23 anos, à suspensão das atividades do parlamento neste ano, Tunísia não atingiu estabilidade democrática

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Por Redação
Atualização:

O presidente da Tunísia, Kais Saied, anunciou no domingo, 25, a suspensão do Parlamento por 30 dias e demitiu o primeiro-ministro, Hichem Mechichi, após um dia de protestos contra as autoridades do país pela má-gestão da pandemia da covid-19. Um dia depois, na manhã desta segunda, o presidente deu mais um passo em direção a centralização de poder e demitiu seus ministros da Defesa e da Justiça, Ibrahim Bartaji e Hasna Ben Slimane, respectivamente

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"A Constituição não me permite dissolver o Parlamento, mas sim suspender sua atividade", disse Saied, que tomou a decisão com base no Artigo 80 da Constituição, que permite que este tipo de medida seja adotada frente à um perigo iminente. E completou: "Estamos em momentos muito delicados na história da Tunísia". 

Entretanto, Rached Ghannouchi, que chefia o partido islâmico Ennahdha - que tem maioria no Congresso - disse que o presidente não consultou nem a ele nem ao primeiro-ministro, conforme exigido pela lei.

Manifestantes celebram nas ruas de Tunes decisão do presidente de destituir primeiro-ministro. Foto: Zoubeir Souissi/Reuters

Aliados estrangeiros do país norte-africano expressaram preocupação de que a jovem democracia tunisiano possa estar caindo novamente em uma autocracia - uma vez que o país deu início à Primavera Árabe em 2011, quando protestos levaram à derrubada de Zine El Abidine Ben Ali, e frequentemente é considerada a única história de sucesso dessas revoltas.

Veja a cronologia dos principais fatos políticos da política tunisiana após a Primavera Árabe:

"Revolução Jasmim"

Em 14 de janeiro de 2011, Zine el Abidine Ben Ali fugiu para a Arábia Saudita após 23 anos no poder, em face de uma revolta popular reprimida com violência, e se tornou o primeiro governante árabe a deixar o poder devido à pressão das ruas.

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Após protestos, presidente da Tunísia deixa o país e primeiro-ministro assume governo Foto: Christophe Ena/AP

O movimento surgiu após a imolação do jovem camelô Mohamed Buazizi, na cidade de Sidi Bouzid, em protesto contra a pobreza e às humilhações policiais.

O presidente deposto, condenado à revelia por homicídio, tortura e corrupção, morreu em 2019, aos 83 anos, na Arábia Saudita.

Vitória do Ennahdha

Em 23 de outubro de 2011, o movimento islâmico Ennahdha, legalizado meses antes, alcançou 89 das 217 cadeiras da Assembleia Constituinte nas primeiras eleições livres da história do país.

Em dezembro, o esquerdista Moncef Marzouki é eleito chefe de Estado pela Assembleia Constituinte. Hamadi Jebali, o número dois de Ennahdha, é nomeado chefe do governo.

Esperanças frustradas

Em abril de 2012, eclodiram confrontos em uma zona de mineração no sudoeste do país, entre desempregados e a polícia. Em junho e depois em agosto, as manifestações violentas e os ataques de grupos islâmicos radicais se multiplicam.

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No final de novembro, eclodiram levantes em Siliana, uma cidade empobrecida no sudoeste da Tunísia, que deixou mais de 300 pessoas feridas em cinco dias.

Greves e manifestações, às vezes violentas, afetam a indústria, os serviços públicos, os transportes e o comércio, especialmente em regiões economicamente marginalizadas.

Assassinatos de oponentes

Em 6 de fevereiro de 2013, o oponente anti-islâmico Chokri Belaid é assassinado na capital. Em 25 de julho, o deputado esquerdista Mohamed Brahmi foi assassinado. O Estado Islâmico reivindica os dois assassinatos.

Transição democrática

Em 26 de janeiro de 2014, uma nova constituição é adotada, um governo de tecnocratas é formado e os islâmicos retiram-se do poder.

No dia 26 de outubro seguinte, o partido secular Nidaa Tounes, que reúne personalidades da esquerda e centro-direita e pessoas próximas ao regime de Ben Ali, ganha as eleições legislativas.

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Em dezembro, Beji Caid Essebsi se torna o primeiro chefe de estado eleito democraticamente na história do país.

Ataques

A Tunísia sofreu três ataques em 2015 reivindicados pelo Estado Islâmico, instalado na vizinha Líbia. Os atentados contra o museu do Bardo, na capital, um hotel em Sousse e um ônibus da guarda presidencial, causam 72 mortes entre turistas estrangeiros e membros das forças da ordem.

Forças de Segurança cercam museu na Tunísia após ataque de homens armados Foto: FETHI BELAID/AFP

Em março de 2016, dezenas de jihadistas atacaram as instalações de segurança de Ben Guerdane, no sul, matando 13 membros das forças de segurança e sete civis.

Problemas sociais

Em 2016, uma onda de protestos começou em Kasserine após a morte de um jovem desempregado, eletrocutado enquanto protestava contra sua retirada de uma lista de empregos. A raiva se espalha para várias regiões.

Desde 2018, o país vive um movimento rebelde agravado pela adoção de medidas de austeridade.

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No berço da Primavera Árabe, milhares tunisianos protestam contra reforma fiscal do presidente Beji Caid Essebsi Foto: AP Photo/Hassene Dridi

O marginalizado sul da Tunísia está desde então preso por confrontos entre forças de segurança e manifestantes.

Instabilidade política

Em 6 de outubro de 2019, o Ennahdha se tornou o grupo parlamentar majoritário nas terceiras eleições legislativas desde a revolução, mas com apenas um quarto dos assentos.

No dia 13, um professor universitário quase desconhecido no cenário político, Kais Saied, é eleito presidente.

Em 1º de setembro de 2020, os deputados aprovam um governo de tecnocratas, mas sem acabar com as tensões políticas.

Presidente atribui plenos poderes

Em 25 de julho de 2021, o presidente Saied anunciou a suspensão da atividade parlamentar por 30 dias e demitiu o primeiro-ministro, Hichem Mechichi, após um dia de protestos contra as autoridades do país.

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O presidente da Tunísia, Kais Saied, é celebrado por apoiadores após suspender atividades do Parlamento. Foto: Tunisianpresidency Facebook page via AFP

A medida desencadeia comemorações nas ruas da capital e de outras cidades, enquanto o Ennahdha a descreve como "um golpe contra a revolução e contra a Constituição"./ AFP

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