Cuba aumenta salário dos médicos em R$ 175 na tentativa de incentivar sua permanência no país

Segundo o vice-ministro da Saúde, incentivos salariais visam melhorar de forma abrangente as condições de vida dos médicos cubanos, mas remuneração ainda é vista como insuficiente na ilha

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Por Redação
Atualização:

Alexey López, um cardiologista de 59 anos que trabalha em um importante hospital de Havana, dorme “um pouco mais tranquilo” desde fevereiro, quando o governo começou a promover incentivos salariais para tentar reter seus trabalhadores da saúde.

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Este especialista, que atende pacientes em cuidados intensivos, é um dos mais de 400 mil médicos, enfermeiros e técnicos contemplados com estes incrementos salariais, que entraram em vigor no início de 2024.

Os incentivos são para plantões noturnos e de finais de semana, bem como por tempo de casa, por atuação em serviços especializados ou de risco e por assumir maiores cargas de trabalho por falta de funcionários.

Médicos leem o histórico médico de um paciente na sala de cardiologia do hospital Calixto Garcia, em Havana, em 12 de fevereiro de 2024. Foto: YAMIL LAGE / AFP

Isto “ajuda sobretudo a dormir um pouco mais tranquilo, que era o que havíamos perdido, o sono”, para poder enfrentar o alto custo do dia a dia, disse López à AFP, na UTI do hospital Calixto García, um dos mais prestigiados da ilha.

A renda mensal deste cardiologista passou de 6.500 pesos cubanos (R$269 ou US$54 na cotação atual) para 17.000 (R$701 reais ou US$141 dólares), segundo o preço oficial, mas são US$21 e US$56 dólares (R$104 e R$278) se levado em conta o valor da moeda nas ruas de Cuba.

O vice-ministro da Saúde, Luis Fernando Navarro, contou à AFP que esta medida visa “melhorar de forma abrangente as condições de vida dos trabalhadores”.

Custo de vida

Mas para a fisioterapeuta Amanda, os 1.400 pesos (R$23 reais) que recebeu sobre os 4.000 (R$66 reais) que ganhava mensalmente são insuficientes, o que a faz pensar que terá que “procurar outras opções que gerem renda” para sobreviver.

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Apesar da recente medida, López lamenta a falta de insumos e materiais de trabalho na rede de saúde, o que faz com que os médicos, muitas vezes, tenham que comprar seus próprios estetoscópios e outras ferramentas laborais.

Um médico passa por um pôster do falecido ditador cubano Fidel Castro em Havana, em 2 de fevereiro de 2024. Foto: YAMIL LAGE / AFP

A fuga de profissionais da área para o exterior também é uma preocupação. Para o cardiologista, os aumentos ainda não incentivam o retorno dos que emigraram e o melhor cenário seria se estes incentivos fossem aplicados diretamente nos salários dos funcionários de saúde para evitar perdê-los na aposentadoria ou nas férias.

Em meio a uma escalada inflacionária desde 2021, quando o governo aplicou uma reforma monetária que não teve os resultados esperados, um pacote de ovos pode custar até 3 mil pesos cubanos (R$50 reais), por exemplo.

O vice-ministro da Saúde admite que “talvez este aumento não seja o que pede o atual custo de vida em Cuba” devido ao aumento “permanente” dos preços, mas ressalta que o governo tem feito um esforço para destinar 26% dos gastos públicos à saúde em 2024.

Este setor é o segundo maior em Cuba, atrás apenas da Educação, que também se beneficiou de aumentos salariais.

Entre 2022 e 2023, mais de 40 mil profissionais da saúde abandonaram a profissão para assumir outros empregos melhor remunerados, ou emigraram, segundo dados do Ministério da Saúde.

Com estes estímulos, as autoridades conseguiram proporcionar um alívio aos médicos e professores, os dois “pilares” da Revolução Cubana, antes de implementar uma série de rígidas medidas econômicas anunciadas para 2024, entre as quais um aumento de 500% no preço dos combustíveis.

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Pessoas passam pela entrada do hospital Calixto Garcia, em Havana, em 12 de fevereiro de 2024. Foto: YAMIL LAGE / AFP

A prevenção continua sendo o principal trunfo do sistema de saúde cubano universal e gratuito, com 89 médicos por 10.000 habitantes e uma ampla rede de clínicas e consultórios por bairro.

O vice-ministro reconhece que há médicos “para garantir o funcionamento de 100%” das clínicas de bairro, mas “não tanto nos cuidados secundários” nos hospitais de especialidade “e nos cuidados terciários” nos centros de patologias complexas e de alta tecnologia.

A intensificação do embargo dos Estados Unidos contra a ilha, as fragilidades estruturais internas da economia cubana, as limitações de financiamento e o aumento do custo dos insumos no mercado internacional “têm feito com que o sistema (de saúde) funcione em condições de grande tensão”, acrescentou. /AFP

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