The Economist: Empresas que se prepararam para um Brexit sem acordo adiam planos

Muitas empresas se planejaram para uma saída sem acordo, e tiveram de mudar de planos às pressas; Parlamento precisa “acabar com este circo”, diz um lobby empresarial

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Por The Economist
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Em 18 de maio de 1536, Ana Bolena, a segunda esposa de Henrique VIII, preparou-se para morrer. Sua execução na Torre de Londres estava marcada para as 9 horas da manhã. Mas a decapitação foi adiada, até que finalmente a rainha foi informada de que só iria morrer no dia seguinte. Não era “que ela desejasse a morte”, escreveu um cronista na época, "mas se achava preparada para morrer e temia que o atraso a enfraquecesse".

Jornais britânicos noticiaram que cresce a pressão pela renúncia de May Foto: EFE/EPA/NEIL HALL

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Empresas preparadas para um Brexit sem acordo podem ter empatia por ela. Aquelas com planos de contingência para 29 de março certamente se sentem aliviadas com o fato de o governo estar tentando estender as negociações do Artigo 50. Nove em cada dez empresas preferem uma extensão a sair, de acordo com a Confederação da Indústria Britânica (CBI), um grupo lobista. No entanto, a perspectiva de um pequeno atraso, sem nenhum plano novo para acertar um acordo, só traz a borda do penhasco para trás. As empresas que esperavam cancelar seus dispendiosos planos de uma saída sem acordo agora precisam refazê-los.

O governo certamente sente sua dor. Mandou que a Casa Real da Moeda criasse uma peça comemorativa de 50 centavos de libra do Brexit com a data de 29 de março; um teste das moedas já cunhadas terá que ser descartado. O Departamento de Transporte assinou contratos no valor de mais de 100 milhões de libras (US$ 132 milhões) com três companhias de transporte por balsa para oferecer serviços adicionais em caso de um não-acordo, para garantir que suprimentos vitais da Europa continuassem chegando. Alterar o contrato para manter o acordo em modo de espera por mais alguns meses custará dezenas de milhões aos contribuintes.

Algumas empresas estão tranquilas quanto a um atraso. A Majestic Wine disse em novembro que iria estocar entre 5 e 8 milhões de libras esterlinas em bebidas alcoólicas da UE para se proteger contra qualquer tipo de imprevisto nos portos. “Esta posição não mudou”, diz. Mas nem tudo envelhece tão bem quanto o vinho. O espaço de armazenamento refrigerado da Grã-Bretanha acabou há seis meses; as empresas que reservaram espaço em abril podem em breve estar se esforçando para ver se podem remarcá-lo para julho. Os donos de armazéns estão reportando uma onda de interesse para o segundo semestre do ano, o que está elevando os preços.

Para alguns fabricantes, é tarde demais para se reorganizar. A Honda e a Jaguar Land Rover programaram paralisações temporárias de suas fábricas de automóveis em abril, para ficar de fora das semanas difíceis após uma saída sem acordo. Os períodos de ociosidade devem prosseguir, mesmo que o Brexit esteja retardado. As empresas não disseram se vão fazer outra pausa na produção quando as negociações estiverem próximas do próximo prazo.

Jornais britânicos noticiaram que cresce a pressão pela renúncia de May Foto: EFE/EPA/FACUNDO ARRIZABALAGA

Muitas das empresas que têm estoques fizeram isso a crédito. Os empréstimos concedidos aos produtores estão subindo 20% ao ano, em comparação com 5% entre o total das empresas não financeiras. Quanto mais a incerteza continuar, mais esses empréstimos devem ter juros. Enquanto isso, os gastos de capital continuarão sendo adiados. Não é de admirar que a CBI tenha convocado o Parlamento a “parar com este circo”. /Tradução de Claudia Bozzo

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