Documento liga Chávez e Farc a crimes

Arquivos resgatados de computador de guerrilheiro colombiano indica que Caracas teria pedido a morte de adversários políticos

PUBLICIDADE

Por NYT e AP
Atualização:

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), principal grupo rebelde do país, têm uma história complexa de colaboração com as autoridades venezuelanas e teriam treinado facções favoráveis a Caracas para ações de guerrilha com o objetivo de eliminar adversários do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O venezuelano teria ainda oferecido, em 2007 uma ajuda de US$ 300 milhões (R$ 483 milhões).A informação foi obtida depois de uma nova análise das comunicações internas do grupo. Os documentos, encontrados no computador do comandante do alto escalão das Farc, Raúl Reyes, morto em uma incursão em 2008, também mostram que a relação entre os rebeldes e Caracas, embora muitas vezes fosse de cooperação, também foi conturbada e até mesmo desonesta. A análise diz que as Farc serviram de milícia fantasma para o sistema de inteligência da Venezuela, embora não existam provas de que Chávez soubesse do pedidos para eliminar adversários políticos ou de que os pedidos tenham sido atendidos. Os documentos são parte do livro The Farc Files: Venezuela, Ecuador and the Secret Archives of Raúl Reyes ("Os arquivos das Farc: Venezuela, Equador e os arquivos secretos de Raúl Reyes", em tradução literal), lançado ontem pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em Londres. O livro aparece em uma fase delicada das relações entre as Farc e a Venezuela. Pela primeira vez, Chávez admitiu, no mês passado, que alguns dos seus aliados políticos colaboraram com rebeldes, mas insistiu que eles agiram sem o conhecimento de Caracas. O livro contradiz sua afirmação e diz que Chávez considerava as Farc "um aliado que manteria o poderio militar americano e colombiano na região preso a ações de contrainsurgência, contribuindo para reduzir as ameaças contra a Venezuela". O arquivo descreve uma reunião secreta, em 2000, entre Chávez e Reyes. O presidente teria concordado com um empréstimo para a guerrilha comprar armas. Em 2007, um dos líderes da guerrilha, Mono Jojoy, chama o venezuelano de "desonesto", por não ter cumprido a promessa de dar US$ 300 milhões para o grupo. O livro conta também que o grupo colombiano treinou várias organizações favoráveis a Chávez na Venezuela, incluindo as Forças Bolivarianas de Libertação (FBL), um misterioso grupo paramilitar que opera na fronteira com a Colômbia. As comunicações com as Farc discutiram o treinamento em métodos de terrorismo urbano para representantes do Partido Comunista Venezuelano e várias células radicais do bairro popular 23 de Enero, favela de Caracas que há muito tempo é um centro de atividades pró-Chávez. O livro diz que o governo teria pedido que os guerrilheiros eliminassem pelo menos dois adversários políticos. Em 2006, as Farc avaliaram um destes pedidos apresentado por um assessor de segurança de Ali Rodríguez, funcionário de alto escalão em Caracas. Segundo o arquivo, o assessor Julio Chirino pediu às Farc que eliminassem Henry López Sisco, que chefiou os serviços de inteligência venezuelanos na época do massacre de membros desarmados de um grupo subversivo em 1986. O livro afirma que não há provas de que as Farc tentaram atender o pedido antes de López Sisco deixar a Venezuela, em novembro de 2006. As relações entre a Venezuela e as Farc teriam esfriado depois da reaproximação de Caracas com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos.PARA LEMBRAREm 1.º de março de 2008, o Exército colombiano, sob ordens do então ministro da Defesa e atual presidente, Juan Manuel Santos, atacou um acampamento das Farc no Equador, matando Raúl Reyes, número 2 da guerrilha. A ação causou o rompimento dos laços entre os dois países. Na incursão colombiana, foram apreendidos computadores e documentos da guerrilha envolvendo os governos da Venezuela e do Equador. A decisão tomada por Bogotá de realizar um ataque além de suas fronteiras provocou ameaças de guerra do Equador e da Venezuela, que militarizaram as fronteiras.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.