Debate na Argentina tem Bullrich como protagonista enquanto Milei recua e Massa leva duras críticas

Candidatos bucaram convencer os indecisos em debate marcado por ataques pessoais e duras

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Por Jorge C. Carrasco

A poucos dias do segundo turno das eleições e em meio a um cenário socioeconômico em ebulição, os cinco candidatos à presidência da Argentina trocaram duras críticas, momentos de tensão e até ataques pessoais no debate realizado nesta noite de domingo, 8, na faculdade de direito da Universidade de Buenos Aires.

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O segundo duelo entre os presidenciáveis contornou majoritariamente assuntos relacionados à economia, segurança e corrupção. Mas nesta ocasião, diferentemente do primeiro debate, o apelo ao emocional e a quebra da polarização Milei-Massa tiveram uma maior significância, segundo analistas políticos ouvidos pelo Estadão.

No saldo final, todos os ataques mais duros foram direcionados contra Sérgio Massa, quem como Ministro da Economia e representante do grupo peronista teve que defender um governo impopular marcado por uma inflação de níveis históricos. O ministro sofreu fundamentalmente seção “Trabalho e Produção”, que tornou-se o foco das críticas dos seus oponentes pela insatisfação generalizada com a gestão atual.

Os candidatos à presidência da Argentina Patricia Bullrich (à esq.), do partido Juntos por el Cambio, Javier Milei, do partido La Libertad Avanza, e Sergio Massa (à dir.), do partido Union por la Patria, se preparam para sair após o debate presidencial no Assembly Hall da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA), em Buenos Aires, em 8 de outubro de 2023. Foto: AGUSTIN MARCARIAN / AFP

A Argentina possui atualmente uma taxa de desemprego relativamente baixa em relação aos outros países da região (6,9%), contudo, os salário são cada vez mais insuficientes e a informalidade tem aumentado a níveis preocupantes. De acordo com dados do governo argentino, apenas 30% dos trabalhadores privados são assalariados com contrato no país vizinho.

Apesar do apoio do governo aos trabalhadores, toda ação para melhorar a situação geral da maioria dos cidadãos tem sido insuficiente, e a oposição critica o alto custo dos bônus e isenções fiscais para autônomos apresentadas por Massa devido a que, de acordo com eles, apenas têm piorado a situação do déficit fiscal do país.

Bullrich, por outro lado, foi a grande protagonista do debate. Com um discurso mais preciso, a candidata de Juntos por el Cambio ganhou visibilidade debatendo confortavelmente sobre o tema que domina (a segurança).

Para a cientista política argentina Paola Zuban, apesar de apresentarem uma imagem menos rígida e um pouco mais genuína, no debate deste domingo “predominaram mais as confrontações que as propostas”.

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“Cada um deles falou novamente ao seu núcleo duro de eleitores, que são os que assistem ao debate”, disse ela.

Já segundo o sociólogo argentino Carlos De Angelis, este debate pode ter um impacto também na atenção e no voto dos indecisos que, majoritariamente, podem ficar atraídos de forma natural pelos discursos opositores de Milei e de Bullrich.

“Neste sentido”, disse De Angelis, “Acredito que Bullrich recupera um pouco [de atenção dos eleitores] em relação àquela que havia perdido no primeiro debate. Ela ficou mais à ofensiva, tentando tomar iniciativa”, disse o sociólogo ao Estadão.

Para ele, ao reverter a imagem da semana anterior, Bullrich se posiciona novamente como uma opção sólida e ganha espaço entre os indecisos.

Por outro lado, de acordo com ele, Milei — que é o vencedor da PASO e favorito nas pesquisas para as eleições gerais — ficou apagado, em um segundo plano.

Milei pareceu recuar nas polêmicas que o tornaram conhecido internacionalmente, mas ainda com um tom de confronto, desqualificando o conhecimento de economia da candidata Frente de Izquierda Myriam Bregman, afirmando que as mudanças climáticas não foram causadas pelos seres humanos e qualificando o debate como “uma pantomima irritante”.

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