Diretora da Anistia Internacional na Ucrânia pede demissão após relatório crítico a Kiev

Material produzido pela ONG foi criticado por Zelenski, por acusar as forças ucranianas de expor civis a riscos ao instalarem bases militares em escolas, hospitais e áreas residenciais

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Por Redação

KIEV - A diretora da Anistia Internacional (AI) na Ucrânia, Oksana Pokalchuk, anunciou neste sábado, 6, seu pedido de demissão após a divulgação de um relatório da organização que acusa as forças armadas ucranianas de colocar civis em perigo ao utilizarem escolas, hospitais e residências como bases militares. O relatório foi duramente criticado pelas autoridades de Kiev, que acusaram a organização de fazer uma “falsa equivalência” de forças na guerra.

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Em um comunicado publicado em sua página no Facebook, Oksana lamenta a decisão e critica o fato de o relatório divulgado na última quinta-feira, 4, ter servido involuntariamente como “propaganda russa”. Na nota, a diretora afirma que “se você não mora em um país que foi invadido e está sendo destruído pelos invasores, não entende o que é condenar um exército de defensores”. Ela completa dizendo que “não há palavras em nenhum idioma que possam expressar essa dor”.

A Anistia indicou na sexta-feira, 5, que mantém plenamente o relatório duramente criticado pelas autoridades ucranianas. Em um e-mail à agência de notícias AFP, a secretária-geral da Anistia, Agnes Callamard, afirmou que “as conclusões são baseadas em evidências coletadas ao final de extensas investigações que seguiram os mesmos padrões rigorosos e diligentes aos quais todo o trabalho da Anistia Internacional é realizado”.

Civis em Toretsk caminham em meio prédios destruídos pela guerra na Ucrânia Foto: Bulent Kilic/AFP

Após a publicação do relatório na quinta-feira, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, acusou a ONG de defender o “Estado terrorista” russo e o ministro das relações exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, declarou que estava “indignado” com as acusações “injustas” da organização.

No comunicado em que anuncia a demissão, Oksana declara que tentou convencer a direção da AI de que o relatório era tendencioso e que não levava em consideração o ponto de vista do ministério ucraniano da defesa. Ela afirma ainda que a organização enviou um pedido ao ministério da defesa, mas que o tempo para uma resposta não foi suficiente. “Ao invés de ser um recurso para proteger civis”, ela escreveu na nota, “o documento acabou tornando-se uma arma para a propaganda russa.”

Oksana já tinha anunciado na sexta-feira que a AI ignorou seu pedido para que o relatório não fosse publicado.

Rússia celebrou relatório

O documento afirma que militares ucranianos colocaram civis em perigo ao estabelecer bases militares em áreas residenciais povoadas e iniciar ataques a partir de locais habitados para impedir a invasão russa. Segundo a Anistia, estas são práticas que violam o direito internacional humanitário.

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O relatório foi produzido com base em visitas de especialistas entre abril e junho em Kharkiv, Donbas e Mikolaiv. “A Anistia inspecionou locais de ataque, entrevistou sobreviventes, testemunhas e parentes de vítimas de ataques e realizou análises de sensoriamento remoto e armas”, diz o documento.

Por outro lado, o relatório reforça que as estratégias ucranianas “não justificam de forma alguma os ataques indiscriminados da Rússia” contra a população civil.

Autoridades russas e a mídia pró-Kremlin citaram amplamente o relatório após a sua divulgação, cujas descobertas se aproximam da narrativa oficial de Moscou. A Rússia justificou ataques a áreas civis alegando que combatentes ucranianos estão montando posições de tiro lá.

“Estamos falando sobre isso o tempo todo, chamando as ações das forças armadas da Ucrânia de táticas de usar a população civil como um ‘escudo humano’”, escreveu a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, no Telegram sobre o relatório./AFP

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